1. A Noite Branca

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Mais um solstício de inverno tinha chegado. Os vilaneiros se dirigiam para seus respectivos lares após a missa, desejando boas festas uns para os outros. A tarde tinha sido mais curta e o céu começou a ficar obscurecido por nuvens cinzentas.

— Será que vai nevar? — uma menina perguntou empolgada para a avó, enquanto retornavam para casa.

A mulher sorriu e acariciou o cabelo castanho da criança.

— Muito provavelmente. Venha, vamos terminar de montar a mesa para o jantar.

A neta concordou animada. Ao chegarem na casa pequena, o clima era de aconchego; a família estava reunida, rindo e contando histórias. Quando a matriarca e a menina foram notadas pelos demais, uma das mulheres da família despontou da cozinha e pediu:

— Orsina, pegue água para mim na bomba lá fora, por favor.

— Sim, senhora!

Orsina foi em direção ao quintal dos fundos com um balde. Não era uma tarefa difícil e ela conhecia muito bem o processo. No entanto, quando tentou mover a alavanca pela primeira vez, parecia que ela estava travada. A garota respirou fundo e forçou mais um pouco, sem sucesso. Piscou inconformada com a situação e observou a bomba com atenção, procurando o motivo pelo qual não saía uma gota sequer.

Foi nesse momento que ela percebeu que tinha algo errado.

A base do metal estava cristalizada em gelo e a camada se estendia rapidamente, como se tivesse vida própria. A garota observou imóvel ao fenômeno, até que um vento mais frio começou a soprar, fazendo Orsina abraçar a si mesma e retornar para dentro.

Parecia que nenhum dos adultos tinha percebido o que estava acontecendo fora da casa, até que um trovão ressoou no horizonte, levando a avó a olhar pela janela.

— O que foi isso?

Atrás dos morros, luzes esverdeadas surgiam entre as nuvens, e as árvores começaram a se inclinar com a ventania, os galhos se estendendo na horizontal contra o formato natural de crescimento.

— Estranho... — a mulher resmungou.

— Vovó, acho que a bomba está congelada — Orsina contou frustrada à porta da cozinha.

A senhora escutou, mas permaneceu com os olhos atentos para o mundo do lado de fora, de sobrancelhas franzidas. Após alguns segundos, interrompeu a conversa no cômodo e mandou:

— Vamos para o porão.

— Por quê? — uma das filhas questionou sem entender.

Mais um trovão ressoou, estremecendo um pouco as paredes, fazendo as lâmpadas piscarem por um instante.

— Mau pressentimento, menina. Mau pressentimento...

***

— Hmm... Não é por nada, não, mas o cenário está bem diferente da última vez que passamos por aqui — o carbúnculo resmungou contra a rédea. — Certeza que pegamos o caminho certo?

— Sim — D respondeu inexpressivo.

Estavam no ponto alto de uma colina, uma mancha negra na vastidão branca que se estendia por todo o vale e seguia para o leste. Ainda estava escuro e não havia um som de animal sequer naquela manhã.

Charfundada numa camada de neve havia uma placa de madeira com as inscrições "bem-vindos a Monterionni".

— O que foi que aconteceu aqui? — o parasita estava desacreditado. — Os alpes ficam bem ao norte, será que deu a louca nos reguladores climáticos de novo? Essas porcarias sempre dão pane.

A Caçada SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora