3. Um Rastro de Morte

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D assistiu ao conflito às margens do rio de uma distância considerável. Pensou em intervir, mas quando apressou o cavalo para descer até o ponto em que o gelo se partia, ouviu o ronco profundo do veículo dos caçadores Le Fanu. Aquilo deveria ter pelo menos dois andares para ser tão monstruoso.

— E agora, o que a gente faz? — o parasita indagou quando o caos passou e o grupo se recolheu dentro da base. — Batemos na porta e oferecemos nossa ajuda?

D olhava para o fluxo d'água fazendo uma curva acentuada à direita e sumindo no cenário enevoado.

— Tenho outra ideia.

Guiou a montaria pela margem esquerda. O grupo de caçadores tinha ido embora assim que todos estavam a bordo, permitindo que o dhampir passasse pelo trecho do conflito sem ninguém questionar sua presença.

Conforme seguia por aquela rota, o caçador percebeu que era visível onde a tempestade havia se arrastado; a neve se tornava cada vez mais escassa em direção ao norte, além de árvores imperando sem nenhuma camada grosseira de gelo cobrindo suas bases, muito menos os troncos.

O rio desaguou num lago cercado por depressões de pedra. D desceu do cavalo e foi até a água, chafurdando as botas no cascalho úmido.

— O que você vai fazer? — o parasita indagou.

O homem continuou em silêncio, tentando distinguir o que estava imerso. A neblina e a mão tagarela atrapalhavam a tarefa.

— Oh... acho que entendi — o companheiro riu rouco. — Mas acho que a água está muito gelada...

D encolheu os ombros de forma sutil, deixando seus aparatos sobre uma pedra.

— Ah, qual é...

A mão não teve tempo para protestar; o dhampir mergulhou, ignorando plenamente a baixa temperatura graças à sua ascendência. Entre os galhos trazidos pela corrente, o caçador encontrou algo interessante mais no fundo: um corpo.

D puxou o indivíduo consigo, emergindo à margem. Em terra firme outra vez, a mão choramingou:

— Brrr, nem era sábado hoje.

— Quero que você me ajude a identificar — o caçador pediu como se nada tivesse acontecido.

O parasita resmungou, mas não demorou em colaborar; ele tinha um trabalho a fazer, e modéstia à parte — pensava —, ele fazia muito bem. Ficou mais protuberante na palma da mão do dhampir e encarou o cadáver com roupas de camponês. A expressão do rapaz era serena, se não fosse o aspecto moribundo poderia jurar que estava apenas desacordado.

O simbionte abriu a boca e aspirou o ar diante do rosto frio. Água, cascalho e uma espécie de miasma azulado foram sugados por ele, até que parou e ponderou por um momento.

— Então? — D questionou.

— Estranho... Deixa eu ver os dentes dele. — D moveu o lábio superior e eles notaram duas presas finas. — Ok, isso fica mais estranho ainda. Parece um pseudo vampiro. Mas não é.

D aguardou pela explicação sem se mover.

— Você sabe, para ser um pseudo vampiro a pessoa tem que ser mordida por um Nobre várias vezes, mas com a consumação interrompida no limiar de vida e morte. Só que esse aqui parece que teve que morrer primeiro para depois o corpo ser reanimado, entende o que digo?

— Necromancia?

— Provavelmente. E não é do tipo que humanos conseguem executar, mesmo com séculos de prática. Tinha muito mais mortos-vivos como ele perseguindo aqueles caçadores, o conjurador precisa de muito poder para manter tantos em pé.

A Caçada SelvagemOnde histórias criam vida. Descubra agora