2. Le Fanu

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Sobre uma campina congelada, um caçador encapuzado vagava, analisando os sinais que seu radar de mão indicava. Os bipes seguiam um ritmo longo e enfadonho, registrando nenhuma novidade.

— Jan, e aí? — uma voz feminina perguntou através do ponto que ele usava no ouvido.

— Apenas um monte de nada, Sofia — o rapaz bufou. — Que merda, não é como se eles tivessem sumido no ar... não é?

— Quem sabe. Estamos analisando a amostra daquela gosma verde que vocês acharam mais cedo. Se você não encontrar nada parecido, volte logo para cá. É um milagre nossa comunicação não ter sido cortada junto com a da vila.

Jan riu e colocou a mão livre na cintura.

— Mas a gente só consegue conversar entre si.

— Você entendeu, garoto — a mulher suspirou cansada. — Volte, pare de bancar o aventureiro. Chame Grigori.

— Sinceramente, às vezes você parece a minha mãe.

— не дай бог¹. — Ouviram a voz de Grigori vindo de outro ponto.

Jan riu.

— Só vou dar mais uma volta, apenas por desencargo de consciência. Aguentem aí.

Caminhou por mais alguns metros, olhando para a tela do radar, e o escaneamento continuava mais do mesmo; nada além de dezenas de camadas de gelo.

— Puta trabalho ingrato — resmungou sozinho. — Mal sinto os meus pés. Acho que até minha bunda está...

De repente, o aparelho fez um som diferente. Jan deu um pequeno salto e analisou a tela com ar inquisitivo. Percebeu um ponto fraco no canto direito e acionou a comunicação:

— Hm, acho que está ficando quente aqui.

— O que você achou, garoto? — Grigori questionou.

— Não sei ainda, pai. — Jan encolheu os ombros e foi na direção do sinal.

— Estou indo até você.

Os bipes intensificaram gradativamente, até que o ponto laranja estivesse nítido e quase centralizado no visor. Sem pestanejar, chamou:

Sonya, acho que encontrei algo.

— O quê?

Ele passou uma mecha de cabelo escuro para trás da orelha e sacou uma granada de água benta.

— Vou ver e te falo, chefia. Fiquem atentos.

Retirou o pino e lançou próximo à localização indicada. A pequena explosão ergueu uma nuvem de gelo e abriu um buraco largo o suficiente para Jan cavoucar com a mão.

— Bem, ninguém gritou — o caçador comentou. — É um começo...

Mal disse, sentiu tremores sob os pés. Em diversos pontos da área, mãos irromperam do solo e grunhidos começaram a ressoar numa balbúrdia cadavérica.

— Puta que pariu — Jan rosnou. — Cedo demais!

— Era para me esperar! — Grigori se irritou.

O rapaz rapidamente enfiou a mão no buraco e procurou pelo que tinha chamado a atenção do radar. Enquanto isso, cadáveres de camponeses ficavam em pé, com tendões e músculos azulados de hipotermia, rangendo os dentes.

Uma das criaturas avançou na direção do caçador esbaforido, quase não conseguindo sustentar o tronco sobre as pernas. No entanto, em dois estampidos ela tombou a cabeça de lado, perdendo a massa do pescoço. Jan ergueu o rosto para averiguar o que estava acontecendo e se deparou com Grigori de sobrancelhas franzidas.

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