Prólogo I

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A despedida
8 anos atrás

Ivy, 17 anos
Começo de dezembro
Washington - Estados Unidos

Não sei como dizer isso pra ele, eu passei a noite pensando e cada vez que eu penso sinto que não vou conseguir dizer.
Meus pais mandam em mim desde sempre, tudo bem isso acontecer as vezes, mas eles ignoram completamente qualquer coisa que venha de mim, como minha opinião por exemplo.
Já tentei fugir mas algo em mim me impede porque eu sei que seria errado, então eu continuo apenas existindo e obedecendo.

São oito horas e o Harry está quase chegando, meus pais sempre conseguem o que querem no final então tanto faz. Meu namorado não é o cara mais legal do mundo, na verdade algumas pessoas tem medo dele. Os pais dele são conhecidos como más pessoas mas sempre são tão educados comigo que eu acho que isso é só fofoca.

Eu e Harry namoramos a um ano e desde que nos conhecemos nós nos tornamos inseparáveis. Ele tem uma irmã mais nova e por eu ser filha única considero ela como minha irmã também. Passaríamos o natal juntos se não fosse pelo que eu devo fazer agora.

- Oi honey. - Harry fala parado na porta do meu pequeno quarto.

- Ah, oi. - eu continuo sentada na beira da cama, minha mala de viagem pronta. - Eu preciso falar com você.

- Tudo bem, pode falar. - ele sorri enquanto caminha até a cama.

- Eu vou passar as férias viajando. Vou passar o natal na praia. - eu o olho esperando uma reação. - Eu sei que não foi o planejado e eu queria muito falar com sua mãe mas não posso.

- Você nem gosta de praia. - ele fala triste quando eu me levanto para acabar de fechar a mala. Não posso ficar olhando pra ele.

- É, você tem razão, mas talvez isso mude. - a frase saindo mais ríspida do que eu pensei faz ele se levantar.

- Você me ligou dizendo que precisávamos ter uma conversa séria, eu estou aqui. Eu te conheço bem o suficiente pra saber que tem algo muito errado então, é só me falar.

O jeito que ele diz e a forma que o silêncio seguinte me atinge deixa tudo ainda mais pesado.

- Ivy fala de uma vez. - o olhar dele fixo em mim, talvez preocupação. Não seria medo, ele não tem medo de quase nada.

- Bem, você sabe como as coisas funcionam aqui... - descobri que não tem como tentar falar de outra forma. - ...você sabe como eles são, todos eles, você sabe.

Me sentei de novo, dessa vez ele se senta ao meu lado e eu nem consigo olhar pra ele. Vai ser mais difícil do que eu pensei.

- Harry você precisa ir embora, nós não podemos continuar com isso. Eu te amo, eu amo tanto. Você merece alguém que possa lutar por você. - as lágrimas que começam a surgir fazem eu me odiar por não ser tão forte, forte como ele. - Por favor, eu não posso fazer nada, eu não posso nem tentar eu só, só preciso que você vá.

- Você não pode deixar sua família manipuladora mandar na sua vida pra sempre.  - ele começa devagar, o olhar pesado sobre mim. - Ivy eu não suportaria a ideia de ter que ir embora, não posso te perder e você sabe disso. Por favor, você sabe que está enganada, não tem nem dois minutos que você disse que me ama. Nós não conseguiremos fazer isso.

Cada palavra que ele fala só faz eu me sentir pior. Espero realmente nunca me casar pra viver como minha família e eu nunca vou entender a obsessão deles por controlar tudo.

- Nós tínhamos tantos planos, meus pais ainda acham que você vai passar o Natal com a gente, depois da escola você voltaria pra Londres comigo... - Me perco entre as frases dele enquanto ele anda de um lado pro outro. Não sei no que me concentrar.

- Harry eu não vou lutar, você sabe que eu não vou vencer isso, por favor para de falar, você só precisa ir embora. - eu continuo sentada sem me importar com as lágrimas.

Ele se ajoelha na minha frente, limpando minhas lágrimas, seu rosto calmo. Assim que o encarei não contive o impulso de abraçá-lo. Era o abraço dele que me acalmava mas agora eu só consigo chorar, chorar porque eu estraguei tudo, chorar porque não queria magoá-lo assim. Eu não queria estar assim pela última vez com ele, mas ele é o motivo disso.

Com cuidado Harry me afasta dele pra me olhar e pela primeira vez, desde que começamos essa conversa, eu realmente o encaro. As lágrimas nunca param.

- Você não precisa fazer isso, não precisa chorar por mim, eu entendi e já estou indo. - Ele fala se afastando e sai sem olhar para trás. Não sei como vai ser daqui pra frente. O céu claro e uma viajem jamais vão me fazer esquecer isso.

Uma Noite em Londres Onde histórias criam vida. Descubra agora