Emily Johnson
Conhecimento é poder.Era isso o que me lembrava de ler em algum livro didático da época do colegial aos meus quinze anos, idade essa onde são cobradas de você coisas como: Futuro.
Palavra simples, resultado complexo.
Eu não entendia ainda o significado da palavra conhecimento, simplesmente pelo fato de não tê-lo totalmente, mas algo eu sabia, o Poder era a minha maior ambição.
Minha doce e pequena Eu não se surpreenderia se me encontrasse agora, aos vinte e oito anos, segurando uma taça de vinho enquanto leio um bom livro em minha própria casa. Sabia desde aquele tempo que se desejasse algo, certamente conseguiria.
Mal sabia eu que este futuro me serviria tão bem, era o que ela diria para mim. Naquele dia, há exatos treze anos atrás, uma decisão recém tomada seria o combustível necessário para o foguete que decolaria em direção a ele:Futuro,
Meu Futuro,
Como minha mãe costumava dizer:
Meu Brilhante Futuro.
Mas, há um motivo para jamais se contar toda a verdade para uma criança. E agora eu o entendo.
- A pequena e doce Emily me esmagaria se estivesse aqui, agora.- Sussurrei após fechar o livro no balcão.
Tomo mais um gole de vinho e abandono a taça em busca do motivo que me fizera procurá-la, a realidade voltou a pesar em meus ombros.
Meus olhos se fixam na direção das folhas de jornal jogadas na mesa de centro, sabia exatamente onde estavam pois não havia tirado o olho delas nos últimos trinta dias.
A manchete estampada logo na primeira página fez meu ego se contorcer pela milésima vez ao ver meu nome em algo tão destruidor.
Emily Johnson é detida após invasão de propriedade.
Uma Investigadora Criminal no ápice de sua carreira, um salário alto e com uma quantidade agradável de zeros no cheque, o que eu tinha antes de tudo acontecer, um sonho de consumo que se desfez num piscar de olhos, ou melhor, de tiros.
Foram 2 tiros atingindo o tórax e o abdômen de Calton Bianchini no dia 6 de julho às 19:32h dentro de uma das suítes do Motel Marsalles, na Califórnia, à queima roupa.
Sem testemunhas. Era o que diziam, pelo menos, mas eu sabia o que aquilo era, silêncio comprado. E para toda compra, há um patrocinador...Leonel Kavanni é vítima de abuso de autoridade de Investigadora Criminal.
Minha intuição era forte o bastante para saber que, de vítima, aquele playboy não tinha nada nessa história.
Minhas provas? Roubadas do meu celular através de invasão de software, rápida e eficaz.
As imagens das câmeras de segurança do Motel? Alteradas, de maneira que eu só sabia distinguir pois já tinha visto as originais.
Minha única testemunha não me diria mais nada, afinal, Leonel fez questão de cuidar pessoalmente da "segurança" dela, o cárcere que ele a aprisionava disfarçado de proteção.
E foi assim que minha reputação estava manchada, toda a armação era homogênea, sem furos, sem brechas, sem chance de escapar do pior, detenção. E a melhor solução encontrada para evitar a prisão, o afastamento de cargo sem prazo de validade.
O gosto amargo do fim se fez presente naquele dia, de lá para cá as coisas retrocederam, menos o arrependimento.
Dessa vez eu tinha conhecimento de coisas que ninguém acreditaria, mas no mundo judicial, sua palavra não é suficiente sem ao mínimo uma prova. O que me faz pensar...O que é o Conhecimento sem
Poder, afinal?Eu mesma, neste exato instante.
Trinta dias se passaram, de Investigadora Criminal eu retrocedi para Assistente Administrativa da L&D, transporte de carros de luxo. O salário compensava o trabalho de analisar e configurar todas as planilhas de entrada e saídas de carros, clientes Vip, vagas disponíveis e pilhas de documentos para carimbar a cada conclusão de serviço.Eu mal tinha chegado e já não via a hora de sair dalí.
Deixo o jornal cair das minhas mãos e retorno ao vinho como refúgio de todas as mágoas dos últimos tempos, ao verificar o relógio percebo que em algumas horas já devo estar de pé para voltar para meu novo emprego. Bufo, meus olhos nem que ser começaram a pesar, contradizo minha vontade de terminar a garrafa e me arrasto até o quarto, apagando todas luzes até chegar lá pois, agora, devo me preocupar mais com as contas de eletricidade.
Futuro.
Palavra simples, resultado imprevisível.
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Doce Conquista - Série Irmãos Kavanni (1)
RomanceUma investigadora criminal é vítima de uma armação misteriosa contra sua carreira durante a análise de um suposto assassinato, onde, do dia para a noite, além de perder seu cargo para o distrito policial, ela perde sua valiosa reputação pela cidade...