Assombrados pelo inesperado.

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Assim que o vigia avistou o carro ao longe, gritou para que os homens de baixo abrissem o portão. O automóvel adentrou o local e Jimin saiu as pressas, procurando com os olhos no pátio até achar Namjoon.

— Namjoon, vem comigo. — sinalizou com o dedo para o homem, que imediatamente obedeceu, mas não antes de manter seu olhar por alguns segundos em Jungkook, que se levantava do banco traseiro.

Os dois homens sumiram adentro, no mesmo momento que Jin corria em direção ao irmão, com o rosto retorcido em preocupação.

— Como você tá? O que aconteceu? Por que Jimin tá assim? Eu disse que não era uma boa ideia, porra, você nunca me escuta. — questionou, enquanto checava se o corpo de Jungkook estava inteiro.

— Definitivamente não foi uma boa ideia, mas acho que não sou a maior preocupação dele agora. — comentou, desviando das mãos nervosas do irmão. — Para com isso.

— Não seja ingrato, eu tava mesmo preocupado. — deu um tapinha na cabeça do caçula. — Então... Qual a maior preocupação dele?

— Não sei se posso dizer...

— Ah, então agora você se preocupa com o que não pode fazer?! — exclamou Jin, meio alto demais o que deixou Jungkook um pouco nervoso.

Já não sentia que as pessoas do abrigo simpatizavam muito consigo, se soubessem com propriedade que não era exatamente um bom partido para estar lá dentro, teriam razão em lhe olhar feio. Por isso os olhares tiveram um peso maior dessa vez. Jungkook sabia que merecia ser julgado agora.

— Vamos entrar. — falou, olhando para seus pés ao caminhar.

A escola só havia uma entrada na frente, em compensação às inúmeras janelas espalhadas pela construção. E mesmo sendo enorme, Jungkook desejou ter mais espaço para passar pois parecia que todos os moradores decidiram se reunir ali. Havia até mesmo um garotinho de mãos dadas com uma mulher, o que foi uma surpresa já que não sabia que existiam crianças mais novas que Chenle vivendo no refúgio.

Por um segundo, achou que ia chorar. Pois o menino o olhava e Jungkook nunca pensou que, com tão pouca idade, já poderia manter um olhar tão maduro. Não havia o brilho infantil. Isso o apavorou mais que a maioria dos mortos-vivos que já tinha visto em sua frente. Ele devia ter no máximo nove anos, provavelmente sete quando o fim do mundo deu início. Pela sua mente, passou a imagem infeliz de uma criança brincando no parque enquanto um andante espreitava sua infância.

Antes mesmo de decidir um noivado, ele e Jimin já haviam conversado sobre filhos. Pensaram em suas preparações para isso, seus tempos livres e, até mesmo, chegaram a pesquisar sobre o sistema de adoção para famílias LGBT's na Coréia. Não seria fácil, mas o amor sempre foi o mantra encorajador deles. Eles conseguiriam passar por qualquer coisa se tivessem um ao outro.

Se, no atual presente, os mortos dominassem o mundo eles já poderiam estar casados pela lei. Talvez já teriam ganhado o direito sobre uma criança. Poderia ser seu filho ali, segurando sua mão, com esse olhar.

Mas isso não lhe fez só nostálgico mas também pensativo. Culpado. Aquela criança era tão forte quanto parecia? Ela se esconderia no porta-malas de um carro? Desobedeceria por não confiar na capacidade do chefe?

Vergonha. Jungkook deu mais trabalho que uma criança.

Sua cabeça se manteve ocupada durante todo o percurso até seu quarto e Seokjin, notando isso, decidiu deixar suas perguntas para depois. Mesmo que encarasse, extremamente curioso, o caminho silencioso até a sala de Jimin.

— Nenhum conhecido? — perguntou Namjoon, caminhando de um lado para o outro na frente de Jimin, que descansava o cotovelo em um dos braços da cadeira.

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