Poisonous

11

Aspen

Meu cabelo húmido molha a camiseta de Blaise que ficou larga em mim. A bainha termina no meio das minhas coxas escondendo a maior parte dos shorts que estou usando.

Felizmente sempre carrego um extra comigo.

Mas quando me olho num dos espelho do vestuário não gosto do que vejo. Não pelo visual embora não gostasse que minhas pernas ficassem muito a mostra mas o que está por dentro.

Eu consigo ver perfeitamente a Aspen de minutos atrás, a Aspen humilhada e destratada por todos, a Aspen infeliz, a Aspen que terá que se submeter para o resto da sua vida.

Suspiro baixo. As palavras de Blaise me aterrorizavam e de certa forma fazem todo o sentido. Eu não sou o tipo de pessoa que faz a diferença, que se impõe pelos seus conceitos e ideais e que faz frente.

Eu não sou o tipo de pessoa que algum dia terá o mundo nas suas mãos. Eu almejo uma vida boa mas eu sou o tipo de pessoa que vai continuar lutando dia após dia e no final, nunca irá alcançar o que quer.

O tipo de pessoa que no final do dia vai se perguntar "o que eu fiz para merecer tanta miséria"?

Solto outro suspiro. É melhor eu me apressar, Sterling daqui a pouco entra aqui que nem furacão.

Recolho minhas coisas e penso no que faço com as roupas sujas, aquilo não poderá mais ser recuperado. Droga, era meu sueter favorito.

Enfio tudo numa sacola e antes de sair, volto a me olhar no espelho.

Quando é que isso se tornou normal?

Paciência é uma coisa que Sterling nunca ouviu falar, antes mesmo que eu saísse da escola para encontrar-lo no estacionamento assim como ele mandou, o imbecil já tinha me enviado uma mensagem.

Desconhecido: se você não aparecer agora, eu vou aí e te arrasto pelo cabelo

Reviro os olhos bloqueando a tela. Espero que ele exploda.

Que droga, nem sei porque estou fazendo isso. Poderia perfeitamente dar o pé daqui e esperar que ele me encontrasse no buraco que eu fosse me esconder. Pelo menos teria um pouco mais de tempo sem olhar na cara dele.

Inspiro o ar fresco que bate em mim assim que saio do colégio, naquele horário havia poucas pessoas ali mas as poucas que estão não medem esforços em me encarar.

Ótimo.

Vejo o ônibus escolar pronto para partir e quero correr para pegá-lo, mas sei que Blaise estava de olho em mim. E quando olho para o lado oposto, encontro especificamente seus olhos de predador.

Que saco.

- Aonde vamos? - pergunto impaciênte enquanto me aproximo de Blaise que estava de braços cruzados encostado no capô do seu carro.

Ele não me responde, apenas me olha e eu reparo quando desce para minhas pernas nuas parando um tempo ali.

- Belas pernas. - comenta sorrindo de lado.

- Cala a boca. - sou corajosa ao ponto de dizer isso e entro no carro batendo a porta.

Sterling continua lá fora por algum tempo e reparo que ele está rindo. Quando ele me olha sobre os ombros, eu desvio os olhos para a janela de cara fechada e braços cruzados.

Eu odeio tanto ele.

Blaise entra no carro a seguir.

- Não vai responder minha pergunta?

- Você não agradeceu ao meu elogio.

- Aquilo não foi um elogio. - digo entredentes. - você só estava sendo o pervertido de merda que é.