Capítulo 18: Solidão

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A luz da lua banhava a encosta de rochas alvas, revelando linhas que se cruzaram em padrões geométricos prateados, deixando possível enxergar a porta do que seria um domínio. Este emergiu como uma assombração translúcida, os portões robustos com glifos antigos talhados em seu contorno. Os dois saltaram do topo da colina no vazio, e, com um movimento rápido, como se o céu fosse extensão da terra, deslizaram porta adentro do domínio.

Os Adepti sentiram como se tivessem mergulhado em um lago de águas escuras, onde não é possível ver o fundo. Gradativamente, enquanto desciam mais e mais, o ar foi tornando-se pesado, pressionando e apertando seus corpos. Quando finalmente passaram pela zona escura, o espaço dentro do domínio era amplo, um céu verde moribundo impregnava a paisagem a perder de vista. A lua estava no céu como uma mancha vermelha, opaca, sua luz parecia refletida através de um vidro fosco antes de alcançar as entranhas daquele ambiente. Pedaços de construções antigas flutuavam congeladas no tempo, árvores enormes de raízes longas e profundas emergiam do breu mais obscuro do fundo do domínio e alcançavam o topo com seus galhos retorcidos sem folhas.

Os dois imortais alcançaram solo firme em uma ilha flutuante. A altura de vários objetos mentia a profundidade e distância, pois uma fina camada de neblina encobria as superfícies, como um véu mortuário que encobre a face de um cadáver.

- Ele nos deixou entrar, mas ainda assim está escondendo sua verdadeira natureza. Provavelmente quer nos pegar de surpresa. - A advertência de Alatus foi pontual, era possível sentir o grande acúmulo de energias e sensações impregnando o ambiente. Ainda assim, não conseguiam direcionar sua percepção para quem criou aquele espaço.

- Só dá pra saber o que é quando ele resolver lutar. Espírito, entidade, Adeptus decadente, ele não ia nos deixar entrar para não nos recepcionar com algo. Seria o pior tipo de anfitrião que já tivemos.

As provocações do ruivo ressoaram no interior do local, sendo rebatidas de volta. Um arrepio percorreu a espinha de Alatus num pressentimento e ele guiou o olhar em reflexo, observando o vazio ao lado do irmão, notando ali um contorno se mover discretamente, quase imperceptível. Precisou apenas de uma troca de olhares, seus orbes dourados encontrando os verde água de seu irmão mais novo para avisar do perigo iminente.

Algo invisível ao olho comum se moveu rapidamente e não acertou os dois irmãos pois desviaram no último instante, saltando para longe, cada um para uma ilha próxima. CiCi encarou fixamente e suas pupilas se dilataram em um losango. A energia adeptal se concentrou na área da íris e os contornos, antes imperceptíveis, se revelaram no que parecia uma corrente com uma esfera na ponta. Esta que girou no próprio eixo e runas antigas brilharam, o som do tilintar metálico ecoando e gradativamente várias correntes foram tomando forma, como uma trama complexa que envolvia todo o espaço em volta dos dois.

- Agora sim parece uma verdadeira festa de boas vindas. - O ruivo desenhou um sorriso confiante e, com um mover de dedos, invocou sua lança em mãos. As correntes começaram a se mover em determinado ritmo como uma dança, num novo estalo, aceleraram a se aproximaram, cortando as rochas e construções no caminho, tendo como alvo os dois imortais.

Alatus plantou os pés no chão e, com um gesto de dedos, empunhou sua lança quando a primeira corrente se aproximou. O adeptus apertou a arma em mãos, girou os calcanhares e toda a força do corpo partiu daquele ponto, como um rio furioso que seguia seu leito até explodir na ponta de seus dedos e ser transferido para sua arma. O impacto fez a corrente ricochetear e se chocar contra outras, que ainda se moviam dentro do espaço, distorcendo o ritmo dos ataques. CiCi se desviava dos avanços inimigos, saltando e deslizando no ar como uma flecha, enquanto as trama de correntes se cruzavam. Ele se aproximou do irmão, unindo costas a costas, e juntos moveram suas armas no mesmo ritmo, repelindo um a um dos ataques até que só restasse uma única pedra flutuante onde estavam em pé e nenhuma corrente.

O Bater das Asas DouradasOnde histórias criam vida. Descubra agora