Capítulo 12: Oscilação

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O sentimento era tal qual estar perdido em um eterno bambuzal, os pensamentos eram as longas hastes esverdeadas cujo o topo era inalcançável, não havia direção certa para seguir, apenas o mais profundo verde a perder de vista, sem rumo e sem resposta. Normalmente a mente do jovem Adeptus trabalhava em cima de seus objetivos principais: aprimorar suas habilidades e eliminar o maior número de criaturas vis que pudesse, mas, naqueles dias, em específico, Alatus vivia em constante perturbação. Tentava não deixar transparecer mantendo a mesma expressão impassível de sempre. No entanto, suas inquietações silenciosas eram facilmente percebidas pelo olhar atento de CiCi, e, diferente da inconveniência costumeira seu irmão mais novo, decidiu, daquela vez, nada comentar: O que servia apenas para alimentar aquela tremulação que tinha se instaurado no mais velho.

E mesmo que o Adeptus quisesse evitar refletir, ocupando-se em seus afazeres e estudos costumeiros, o incômodo crescia com a antecipação das festividades humanas. Não era algo ruim, certamente não, e talvez isso que o inquietasse ainda mais, perceber que estava ansioso por algo tão banal.

Sentia-se bobo.

Os dias passaram e o festival ao qual concordou em comparecer tinha chegado. Não sabia exatamente o que esperar de diferente, teria comida, muitos mortais juntos, e entre eles o humano chamado Zou, a quem devia proteção e cuidado pelo pedido feito da pequena Luo. Um desejo vago, mas honesto e puro, vindo do coração de uma criança que queria proteger seu único parente vivo, seu precioso vínculo, e que para todos os fins, Alatus tinha aceitado cumprir. O suspiro pesaroso só não foi mais significativo porque o som do risinho do ruivo, logo em seguida, tomava todo o espaço no pequeno cômodo em que viviam:

— O que seria tão engraçado, para está tão risonho, CiCi?

— Eu tenho um riso fácil, não é como se isso fosse inesperado nas minhas feições — o mais jovem se esquivou de responder imediatamente, cruzando o espaço com uma caixa de madeira com adornos de pássaros em mãos: — No entanto, você não está mais suspirante que o de costume? Se é que essa palavra existe.

— Existe. — Alatus respondeu seco e direto: — Mas não faz sentido usar comigo, eu não ando "murmurando" conversas pelos cantos. Muito menos, converso com alguma implicação "poética".

— Ah, irmão! Às vezes você transcende os limites de compreensão de uma simples gracinha. — CiCi desenhou um sorriso divertido nos lábios enquanto abria a caixa adornada, deixando o perfume se alastrar no ar, revelando um conjunto de tintas, maquiagens e cosméticos feitos pelo próprio Adeptus — Não vai se arrumar pro Festival?

O Adeptus mais velho franziu as sobrancelhas e soltou o ar pelas narinas, era o sinal de aborrecimento mais fácil de reconhecer no outro. Alatus espiou da caixa para o irmão mais novo, que habilmente deslizava o pincel no pigmento carmesim para em seguida desenhar sobre uma das pálpebras fechadas, uma linha longa e charmosa, enquanto via a própria imagem refletida num espelho.

— Não é como se maquiagem fosse me deixar mais... amigável?! — O mais velho cruzou os braços, e encarou qualquer outro ponto da casa, sentindo a tremulação dos pensamentos voltar.

— Não seja bobo, Alatus. — CiCi teve de afastar o pincel do rosto um momento para rir abertamente: — Nós somos gêmeos[24], caso você tenha esquecido o fato, e sem nenhuma modéstia eu posso dizer que sou bonito, principalmente maquiado. Logo, meu querido Alatus... seria impossível que você fosse feio.

O mais novo falou com a simplicidade e a leveza de sempre, como se nada no mundo fosse capaz de tirá-lo daquele estado de calmaria e riso fácil. Alatus não tinha a mesma postura que CiCi, muito menos um humor semelhante, eram como óleo e água, embora idênticos de feitio, seus trejeitos eram quase o oposto completo um do outro. Alatus deixou o ar escapar em outro suspiro longo, quase como se estivesse soprando todo aborrecimento para fora, estava enfadado de estar cheio de pensamentos o tempo todo. Buscou sentar-se ao lado de CiCi, para que fosse devidamente arrumado pelo mais novo.

O Bater das Asas DouradasOnde histórias criam vida. Descubra agora