Capítulo 14: Inquietação

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Os dias não foram mais os mesmos, muito embora o número de criaturas sombrias aumentasse gradativamente, com o enfrentamento constante entre deuses por território. Para além das lutas, os dias de Alatus eventualmente eram salteados com temperos diferentes do gosto típico de ferrugem. O mortal de quem tinha prometido cuidar, e a quem tinha dado permissão para usar seu nome quando precisasse, de fato passou a lhe chamar. Na primeira vez, o jovem Adeptus chegou rapidamente, acreditando que havia perigo e o outro necessitaria de sua força quando, em verdade, os chamados geralmente eram convites para uma refeição farta.

O Adeptus estranhou, mas todas as vezes que foi chamado, cumpriu com sua palavra de ir. Independente de serem dias chuvosos, ou de sol escaldante, nem quando a camada de neve se acumulou até alcançar o peitoril das janelas das casas da vila. Alatus assistiu os dias passarem e a pequena Lou, não poder ser mais chamada assim por ter passado sua altura, e acumular mais livros do que caberia em uma pequena casa de madeira nas montanhas, fazendo-a buscar a sua própria casa em outra vila, nas planícies de Guili. Os anos também refinaram as habilidades de Zou na cozinha, as pessoas viajavam de muito longe para apreciar sua culinária. Entre rondas longas contendo o avanço de monstros, ou caçadas extensas subindo a colina atrás de demônios, Alatus teve a companhia não só de seu irmão CiCi, como também pode dividir tempo e refeições com Zou quando era chamado à vila humana.

Em algum ponto daquelas décadas a fama do mortal como mestre cozinheiro o fez viajar pela terra dos monólitos, e não houve nenhum chamado. Dias. Semanas. Anos.

Os sabores que Alatus tinha recebido e que o tinham preenchido de calmaria, agora viviam em sua memória, como uma doce recordação. Afinal, o adeptus também estava plenamente ocupado, não tinha sido apenas a fama do mortal a crescer e se estender para além daquelas montanhas. Os feitos dos irmãos adepti não tinha passado despercebido, e mesmo que o monte Qingce e a colina Wuwang fossem num dos pontos extremos do território de Liyue, os escritores, poetas e contadores de história narravam o ímpeto voraz das bestas míticas que ali viviam.

As habilidades dos irmãos se refinaram, as capacidades para: rastrear, identificar e abater monstros ficou mais afiada, tal qual as armas que carregavam. Embora Alatus não fosse o mais conversador entre os dois, CiCi notava como os breves anos de convivência perto dos mortais tinham aprimorado as capacidades de seu irmão mais velho de instruir e explicar o que pensava. Não tinha dissolvido sua introspecção, mas agora aparentava ter aprendido a administrá-la melhor. CiCi sabia que mesmo que o outro não pusesse em palavras ditas, de vez em quando o pegava buscando pescar vozes no vento, e sabia exatamente qual voz ele estava esperando ouvir.

Numa das muitas noites de céu tempestuoso onde a lua se escondia atrás de uma grossa camada de nuvens negras, os irmãos adepti seguiam sorrateiros fora da trilha de terra para mais uma ronda no pé da montanha junto ao leito do rio Bishui. O vento seguia agitado e ríspido, como era o comum naqueles dias, as estrelas não eram mais visíveis, e o constante conflito entre deuses tinha manchado os céus e os deixado cinza. Até que uma lufada de vento estranha acertou os dois adepti, as folhas pairando no ar trouxeram muito mais do que somente o vento úmido do rio.

"Alatus"

O Adeptus se virou de pronto, a expressão surpresa e alerta, Cici o encarou apreensivo, olhou em volta e respirou fundo, não identificando nenhum cheiro de perigo, então questionou diretamente o mais velho:

- O que houve? Qual é o perigo?

Antes que o mais velho pudesse responder outra corrente de vento acertou bem na altura do rosto do Imortal, lançando suas mechas turquesas no ar:

"Adeptus Alatus"

- Ele me chamou...! - foi tudo que conseguiu responder, sua mente ainda assimilando a realização do que estava correndo.

O Bater das Asas DouradasOnde histórias criam vida. Descubra agora