Entre seus dedos

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Estou caindo...

Rápido.

Meu primeiro instinto é gritar e apertar os olhos, mas meu corpo me poupa o esforço e eu acordo assustada com minha respiração descompassada e vigorosa no peito.

Soltando um suspiro profundo de alívio, reconheço aos poucos onde estava à medida que meus olhos vasculhavam avidamente o ambiente familiar, apesar do escuro. E estava a ponto de me fundir ao corpo de Mon, precisando da segurança que apenas ela poderia me dar, quando sinto, mais do que vejo, que ela não estava mais na cama.

A falta do seu calor contra o meu e os seus braços longe da minha cintura são indícios suficientes de que ela não estava aqui do meu lado.

Franzo o cenho, incomodada. Tento voltar a dormir, pensando na importante reunião que tinha amanhã cedo na empresa, mas meu coração ainda batia acelerado demais. Acabo forçando minha cabeça a descansar no travesseiro que eu agora apertava firmemente contra o peito.

Minhas costas nuas, agora protegidas apenas pelo fino lençol, evidenciavam os arrepios em minha pele devido ao frio do quarto. Então viro para um lado. Depois para o outro. Me cubro mais um pouco e me forço a fazer exercícios mentais para tentar trazer o sono de volta.

Mas eu sabia que tudo isso seria inútil. Não conseguia mais dormir sem ela.

Suspiro e decido ir procurá-la, mas antes levanto meus olhos para conferir no relógio da cômoda o horário.

02h20 am.

Deslizo as pernas para fora da cama e meus pés tocam o chão gelado enquanto ainda mantinha meus dedos firmes no lençol que me cobria. E estava quase alcançando a porta quando vejo meu roupão de seda dobrado no estofado da poltrona, minha última lembrança dele sendo a forma como fora tirado vigorosamente do meu corpo mais cedo.

Sorrio e vou até a cadeira, estendendo a peça na minha frente para que pudesse vestir o tecido depressa. Assim que amarro a faixa firmemente na cintura, passo uma mão por meus cabelos, tentando domar a selvageria deles, e avanço finalmente pela porta semi aberta do quarto.

Não via qualquer luz acesa na casa. Por isso paro por um momento, buscando por sinais do caminho que deveria seguir.

É assim que, quando fecho os olhos, ouço um som baixo de violão ressoando pelo corredor. Andando lentamente, tento não fazer barulho à medida que descia as escadas e me aproximava do andar de baixo, agora iluminado por luzes de velas por todos os lados.

E o que vejo quando alcanço a sala me faz parar instantaneamente. Simplesmente perco o fôlego em deslumbre.

Mon estava virada em direção ao grande vitral, o que a permitia observar o espetáculo que era a piscina à noite sob as luzes artificiais do lado de fora, e tudo fazia parte de uma das cenas mais inexplicavelmente belas que eu já vira. Tudo parecia praticamente honrar a presença dela no centro daquela imagem.

Suas costas delicadas estavam expostas e destacavam-se pelo modelo revelador da blusa que usava. E ela parecia alheia ao resto do mundo enquanto segurava seu violão à medida que criava acordes em arranjos bonitos.

Desde que eu soube que ela gostava de tocar, fiz questão de providenciar o melhor instrumento que ela poderia ter, também ansiosa e encantada com a ideia de vê-la se perdendo em meio à uma paixão sua. Por isso estava hipnotizada pela forma como os seus músculos flexionavam-se com os movimentos que fazia e observava seus cabelos caindo na direção em que inclinava ligeiramente a cabeça.

Eu estava bebendo daquela imagem.

Me recostando na parede mais próxima, cruzo os braços atrás do meu corpo e decido ficar algum tempo assim, não querendo de forma alguma atrapalhar aquele momento. Enquanto isso, me contento em analisar a forma como ela deslizava a mão pelo braço do violão com calma e precisão, ou na maneira como suas pernas dobravam-se sob seu corpo para apoiá-la sobre o encosto do enorme sofá cinza.

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