Mon
Eu mal conseguia respirar.
Sentia a frequência violenta dos meus batimentos cardíacos contra o peito, e a necessidade de repor o ar ardia em meu corpo, mas eu não conseguia expandir meus pulmões o suficiente. Minhas mãos trêmulas tentavam girar a torneira da pia no que parecia um esforço inútil uma vez que minha visão também começava a embaçar.
Conhecia bem essa reação, era familiar à ela, embora nunca estivesse de fato preparada para enfrentá-la. Fazia um bom tempo desde a última crise, no entanto, mas podia ver que algo assim aconteceria mais cedo ou mais tarde... Minha ansiedade recente com o que poderia estar acontecendo com meu pai estava acabando comigo, assim como o ritmo frenético de trabalho que me obriguei a cumprir para tentar desviar minha crescente preocupação para outro lugar.
Levanto a cabeça e encaro meu reflexo no banheiro da empresa. Meus olhos vermelhos, peito ofegante e cabelo bagunçado explicitavam escancaradamente meu estado desanimador.
Eu tinha acabado de fazer o relatório das vendas do nosso mais novo projeto e estava prestes a seguir para o escritório de Sam quando pensamentos acelerados começaram a nublar minha mente, me fazendo perder a minha descontração inicial. Cenários estranhos invadiram minha mente e fui dominada por esse sentimento inquietante, que se enraizava e instalava inconvenientemente.
- Mon? Ei, o que está acontecendo?
Yah, minha colega, pergunta ao tentar abrir a porta que eu havia trancado. Ela havia notado o modo como eu mudara meu trajeto e expressão, saindo num rompante da sala que dividíamos com os outros.
Eu sabia que ela viria me conferir.
Busco um pouco mais de ar e respondo, ainda quase sem fôlego.
- Está tudo bem, eu só preciso ficar mais um tempo aqui. - Meus olhos começam a lacrimejar. Eu não tinha qualquer controle sobre elas. - Só preciso ficar longe daquele barulho todo... Minha cabeça dói.
Ouço seu suspiro e de alguma maneira eu sei que ela percebe que havia algo errado.
- Você não quer que eu fique aí com você?
Pergunta prontamente, forçando mais uma vez o trinco.
Olho para baixo, ponderando. Normalmente eu colocaria para fora o que me atormentava, mas não era o que eu queria dessa vez. Preferiria lidar com isso sozinha.
- Não é necessário, minha amiga. Vou ficar bem. Você pode ir descansar, teve um longo dia hoje.
Sei que esta não era a resposta que ela esperava ouvir, mas ela respeitaria minha decisão.
- Se precisar de mim, sabe que estarei aqui por você. Estou indo pra casa, mas sabe que não moro longe... Qualquer coisa, me ligue.
Escuto ela se afastando da porta e a tensão me faz exalar. Me apoiando na quina da pia, cubro meu rosto com as mãos e fecho os olhos fortemente, tentando buscar distrações para o ardor que sentia por todas as partes do meu corpo.
E é assim que penso imediatamente em Sam.
Lembro das várias vezes que conversamos sobre honestidade e o quanto ela queria me dar o apoio que eu precisava. Na verdade, ela vem sendo a única fonte de conforto em meio a esse caos que tenho vivido, seu carinho, cuidado e atenção comigo definitivamente tendo amenizado os efeitos da notícia que vinha me corroendo há algumas semanas.
Meu pai não estava bem.
Sei que ele tenta me convencer do contrário nas ligações diárias que trocamos, mas eu sentia o quanto estava tentando ser forte por mim.
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Amar Você
Hayran KurguSam não consegue mais disfarçar o que sente por Mon, sua linda e doce funcionária, e se vê encurralada diante de sua paixão.