Amar Você

A Melhor Parte de Mim

Sam

Desvio os olhos da tela do computador e levanto a cabeça na direção que sabia que a encontraria. Através da persiana aberta do meu escritório consigo observá-la, e a respiração que estava prestes a tomar fica presa em minha garganta.

Tamborilo os dedos na madeira da minha mesa, sentindo meu coração idiota começar a saltar em um ritmo frenético sob meu peito ao admirar seu perfil.

Isso se repetia mais do que eu gostaria de admitir.

Meus olhos passeiam por cada milímetro dela, mapeando à distância a sua beleza simétrica, delicada e impossível de ser ignorada.

Ela parecia um anjo. E eu... Eu estava presa em seu feitiço. Viciada.

Mas, tão contraditório quanto isso possa soar, ela era também o meu inferno pessoal.

Desde o dia em que pisara nesse escritório como minha nova funcionária, eu já não poderia dizer que eu era eu mesma. Não me sentia mais como dona das minhas vontades porque, de alguma forma, a opinião de Mon se tornou mais importante para mim.

E, de maneira igualmente inexplicável, ela também parecia nutrir certa admiração por mim.

Mon era a única que não parecia me temer naquele escritório. Era a única que ousava me encarar enquanto eu deliberava palavras de ordem em meio à uma desorganização generalizada no espaço. Era ela que se encarregava de me atualizar mensalmente das pendências do grupo, tarefa essa que eu sabia ser fervorosamente evitada por qualquer outra pessoa nessa empresa.

E era também a única que eu permitia que me tratasse como bem quisesse, com toda sua confiança, segurança e...magnetismo.

Eu não conseguia entender.

Tentei me convencer de que poderia estar meramente satisfeita com o seu excelente trabalho aqui. Mesmo tão jovem, era notável o quanto era determinada e inteligente, esperta o bastante para convencer até mesmo a mim sobre certos pontos que eu honestamente julgava adequados para a campanha que estávamos desenvolvendo.

Mas eu sabia que não poderia ser apenas isso.

Comecei a perceber que suas ideias, profissionalmente falando, já não eram o suficiente para mim. Passei a querer também seus pensamentos, os mais pessoais, sua atenção, suas palavras atrevidas e o seu olhar admirado em minha direção. E eu queria tudo para mim, tanto que começava a me sentir cada vez mais doente com isso. Por isso.

Ainda assim, ao mesmo tempo em que racionalmente entendia que deveria fugir do que sentia, eu desesperadamente queria e precisava de mais. E já não sabia como manter minha fachada impenetrável perto dela.

Solto um longo suspiro, sustentando um pouco mais o olhar sobre seu rosto concentrado antes de fechar os olhos e me recostar na cadeira.

Eu já não conseguia enganar a mim mesma.

Eu a queria.

Eu a queria e ela era a primeira pessoa a quebrar a barreira que eu cuidadosamente criara ao redor do meu coração por anos. Eu definitivamente não esperava, sequer pensava que isso fosse possível, ainda mais que fosse me sentir assim por uma mulher.

Uma mulher mais jovem e completamente diferente de mim.

Para ser honesta, eu não esperava que eu fosse capaz de sentir o que eu estava sentindo. Não depois de viver o que eu vivi, ou de ver o que pessoas próximas foram capazes de fazer por amor ao serem levadas a trilhar um caminho impiedoso direcionadas por esse sentimento.

E eu não queria isso para mim. Queria ser livre, independente e adotar a versão mais fria que eu pudesse para que não tivesse que me sujeitar a certas situações... Era por tudo isso que eu não entendia como aquela menina tinha sido capaz de se enveredar por caminhos que eu sequer sabia que existiam em meu coração.