01 |  cartas de corações

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Depois de terminar de enfeitar a padaria, eu paro em frente à caixa de papelão com os enfeites que sobraram. Não foi muita coisa, apenas alguns anjinhos segurando arcos e flechas de papel e alguns corações vermelhos pequenos que eu não sabia mais onde colocar. Meus pais pediram para eu decorar o local em comemoração ao Dia dos Namorados e cá estou eu.

Passei a tarde toda em casa e, quando finalmente terminei, consegui pegar meu celular para retornar a chamada de Alya. Combinamos de nos encontrarmos com as meninas do nosso antigo grupo da escola.

- Me desculpe, acabei de terminar aqui. Não estou no caixa hoje, então chego aí rápido! - deixo a mensagem na caixa postal. Combinamos como ponto de encontro a casa de Mylène, mas o sinal do celular lá é meio complicado.

Deixo o avental sobre o balcão da cozinha e me despeço dos meus pais. Subo as escadas que levam ao andar de cima da padaria, onde moramos, visto um agasalho e pego meu capacete e a chave da minha moto. Desço o mais rápido que posso, já estou atrasada o suficiente.

Apesar de saber que minha casa não está muito distante da dela e que provavelmente eu levaria pelo menos 20 minutos para chegar lá, decido arriscar e pegar um atalho. Para minha sorte, Paris não está tão movimentada nesta hora e acabo chegando antes do tempo previsto.

Desligo minha moto e prendo o capacete no guidão, antes de me dirigir à porta da casa e tocar a campainha. Não demora muito para alguém me atender, e é Rose quem aparece. Cumprimento-a e entro na casa, pendurando meu casaco no cabideiro.

As garotas estão todas juntas na sala, exceto Mylène, que está na cozinha preparando seus deliciosos muffins para nossa noite das meninas, onde falamos especialmente de garotos. Alya convocou essa reunião de emergência para ajudar-me a conquistar Adrien Agreste até o tão esperado Dia dos Namorados, que é no próximo sábado.

De acordo com minha melhor amiga, todos têm um parceiro, exceto eu. Embora eu tenha namorado Luka, o irmão mais velho de Juleka, percebi que nossa relação funcionava melhor como amizade. Mylène está em um relacionamento com Ivan desde o ensino fundamental e não se separam até agora. Juleka e Rose finalmente assumiram seu namoro. Alya e Nino têm uma relação um tanto que complicada, mas por enquanto estão firmes. Faz tempo que não vemos Alex, ela tem viajado muito para diferentes países e, por isso, só a encontramos em aniversários ou no Natal.

─ 💘 ─

Acordo com meu habitual despertador marcando 6:20 ou era o que eu esperava. Na verdade, é minha mãe quem está me acordando, me mostrando o horário para perguntar se eu não iria me atrasar, olho para o relógio são 7:10, coço o olho e pego meu celular, estou atrasada mesmo. Levanto correndo vestindo a roupa da faculdade por cima do pijama, coloco a mochila nas costas e desço a escada para o primeiro andar. Coloco o capacete e guardo minha marmita na bolsa, deixo um beijo na bochecha de minha mãe e saio de casa.

Meu plano se inicia hoje, decidi fazer algo discreto e simples para começar. Me lembrei dos corações de papel que sobraram da decoração da padaria e decidi usá-los. Quando cheguei na faculdade, vi que o campus do curso de moda estava vazio, como de costume às segundas-feiras. Guardei meus materiais no armário e segui em direção aos armários do curso de cinema, onde ficava o armário de Adrien. Passei por três corredores antes de chegar lá.

Peguei a cola que havia guardado na bolsa e coloquei na parte de trás do primeiro coração, fixando-o no cadeado do armário de Adrien. Uma onda de preocupação e ansiedade tomou conta de mim. Será que eu estaria me entregando a uma situação humilhante por fazer isso? Tudo isso por uma carta? Os corações são uma forma de chamar a atenção de Adrien, já que ele costumava passar direto pelo armário sem nem mesmo tocá-lo.

Já tinha usado metade dos corações - não eram tantos - quando o sinal soou pelos corredores, agora com algumas pessoas que me olhavam feio. O elas têm? Nunca viram uma menina tentando se declarar de uma forma estupida?

Adrien sempre chegava ao seu campus no horário do segundo sinal, o qual avisava o começo do dia letivo. Sei exatamente quanto tempo tenho e de quanto preciso. Jogo a carta pela fresta do armário e corro para me esconder quando vejo fios loiros virando o corredor.

Fico atrás de uma pilastra quando percebo que o garoto passou direto do seu armário, ele para por um instante e se vira contando as pilastras que passou, me escondo rápido atrás da grande coluna branca. Ele olha as chaves do armário e confere o número dele por ali "709".

Escuto seus passos retornando seu caminho e tenho a visão perfeita dele parado em frente ao seu armário. Um sorriso surge em seus lábios e posso jurar que perco o ar. Ele abre o armário e a carta caí aos seus pés.

Ele se abaixa como se estivesse em sua coroação e então agarra o papel em seus pés. Não fiz muita serenata quanto a isso, apenas dobrei o papel como um origami de coração.

Vejo ele lendo e seu sorriso aumenta. Escrevi um poema sobre o que sinto por ele e sei que ele gosta de ler, seria a combinação perfeita já que não sou boa com palavras na frente dele.

Seus olhos ao longe se estreitam, ele revira o pedaço de papel e procura por algo em sua volta, ou melhor, alguém. E então me lembro, merda, eu não assinei.

𝐂𝐔𝐏𝐈𝐃𝐎𝐍, adrinetteOnde histórias criam vida. Descubra agora