03 |  curado internamente

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Adrien sempre teve problemas com o pai, e isso não é novidade. Gabriel Agreste é um estilista renomado que perdeu a esposa há 7 anos, e quem é próximo de seu único filho sabe que eles se afastaram.

Com o passar do tempo e o crescimento da nossa amizade, eu e Adrien nos aproximamos muito mais. A faculdade teve um papel importante nisso, já que sempre nos encontrávamos nos nossos intervalos.

Eu sei quando Adrien não se sente bem; ele sempre evita ir a lugares desnecessários e não aparece nas aulas extras, como hoje, por exemplo. E já imagino o motivo. Ontem foi o desfile de inauguração da nova coleção da marca Agreste, e Adrien teve que desfilar.

O garoto, mesmo não querendo seguir essa carreira, ainda tinha que modelar para o pai em troca de poder ir para a faculdade que tanto desejava. Hoje, decidi passar um pouco do tempo com ele. Mesmo que não mudasse nada entre nós, eu queria que ele se distraísse um pouco do que está o chateando.

─ 💘 ─

O primeiro sinal tocou em todo o campus, indicando o fim do primeiro período de aulas. Agora era uma questão de encontrar Adrien, o que não seria muito complicado, mas ele decidiu desaparecer. Andei por toda a universidade, ele não estava em lugar nenhum. Não pode ter ido muito longe.

Como as aulas só voltam às 14h00, passei no meu armário para deixar o material e fui direto para o parque mais próximo. Adrien costuma ficar lá quando está ansioso, e sim, lá está ele. Me aproximo e sento ao seu lado sem muita cerimônia. Eu e Adrien também funcionamos sem palavras; conseguimos buscar conforto um no outro assim.

Ele já percebeu que sou eu quem está ao seu lado, mesmo sem olhar para mim, por isso sua postura está mais relaxada desde que cheguei. Nossos celulares vibram nos bolsos, um toque conhecido. André e seu carrinho de sorvetes foram encontrados.

Mostro o celular para ele e aceno com a cabeça, esperando sua resposta. Ele acena de volta para mim, e nos levantamos em silêncio, saindo do parque. André está perto da Torre Eiffel. Não é uma caminhada muito longa, e o silêncio entre nós é estranhamente reconfortante.

O dia está nublado e úmido, um sinal de que choveu a noite toda. Sinto um frio percorrer minha pele. Adrien percebe, porque agora está me olhando com as sobrancelhas levemente franzidas.

- Pega. - ele está estendendo a jaqueta que nem percebi que havia tirado - Não estou com tanto frio, parece que você precisa mais do que eu.

- Obrigada - digo simplesmente, mas estou internamente grata por isso. Sinto que me arrepiei ainda mais ao vestir a jaqueta, que está quente por ter sido usada por ele agora pouco.

Em pouco tempo avistamos André, e nos aproximamos dele, passando por um casal apaixonado que está compartilhando um sorvete. O sorveteiro tem esse efeito, seus gelados podem fazer qualquer um se apaixonar.

Não estou aqui com Adrien por causa disso, só quero fazê-lo se sentir um pouco melhor. O tempo em Paris não está muito estável ultimamente, e mesmo que pareça estar frio, o sol está brilhando com força em nossas cabeças. A chuva de ontem à noite serviu apenas para esfriar os ventos.

- Olá, Marinette! Adrien! Como vai o meu jovem casal? - ele diz isso com tanta naturalidade que sinto minhas bochechas esquentarem - O que os traz aqui?

- O especial do dia. - Adrien responde antes que eu tenha a chance de abrir a minha boca. Ele faz um sinal com a mão que não entendo, então deixo para lá. André acena simples com a cabeça e começa a preparar nossos sorvetes.

- Aqui está! - ele entrega para mim, e vejo que Adrien pega a carteira. Percebo que ele vai pagar, então, antes que ele entregue o dinheiro, tomo a palavra.

- Não, deixa que eu pago a minha parte, e você ainda não pediu o seu sorvete.

- Vamos dividir, joaninha! - ele sorri de canto, deixando-me um pouco nervosa. Começamos a caminhar novamente em silêncio, uma ótima tática para eu não estragar tudo com minha gagueira.

Nos sentamos em um banco parecido com o que estávamos no parque, mas agora estamos olhando para o horizonte. O sorvete tem dois sabores diferentes: morango e menta. São nossos favoritos, e André é um conhecedor e tanto.

Quando terminamos, me levanto para jogar os restos na lixeira mais próxima. Olho para onde estávamos nos aproximando e vejo que o loiro tem um sorriso divertido nos lábios.

- O que aconteceu? - pergunto soltando um riso nasal e me sento ao seu lado.

- Está sujo aqui... - ele aproxima sua mão do meu rosto e a passa levemente na minha bochecha, tirando o pouco de sorvete que ficou ali. Sinto minhas bochechas corarem e desvio meu rosto em uma tentativa falha de esconder isso de Agreste.

As coisas aconteceram muito rápido hoje, nada do que eu havia esperado, mas estou feliz por passar essa tarde com Adrien.

𝐂𝐔𝐏𝐈𝐃𝐎𝐍, adrinetteOnde histórias criam vida. Descubra agora