Capítulo 11 - A revelação

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Uma tarde, ela esqueceu a bolsa em cima do sofá com o zíper aberto, seus documentos não estavam ali, porém seu cartão de saúde sim e tinha seu dados, ES - Leilah Pinar, natural de Inglaterra e sua data de nascimento.

Tarik ficou olhando sério para o cartão de saúde, até que ela pressentiu o silencio ameaçador vindo da sala. Foi até lá e viu o cartão na mãe dele.  Olhando-a perguntou: - você é inglesa?

Ela sentiu sua cabeça girar, seu estomago revirar, suas mãos e pernas tremeram. Balançou a cabeça confirmando, mas afirmou que foi criada em Istambul desde os 3 anos. Ele disse que agora entendeu porque não quis casar-se com ele, porque não falou a verdade.

Irritada ela falou que não teria feito diferença se ele soubesse. Não estariam casados do mesmo jeito. Ele não a aceitaria. E foi terminar o jantar, mas estava descontrolada, chorou, temeu perdê-lo.

Avisou que o jantar estava pronto, percebeu que continuava sentado no sofá, imóvel, olhos perdidos, subiu para arrumar suas coisas. Deu graças ter trazido algumas peças, iria chamar um taxi e voltar para o apartamento. Assim que fechou a mala ele surgiu perguntando o que estava fazendo, não iria a lugar algum, desculpou-se por seu comportamento e disse que a amava, fosse inglesa ou turca. Tanto faz!

Nunca haviam brigado, não seria agora que aconteceria. Foram jantar juntos, mas o ambiente estava pesado, as palavras não ditas estavam presente. Comeram em silêncio, arrumaram a cozinha e ela subiu para trabalhar. Ficou até tarde na frente do computador. O trabalho ajudaria acalmá-la, fechou seu sistema de empresas quando estava muito cansada e dormiu em cima do teclado. 

Tarik foi buscá-la e a levou no colo tomando cuidados para não acordá-la. Havia levado um susto, mas a amava muito, estavam juntos. Mas passou a noite em claro pensando em como seria daqui pra frente. Haveria casamento? Ele não admitia interferencias em sua vida, mas será que estaria preparado para romper com sua familia definitivamente? Não, lógico que não.

Ao acordar, ela não se lembrava como chegou na cama, ouviu uma voz doce dizendo Bom dia! Esboçou um sorriso e também disse Bom dia.

Ele se aproximou e a beijou, abraçou e logo estavam em chamas nos braços um do outro, se amando como se o mundo fosse acabar. Tomaram banho e foram tomar o desjejum. Ele foi trabalhar.

Sobre Tarik

Seu relacionamento com a mãe nunca foi normal, não recebia nenhum carinho, quando criança enquanto seus irmãos podiam brincar, ele, o caçula tinha que limpar a casa, preparar almoço e jantar, arrumar cozinha, lavar roupas, limpar quintal.  Era observador e notou que parecia com seu pai e irmãos porém sua pele era mais morena que a deles. Não tinham nenhum traço que identificasse sua mãe.

Um domingo, único dia da semana em que podia brincar com seus irmãos e primos, ouviu a conversa de duas senhoras da vila. Disfarçou para que não parassem o diálogo. - Notou como o menino do Nihat, tem o rosto delicado, é mais bonito que os meninos da Cansu. Uma perguntou pra outra - quem será a mãe dele? ouviu dizerem: - Cansu desconfia que é alguma mulher de perto porque fazendo a contagem do tempo esse menino foi concebido no tempo em que Nihat ainda não viajava com caminhão, trabalhava aqui mesmo em Istambul. A mãe dele deve ser  alguma dessas cidadãs do mundo e riram.

O pai era todo orgulhoso de seus três filhos. Mostrava para quem quisesse ver que  tinham o sinal  que identificava que eram de sua família. Pegava o primeiro filho que passasse, abaixava o short para exibir a pinta. Toda vez que fazia isto, no dia seguinte quando saia para trabalhar, Tarik apanhava muito da mãe. Todos sabiam que Cansu espancava o garoto, menos seu pai.

A alegria do menino era ficar doente, nesta ocasião sua mãe o tratava com carinho e o deixava descansar, até permitia que ele comesse sobremesa.   Ele aprendeu a sonhar para esquecer a realidade. Sempre foi inteligente, sagaz, aprendia na escola só em assistir as aulas,  não tinha tempo de estudar em casa. Suas notas eram sempre as melhores, quando seu boletim chegava e apresentava aos pais, sua mãe odiava os elogios que o pai lhe fazia. No dia seguinte, quando ele saísse para o trabalho, receberia os parabéns dela em forma de pancadas.





LEILAH e  TARIKOnde histórias criam vida. Descubra agora