Capítulo dois

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Mesmo não precisando, Bakugou acordou cedo. Ele havia adquirido o costume de se exercitar pela manhã, uma forma de lidar com a raiva sem precisar de medicamentos. Ele desceu as escadas, tentando não fazer barulho, pegou sua garrafa de água e saiu de casa. Havia uma ciclovia que contornava quase todo o bairro e ele sempre corria ali e depois ia até a academia ao ar livre que tinha na praça.

O céu, naquele dia, estava escurecido por nuvens cinzentas e, mesmo o vento não estando forte, Bakugou sabia que choveria antes mesmo que pudesse chegar até a escola a pé. Ele se sentou em um dos bancos da praça e bebeu um gole de sua garrafa de água. Olhou o relógio no braço e suspirou. Ainda tinha um bom tempo livre pra voltar para casa, tomar um banho e sair com seu carro.

Ele olhou para baixo, observando algumas formigas andarem em fileira para dentro de um pequeno formigueiro. Não queria voltar pra casa, pro mesmo ambiente estressante que sua mãe. Por mais que a amasse, sabia que ela não concordava com o fato dele não tomar seus medicamentos de forma correta e aquilo só os faria brigar. Seu pai, por outro lado, sempre se mantinha neutro, talvez pra não incomodar a mulher, talvez para não chatear seu filho.

De qualquer forma, não importava. Teria que nascer um novo ser humano que o obrigasse a tomar seus remédios e que ele acatasse a ordem.

Katsuki então começou a pensar no trabalho que faria com Uraraka e seu coração saltou quase que automaticamente. Do jeito que a garota era, tinha certeza que Ochako transformaria o conto em um romance adocicado e ele não sabia se estava preparado pra viver uma história de amor fictícia com aquela garota. Iria se esforçar ao máximo, claro. Nunca havia tirado uma única nota ruim em toda sua vida e não seria daquela vez que isso iria acontecer.

Bakugou sentiu quando as primeiras gotas de chuva caíram sobre si e aquele era o aviso claro para ir embora. Se levantou e começou a fazer a rota de volta para casa, não aumentando as passadas, deixando que os chuviscos molhassem seu cabelo.

Quando finalmente chegou, subiu para seu quarto e tomou um banho morno. Saiu do banheiro e colocou seu uniforme, pegando a bolsa e jogando por cima do ombro. Ele desceu as escadas e, quando estava prestes a sair pela porta e ir pegar seu carro, sua mãe apareceu na sala com uma xícara de café e seu robe vermelho, o encarando com a sobrancelha arqueada.

- Tomou seu remédio, Katsuki?

- Não enche, velha.

Ele revirou os olhos e ela cruzou os braços.

- Ou você toma aquela merda, ou não sai daqui. É simples.

- Quero ver você me impedir.

Ele olhou para o chaveiro e não encontrou a chave do seu SUV. Ele a olhou novamente e a viu balançar as chaves de seu carro, mostrando quem detinha o poder naquele momento. Bakugou bufou, irritado e abriu a porta, saindo de casa mesmo em meio a chuva e indo procurar o ponto do ônibus escolar.

Sua relação com sua mãe nunca foi boa. Talvez pelos dois compartilharem dos mesmos problemas com a raiva e nunca terem se tratado como mãe e filho, respectivamente. Masaru era o único meio pacífico daquela casa e, quando não estava, Mitsuki e Bakugou faltavam se matar. Ele era desrespeitoso com sua própria mãe e ela o tratava como se fosse a pior coisa que já havia feito na terra. Tirando todo aquele rancor infundado que um sentia pelo outro, ainda havia a preocupação e o amor, por mais que ele fosse raro e quase nunca demonstrado.

Bakugou se sentou no banco protegido e acendeu um cigarro, balançando a perna freneticamente enquanto tragava o filtro. Só queria ter um dia pacífico para não precisar descontar em ninguém suas frustrações, mas era sempre a mesma coisa.

Sobre ele não tomar seus remédios? Era por pura má vontade. Ele não queria ser visto como um doente. Katsuki queria melhorar por si mesmo e não porque um par de comprimidos estavam mexendo com seu sistema nervoso e o controlando, além dos efeitos colaterais que seus remédios causavam em si.

A chapeuzinho e o lobo mauOnde histórias criam vida. Descubra agora