Ela lembrava com perfeição daquele dia, quando tudo começou, mesmo que não parecesse, aquilo tudo tinha começado de forma rápida e abrupta, uma manhã de terça-feira chuvosa e escura, ela lembrava de pensar no cheiro da chuva e da terra molhada, vir para a casa da sua avó era como estar conectada com a natureza de uma forma surreal, era como se ela sentisse a chuva em seu corpo mesmo estando sentanda em uma poltrona de camurça em um tom verde-escuro, uma manta leve em tons de bege e uma xicara de chá enquanto olhava pela janela, o cheiro do almoço que vinha da cozinha era ótimo, mesmo que fosse ainda cedo e tivesse acabado de comer panquecas com mel. Sua mente estava relaxa e por conta disso demorou para registrar a sombra enorme entre as arvores que estava parada a alguns metros da janela, e demorou mais tempo ainda para notar os brilhantes olhos violetas que fitava ela da floresta chuvosa, por um momento fiquei parada apenas olhando, tentei pensar racionalmente no que poderia ser aquela coisa, mas dentro de mim eu sabia que não era algo que eu já tenha visto ou alguma coisa natural, meu braço se arrepiou quando deixei a manta cair e lentamente coloquei minhas pernas para baixo e levantei da poltrona, o chão de madeira era frio ao toque e aquilo me fez ficar mais algum tempo parada, dei o primeiro passo e podia sentir a criatura rosnar ainda com os olhos fixos em mim, quando coloquei a xicara na mesinha que tinha ao lado da poltrona o barulho foi mais alto do que imaginei e o susto fez com que eu desviasse meus olhos para baixo aonde minha mão ainda segurava a haste da xicara, meu coração acelerou com o barulho e por um momento ri de mim mesma por me assustar por algo tão bobo, mas tudo foi em segundos já que minha mente lembrou o motivo de ter se levantando e meus olhos voltaram rápidos para a janela se arregalando quando não encontrou nada, andei apressada para os lado da janela tentando ver o máximo do lado de fora, estava quase abrindo ela e colocando a cabeça para fora quando a porta da casa foi aberta e eu me assustei olhando para meu avô que ria de mim enquanto tirava entrava com uma caixa embaixo do braço. -
- Desculpe te assustar querida, a chuva lá fora está bem forte. - Disse já indo para a cozinha.
Fui para a porta abrindo e olhando novamente para os lado, mas não vi nada que não deveria estar lá, a capa e botas de chuvas do meu avô estava do lado de fora, e por um momento pensei em como não vi ele chegando ali.
- Anelise, pode me ajudar aqui? - A voz da minha vó veio da cozinha.
- Já estou indo. - Fechei a porta novamente tentando me convencer que eu estava vendo coisas e fui pelo corredor em direção da cozinha que ficava nos fundos da casa.
- Pode me ajudar cortando os legumes. - Minha vó sorriu para mim apontando uma pequena pilha de legumes que já estava lavados.
- Claro, cadê o vovô?
- Foi tomar um banho, a chuva esta fria, logo ele vem ajudar também. - Seus olhos foram para a escada que ficava no corredor um pouco antes da entrada da cozinha.
- Ok. - Falei-me concentrando na minha tarefa.
O tempo passou rápido e vovô apareceu para ajudar a terminar os legumes, e como isso se iniciou uma aposta silenciosa de quem descascava e cortava mais rápido e claro com uma larga vantagem eu ganhei, e com isso o almoço foi preparada, um caldo verde com bastante legumes, carne assada e pão fresco, comemos a mesa.
- Ficamos felizes de saber que vinha passar o verão conosco querida, faziam tanto tempo que não vinha. - Minha vó era uma vó em todos os aspectos, cabelos grisalhos presos em uma coque, olhos azuis e gentis e um sorriso calmo.
- Verdade, fazia tempo, mas eu queria vir um pouco e sair da loucura que é a cidade. - Eu tinha agora dezessete anos e pela primeira vez pude escolher aonde passar o verão e grande foi a surpresa do meu pai quando falei que queria ir para a floresta com minha vó Iolanda e vô Abiel.
Eles eram os pais da minha mãe que faleceu a cerca de dez anos, eu era pequena e lembro de muito pouco, e meu pai sempre se negava falar do assunto dizendo que aquele dia foi horrível e que ele estava feliz que eu estava bem, pelo que eu entendi ela sofreu um acidente e de carro e eu estava junto, os médico nunca souberam explicar porque eu sobrevivi.
- E como está seu pai? - Os olhos castanhos do meu avô me fitaram, seus cabelos de um ruivo intenso mostrava de onde vinha meus proprios cabelos ruivos, ele era alto e forte, fazendo que minha vó ficasse pequena perto dele.
- Acho que está bem, ele nunca fala muito sobre nada comigo, a não ser que ele trabalha bastante em uma empresa de segurança e está sempre viajando.
- Dei de ombros comendo um pedaço de pão, falar sobre como era a convivência com meu pai era difícil, ele era uma pessoa difícil, com seus quarenta e poucos anos ele alcançou seu objetivo profissional e estabilidade financeira, tínhamos uma vida de classe média alta, mas isso fazia com que ele viajasse toda semana e era solitário na maior parte do tempo.
- Entendo. - Com isso o almoço terminou.Ajudei a lavar a louça em um silêncio estranho enquanto minha vó guardava a comida e meu vô saia para fumar, realmente o falecimento da minha mãe ainda era um assunto sensível.
- Vou para meu quarto. - Ia saindo quando minha vó fez um sinal me pedindo silêncio para que eu fosse até ela na geladeira.
De dentro de um ponte ela mostrou um bolo de cenoura com calda cremosa de chocolate, pegou um prato e uma faca e cortou um pedaço para mim.
- Não deixa seu vô ver, o médico o proibiu comer doces por conta da diabete, mas ele não sabe se comportar. - Ela riu como se falasse de uma criança.
- Pode deixar vovó. - Também ri indo para meu quarto olhando para a porta da frente aberta e a fumaça passando enquanto ele estava sentando olhando para a chuva tranquilamente.
Quando entrei percebi que tinha esquecido a colher, mas não quis descer e correr o risco de ser pega então comi com a mão, lavei a mão no pequeno banheiro que tinha no corredor, fora ele e meu quarto tinha apenas um outra porta que era o quarto dos meus avôs, a porta estava aberta e a cama de casal com uma colcha de aparência antiga e florida cobria a cama, voltei para meu quarto pegando um livro de romance que estava lendo "Orgulho e Preconceito" provavelmente era meu clássico preferido, e com isso senti meus olhos pesando de sono.
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Descendência
FantasyAnelise foi passar o verão com seus avôs quando começa a ver sombras negras com olhos violetas pela floresta, tentando se convencer que não passa de sua imaginação ela se vê em um mundo totalmente diferente do que ela está acostumada, sem se lembrar...