Família Monroy

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Bati na porta e esperei a voz de Dália me dizer que podia entrar, mas nada veio de lá de dentro, tentei mais uma vez, mas o silêncio contrariavam o fato de eu saber que estava sendo esperada, será que estava vazia, e eu tinha dispensado Agnes e Brian que tinha uma maravilhosa garrafa de vinho e petiscos por isso, bom se eu corresse provavelmente teria pelo menos uma taça pra mim, me virei pronta para ir embora quando a porta se abriu e quando olhei lá estava Sebastian, eu o tinha conhecido no almoço, no breve encontro foi encerrado pelo sinal escolar e o fato de eu ter que correr para a aula, mas lá estava ele segurando a porta e me olhando com atenção de cima a baixa, eu tinha tirado meu uniforme e agora estava com uma calça simples preta e uma camiseta cinza justa no corpo.

 - Pode entrar Senhorita Aneline. - Dália falou de dentro da sala despertando o homem que estava cobrindo toda a entrada e com um levantar de sobrancelhas ele abriu espaço para que eu entrasse, adeus taça de vinho, olá bonitão do governo.

- Diretora. - Cumprimentei ela ao entrar.

 - Esse e Sebastian Monroy, o responsável pelo seu caso. - A voz dela demonstra seu descontentamento.

 - Senhor Monroy. - Sorri tentando disfarçar um sorriso, afinal ele já parecia ter problemas o suficiente com Dália.

 - Ele vai auxiliar a Senhorita a descobrir seu passado, caso tenham qualquer problemas estou aqui. - Sua voz de aviso deixava claro, se ele desse problemas ele estaria enrascado.

 - Obrigada Diretora Dália por me receber, acredito que seria conveniente ter uma sala onde possamos começar. - Sua voz calma era um oposto ao seu rosto sério.


A sala de Dália parecia a ala de enfermagem da qual acordei, branca e estéril, com poucas nuances de cor que iam do azul claro ao bege, nada realmente se destacava, era tudo claro demais, ela se levantou da sua cadeira atrás da mesa e foi em nossa direção, saimos atrás dela sem uma palavra e ala seguiu por um corredor passando pela ala administrativa e enfermagem parando em uma grande bibliote.

 - Vocês podem usar aqui, minha biblioteca particular, terão privacidade. - E claro sua supervisão.

 - Certo. - Como se não entendesse o que ela disse, ele se dirige a estante mais perto olhando os livros, eu não podia negar que queria fazer o mesmo, mas conforme andamos Dália fez questão de ficar entre nós como uma barreira.

 - Lembre-se Senhor Monroy esse é uma escola de magia branca... - A voz dela se calou quando ele se voltou para olhá-la nos olhos.

 - Eu estou ciente de onde estou Diretora Tebet, não precisa me lembrar da conversa que acabamos de ter. - Sua voz fria deixava claro que a conversa tinha se encerrado e com uma aceno de cabeça ela saiu sem olhar para mim.


Ficamos em silêncio, cada um olhando os milhares de livros que tinha nas dezenas de estantes todas de uma madeira clara, eles tinham as capas mais diversas, mas nenhum deles tinha a capa mais escura que um azul celeste, claro que seria loucura pensar que a Diretora tivesse livros de magia escura, mas era estranho pensar que em uma biblioteca tão grande não tinha apenas um, com isso em mente continuei olhando.

 - Você não vai achar. - A voz de Sebastian estava do outro lado do corredor, parei olhando para a estante que ele provavelmente estava atrás.

 - O que exatamente você acha que estou procurando? - Minha voz era calma, mas mais uma vez ele capturou meu interesse.

 - Livros negros, eles não podem ficar aqui. - Ouvi um suspiro e passos se afastando.


Segui para o fim do corredor dando de cara com ele que tinha uma expressão calma com um livro com capa bege.

 - O que quer dizer com isso? - Fechando os livros ele me olhou com atenção.

 - É melhor começarmos. - Me dando as costas ele voltou para a entrada da biblioteca que tinha mesas e sofás para se sentar.


Indo para um par de poltronas em bege pálido ele se sentou indicando que eu fizesse o mesmo que ele, me sentei e fiquei olhando para ele que voltou a abrir o livro.

 - Vamos fazer um feitiço de regressão, ele é um feitiço simples e neutro, mas vai ajudar a incentivar sua mente a começar a lembrar sozinha, você tem que se concentrar no que quer lembrar, ou seja, quem era e de onde era antes daqui, caso isso não acontece teremos que ir para feitiços mais complexos. - Sua voz era baixa e rouca e ele parecia que lia ao mesmo tempo. - Alguma dúvida?

 - Não. - Eu já tinha pesquisado por conta própria e provavelmente já li pelo menos dez livros daquela biblioteca que Agnes gentilmente contrabandeou para nosso dormitório. 

 - Certo, feche os olhos. - Ele se levantou voltando para o livro.


O feitiço de regressão era simples, ele ajudaria a mente a lembrar o que esqueceu, podia ser feito desde para achar algum objeto perdido pequeno, até mesmo para se lembrar de algo mais distante, ele podia ser feito tanto por feiticeiros brancos como negros, por isso entrava na categoria de feitiços neutros, o silêncio permaneceu por um tempo.

 - Regressus. - Sua voz rouca estava atrás de mim, senti meu corpo se arrepiar com sua voz rouca e baixa e sua magia era morna e reconfortante enquanto o feitiço parecia rondar a minha cabeça.


Uma imagem desfocada começou a aparecer, eu estava correndo em uma floresta, eu não sabia onde, mas eu sabia que estava fugindo de alguma coisa, meu peito doía com a força para respirar, a chuva fria fazia com que tudo fosse mais difícil, a calça escura e blusa clara que vestia se agarrava ao meu corpo, meu cabelo encharcado estava pesado e batia na minha pele conforme eu corria, foi quando um trovão e um rosnado se misturar e eu olhei para trás, uma sombra negra com olhos violetas me seguia, mas tinha alguma outra coisa, outra sombra cinza se chocou com ela, foi tão rápido que vi aquilo que abri meus olhos e me deparei com Sebastian parado atrás de sua poltrona, seus olhos grudados em mim e por um momento eu senti que ele sabia, sabia exatamente o que eu tinha lembrado.

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