0 - Prelúdio da queda

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Amar alguém naturalmente
Amar alguém fielmente
Amar alguém igualmente
Não é suficiente
Não é suficiente
Não é suficiente

Van Halen – Not Enough

Aquela era uma noite de fim de novembro em Nova York, gelada e solitária. Uma noite típica de inverno, capaz de espantar qualquer criatura das ruas apenas pela ausência da luz da manhã conforme os ventos gélidos alcançavam as mínimas ruelas, envolvendo toda a cidade com o frio implacável. No entanto, apesar de fria, a claridade da iluminação noturna acabava por trazer algum alento.

Com a presença da estação tão gelada, a cidade se pintava de branco. A neve era marcante em cada canto da agitada metrópole, permeando desde os espaços mais estreitos até os telhados das casas, parques, ruas inteiras, lugares que muitas vezes ficavam interditados durante aquele período, impossibilitando a passagem. Era uma época difícil dadas as baixas temperaturas, mas junto disso também vinha o conforto de saber que o ano estava acabando.

Com dezembro batendo às portas da cidade, não era difícil ver muitos lugares já com as típicas decorações de natal. Os grandes centros comerciais logo se encheriam de compradores fervorosos, dispostos a gastar o que fosse para comprar aquele detalhe que casaria bem com alguma coisa dentro de casa, deixando os lares brilhantes por dentro, mas também, e principalmente por fora, expondo seus sentimentos acerca da finalização daquele ciclo. Em pouco tempo, árvores coloridas enfeitariam as casas e presentes embrulhados nos mais variados tipos de papéis rodeariam a frondosa e mais tradicional decoração natalina enquanto as cozinhas se encheriam com o cheiro dos típicos biscoitos de gengibre.

Assim, apesar de o frio excessivo, a chegada de dezembro sempre trazia, para grande parte das pessoas, a esperança de que tempos melhores se aproximariam. Esse era o sentimento que aquele mês tão esperado carregava, e a vida seguia seu curso embalada por essa doce sensação de dever cumprido e esperança para um novo ciclo.

Isso, no entanto, quando se pensando em um todo, claro. No geral, era assim que as pessoas costumavam se sentir. Entretanto, quando esse "todo" se resumia a vida individual de cada ser, as mudanças apareciam, pois cada um seguia o curso de sua própria vida, e vivia sua realidade. Todos eram banhados pelo mesmo céu, mas não seguiam à risca uma vida genérica.

O "todo" era pouco demais diante da grandeza de cada um. E apesar de dezembro ser um mês de esperança, não o era para todas as pessoas.

Algumas sorriam, outras choravam.

Senju Hashirama fazia parte do segundo grupo.

Até pouco tempo atrás o homem de vinte e cinco anos tinha certo apreço pelo natal, por poder estar reunido com aqueles os quais amava, refletindo sobre mais um ano passado, e como outro ciclo estaria se encerrando naquele momento, dando espaço para um novo ano. Sua família se reunia e as comemorações eram sempre inesquecíveis.

No entanto, após os acontecimentos que o levaram até o local onde se encontrava agora, não lhe parecia mais que o natal era uma data acolhedora, mas sim um catalisador para a dor que o acompanhava diariamente. Em sua mente revivia os momentos difíceis que o colocaram dentro daquele hospital. As decisões tomadas a base de um sorriso agora sofriam as consequências, acompanhadas do semblante triste e as lágrimas quase permanentes lhe marcando a pele.

A partir daquele momento sua vida estava definitivamente marcada. Tudo que um dia seria seu por direito lhe estava sendo imposto de maneira cruel naquele instante, roubando-lhe o ar enquanto socos invisíveis o obrigavam a ser manter em pé sem a chance de se curvar. Ele não podia cair, não tinha esse direito. Mesmo acompanhado da família se sentia extremamente solitário e inalcançável, preso em sua dor.

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