7 - Caminho congelado e incerto

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O rio de sua esperança está inundando

E eu sei que a represa está rachada

Se você precisar de mim, eu irei correndo

Eu não vou te decepcionar

Não, não

Bom Jovi - Miracle

Ele já estive naquele mundo gelado e escuro uma vez, há quase dois anos.

Da primeira vez tinha sido muito assustador, mas não apenas por ser um lugar gélido e privado de luz, e sim porque desde aquele momento já havia a falta de sensação nas pernas, e o choque foi inexplicavelmente maior. Ele se lembrava de ter tentado se arrastar por aquele chão infinito, procurando uma saída no meio daquela escuridão que o rodeava, e quando a encontrou fora abraçado de frente pelo desespero da realidade de descobrir que estava paraplégico.

Agora não era diferente, pelo menos não tudo. Madara ainda se via em um lugar estranho, escuro e frio, e apesar de não ser capaz de andar livremente por lá, sentia suas pernas com alguma dificuldade, e não havia mais o medo daquele desconhecido. Ele sequer sentia dor, o que não combinava em nada com a cirurgia que tinha realizado, pois de certa forma esperava pelo incômodo, mas este não veio.

Como primeira ação ele tocou as pernas, aliviado por conseguir sentir os dedos sobre elas, apesar de não parecer muito diferente de antes da cirurgia. Tinha a sensação de vestir algum tipo de calça de tecido confortável da qual não era capaz de distinguir cores ou detalhes, e uma camisa de mangas compridas que tornavam aquele ambiente menos desconfortável. Ele tateou a esmo perto de onde suas mãos alcançavam, mas não encontrou qualquer apoio, como sua cadeira.

Sabia então que, para tentar fazer qualquer coisa para sair daquele lugar, precisaria se arrastar pelo chão liso e muito frio, tentando achar algum ponto no meio do escuro. No entanto, Madara sequer se mexeu muito. Ele apenas tateou atrás de si, e vendo que tudo parecia bem, sem qualquer tipo de receio deitou-se no chão.

Com cuidado, pois tinha medo de se machucar, mas tranquilo, sem qualquer sentimento ruim que lhe apertasse o peito. Era diferente da primeira vez sim, porque agora ele sabia o que esperar. Quando aconteceu o acidente, mal se lembrava do que tinha acontecido; em um momento ouvia a música no carro tentando dispersar a solidão que o acompanhava, e no outro estava preso ali, naquele ambiente estranho.

Da primeira vez ele sentira dor e muito medo, um desespero que nunca soube explicar direito, e algo que quase o levou a loucura. Podia sentir que alguma coisa estranha pinicava sua mão, gritos, pedidos, choros descontrolados, e muitas vozes. A todo o momento, quando ele tentava descobrir o que estava acontecendo sentia algo em suas mãos, vozes aqui e acolá, e até mesmo podia perceber o desespero de algo que parecia vir de fora, como se ele estivesse preso em uma redoma fria e muito escura.

E o pior de tudo, enquanto se arrastava tentando fugir podia sentir algo lhe perseguindo, vindo pelas costas como se quisesse lhe pegar e deixar preso ali para sempre. Agora não havia nada daquilo, e por isso Madara se sentia tão tranquilo. Ele tinha a impressão de estar no mesmo lugar, mas dessa vez aquele espaço parecia um alento, uma proteção para sua consciência enquanto seu corpo se recuperava das primeiras horas de cirurgia.

Pelo contrário, ele se sentia até mesmo sonolento, e de alguma forma estava muito confortável naquele chão. Olhando para o que parecia ser o céu, viu que também não parecia haver qualquer ponto de luz, como as estrelas, e ainda não entendia direito porque tinha ido parar ali pela segunda vez, mas sua mente estava bem limpa dentro do que ele entendia por sua realidade.

Ele podia sentir alguma coisa pinicando sua mão, mas se forçasse um pouco sua memória talvez tivesse a lembrança de ter alguma coisa lá antes de ir dormir e acordar naquela redoma de novo. Ao que tudo indicava era lá que ele deveria estar quando passasse por algo intenso. Pelo menos não tinha mais do que sentir medo.

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