Ligação
Acordo sobressaltada, meu despertar repentino interrompido pelo som insistente de uma ligação. Estranho—quem ligaria às 4:00 da manhã? Atendo rapidamente, esperando que seja apenas telemarketing, mas ninguém faria propaganda a essa hora. Do outro lado da linha, ouço a voz desesperada de Dimitri, ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. Sem tempo para perguntas, ele me informa que preciso comparecer com urgência a um bar de esquina.
Ainda sonolenta, mas imediatamente alerta, pulo da cama e tomo um banho apressado. Visto as primeiras roupas que encontro pelo caminho, pego minhas coisas e me preparo para sair. No entanto, ao olhar para o sofá, percebo que o novato não está mais lá. "Deve ter ido embora", penso, sem dar muita importância. Saio de casa o mais rápido possível.
Ao chegar ao local, ofegante (a falta de preparo físico pesando em mim), vejo uma multidão aglomerada na frente do bar. Oficiais tentam conter as pessoas, enquanto alguns, infelizmente, tentam gravar a cena, imbuídos do famoso "síndrome de blogueira". Passo pela multidão e me aproximo da cena. Dimitri está ali, paralisado, ao lado de um homem que não reconheço—ambos visivelmente em choque. Médicos e peritos ao redor compartilham o mesmo olhar de incredulidade.
Quando me aproximo, vejo o motivo de tanta consternação. Diante de mim está o corpo do homem que costumava assombrar a entrada do metrô. Agora, ele jaz morto, sem língua, sem olhos, com a mandíbula grotescamente dilacerada. Seu pescoço torcido de forma antinatural e o abdômen aberto, exibindo uma garrafa de pinga cravada no estômago, como uma macabra evidência de seus pecados. Encarrando aquela cena, sinto... nada. Nenhuma compaixão, nenhuma vontade de orar. Seu corpo não me desperta piedade; sua morte parece um alívio, talvez até para as outras vidas que ele atormentou em vida.
Agacho-me diante do cadáver, ignorando o cheiro repugnante de álcool e o provável rastro de drogas que exala de sua pele. Aproximo meu rosto, e é então que percebo algo brilhando em sua boca. Com a pinça em mãos, cuidadosamente retiro o objeto: a outra metade do coração, desta vez feito de vidro. Em meio ao sangue, consigo ler uma gravação esculpida à faca: "John Doe", uma clara alusão ao termo usado para descrever uma pessoa desconhecida—um "Zé Ninguém".
Antes que eu tenha tempo de processar, sinto um toque nas minhas costas. É Dimitri, segurando um papel manchado de sangue. Ele está pálido, visivelmente perturbado.
— Leia — diz, me entregando o bilhete.
Abro o papel e leio:
"Sob meu toque, serás pura carne,
Rasgada das mãos sujas deste inferno disfarçado.
Arrancarei tua alma dessa lama imunda,
Teus gritos não serão ouvidos, apenas por mim silenciados.
O mundo apodrece, sua podridão fede,
Vermes rastejam, devoram suas próprias mentiras.
Mas tu não, tu és diferente.
Minha redenção, minha luz em meio à escória.
Eu, e apenas eu, sou teu salvador.
A sociedade morre, afogada no próprio vômito,
E eu te arrasto pra longe, te limpo com meu toque,
Cada centímetro de ti, moldado por minhas mãos,
Te amo, mas não como eles amam.
Meu amor é ferro quente, é faca na carne,
É o veneno que corre nas veias e consome,
E tu serás minha, meu vício, minha posse.
Serás minha redenção, meu prêmio final,
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por Trás de Jonh Doe
FanfictionEm uma manhã cinzenta, uma investigadora forense de 25 anos luta contra a monotonia e os arrependimentos de sua juventude. Após um encontro perturbador com um bêbado, ela se depara com a rotina entediante do trabalho até que seu chefe, Dimitri, lhe...