2ºCap: Amor Gravado a Fogo

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Me abaixo em frente ao corpo e começo a analisá-lo mais de perto. Coloco minhas luvas de borracha e levanto sua camisa levemente, quando, de repente, ouço uma voz masculina, não muito grossa e com um tom de insegurança.

— O nome dela é Naiara, tem 24 anos, trabalha como lavadora de carros e, às vezes, ficava no caixa durante a noite no posto de gasolina. É um local bem isolado e... o colega de trabalho dela é Smith, conhecido como Sam. Ele veio cobrar o horário da Naiara. A porta já estava aberta quando ele encontrou o corpo nesse estado. Acho que não deveria alterar o corpo. O correto seria levá-lo ao laboratório forense para uma análise mais adequada.

Viro-me suavemente em direção à voz do "mosquito" que me incomoda. A visão que tenho me dá uma sensação de déjà vu muito forte: um rapaz de mais ou menos vinte anos, bem-vestido, com um colete de lã e calça em tons terrosos claros, um sobretudo marrom escuro, um topete bem alinhado, e sapatos lustrados

Ele segura um caderno com marca-páginas coloridos em mãos trêmulas e suadas, provavelmente de ansiedade. Com uma caneta retrátil azul e várias canetas coloridas no bolso do sobretudo, sua pochete azul — completamente brega — arruina o visual.

— É novo no departamento?
— Ele é o novo estagiário, S/N. Gostaria que você o guiasse neste caso. Percebi que demonstrou interesse, ou estou enganado? — disse Dimitri.
— Dimitri...
— Você é S/N! A maior investigadora de toda a região! E vai ser minha guia?

Antes que eu pudesse responder, a animação do garoto toma conta de seu corpo, fazendo-o saltitar em minha direção e forçar um aperto de mão. Seus olhos brilham como os de um cachorrinho em um centro de adoção. Ao mesmo tempo, olho para Dimitri com puro desgosto, como uma criança que ao invés de ir ao shopping, foi levada para tomar vacina. Isso me faz refletir novamente sobre a velha questão: é melhor se arrepender fazendo algo ou fazendo nada?

— Vamos, novato, temos muito trabalho a fazer.
— SÉRIO? Nossa! Nem acredito que vou aprender com a melhor investigadora! O que vamos fazer? Invadir estabelecimentos? Abrir covas? Usar cães farejadores? Ou talvez drones? Robôs de leitura?
— Só vamos fazer algumas perguntas para um frentista.
— Já é um belíssimo começo.

Novos estagiários estão sempre cheios de energia: animados, prestativos, felizes e bem arrumados. Isso até serem expostos ao trabalho real. Tenho pena deles, mas também os acho irritantes. O lado bom é que ele vai poupar muito tempo no serviço.

Saindo da casa, vejo que os cientistas forenses chegaram. Faço sinal para que venham retirar o corpo.

— Quero que preparem o corpo minimamente. Quero fazer a autópsia pessoalmente. E me tragam um relatório de qualquer coisa anormal que encontrarem na casa.
— Entendido.

Logo de cara, observo que o frentista estava muito ocupado jogando Subway Surfers, como se estivesse aguardando na fila do pão. Tiro sua concentração cutucando seu ombro.

— Ah, oi. Já posso ir embora?
— Gostaria de fazer algumas perguntas.
— É sobre a Naiara? Já me perguntaram bastante coisa. Garanto que não fui eu. Só fui lá a mando do meu chefe para ver por que ela estava atrasada.
— Isso eu já sei, mas queria saber mais sobre amigos, parentes, a relação dela com os vizinhos.
— Bom, eu não sei ao certo. Pelo que sei, ela não é dessa cidade, se mudou há alguns meses. Não a conheço muito bem. Ela era mais na dela e odiava o serviço, mas era bem prestativa. Nunca se atrasava, por isso o chefe estranhou. Fazia tudo do mesmo jeito, todos os dias.
— E ela era uma pessoa bem arrumada?
— Pelo pouco que a vi, posso dizer com toda certeza que era a mulher mais desleixada que já conheci. Às vezes, ela tentava arrumar o cabelo, mas sem sucesso. Ela fedia. Às vezes, acho que o chefe a colocou como lavadora de carros para ver se ela se molhava um pouco, mas ela era a que mais trabalhava. Trabalhar com o público é difícil, você sabe. Ela também trabalhava como caixa durante as noites.
— Entendo. Obrigada por sua cooperação.

Por Trás de Jonh DoeOnde histórias criam vida. Descubra agora