Uma alfa nova no pedaço

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... PDV Wednesday...

Eu havia decidido voltara a Nevermore afinal, bom, decidido não era bem a palavra certa, depois da morte da antiga diretora, minha detestável mãe recebeu a tarefa de sua antiga rival, e me arrastou de volta aquele barril de desespero adolescente e hormônios, passei um ano negando que queria ter voltado por vontade própria, e agora no terceiro ano não tinha mais esse problema.

Estava eu agora parada diante do vitral dividido, era a segunda semana de aulas, e as coisas pareciam tão normais quanto poderiam ser em uma escola repleta de monstros depois de um ano tranquilo.

A lua estava cheia do lado de fora, em seu ápice, o que significava que eu teria uma noite sozinha sem minha detestável colega de quarto.

Por onde começar a falar sobre Enid Sinclair?

Primeiramente, somos completamente opostas, duas partes tão distintas que causavam estranheza e desconforto quando colocadas lado a lado, seu gosto musical feria meus ouvidos, suas cores chamativas e brilhantes eram uma afronta aos meus olhos, ela era hiperativa, falava demais, estava sempre animada, sua cabeça parecia oca, seu cheiro de caramelo e baunilha impregnava o quarto, seu sorriso bobo e expressões exageradas me faziam perder a concentração, agitando meu estomago, sua pele e cabelos radiantes me faziam ter vontade de procurar um porão escuro e me esconder lá até não lembrar desses detalhes, sua mania constante de me tocar e me abraçar me causava uma estranha e calorosa sensação que se espalhava por minha pele, como um arrepio que fazia meu coração que estava sempre tão quieto, como um cadáver em seu caixão, se agitar.

A algum tempo esses sentimentos me incomodavam, e agora tornavam-se quase torturantes, só havia um problema, eu devia ter pavorosas tendencias masoquistas, pois de alguma forma eu parecia voluntariamente buscar sua proximidade, algo em mim por vezes parecia implorar para que ela se aproximasse mais, que falasse algo perto demais para que eu pudesse me perder em seus olhos, ou observar os movimentos suaves de seus lábios rosados enquanto ela tagarelava.

Respirei fundo encarando a lua cheia do lado de fora, arrastei meu cello para a varanda de pedra, montei a cadeira dobrável e o tripé com a partitura de Middle of the night, começando a tocar assim que puxei o instrumento para fora de sua maleta, precisava pensar e tocar me ajudava.

Estava tão concentrada que não notei a movimentação ao meu lado assim que finalizei, apenas ouvi aquela respiração pesada e o rosnado, que me fizeram gelar.

Virei meus olhos a vi parada, segurava-se no peitoril de pedra com suas garras afiadas, me olhando com os olhos brilhando, azul profundo como faróis refletindo a lua, seu pelo quase branco como seus cabelos balançavam ao vento, e suas presas a mostra, ainda pingando sangue.

Senti uma estranha corrente elétrica correr por minha coluna e se alojar em meu estomago, era Enid, eu sabia que ela não me machucaria, mas não sabia o quanto ela era consciente em suas transformações, geralmente ela desaparecia com a matilha e voltava só no outro dia, arranhada, desgrenhada e coberta de sujeira.

Ela parecia ter lutado com alguém, tinha um largo arranhão em sua costela direita, e o focinho sujo de sangue, fiquei imóvel onde estava encarando aquela fera que mantinha seus olhos voltados para mim, ela desceu do peitoril devagar e veio em minha direção com passos calculados, seu hálito cheirava a sangue, mas não era ruim, era quente e ferroso, grudando em minha garganta, ela aproximou o focinho de meu pescoço, enquanto eu evitava manter contato visual, olhando diretamente para a frente, o nada escuro da noite.

Senti quando ela farejou minha pele, naquele ponto, como se tentasse me reconhecer, o ar quente batendo contra meu pescoço me fez arrepiar, eu estava com medo, e intrigada, aterrorizada e encantada com a besta colossal que me avaliava, eu sabia quem ela era, mas ela sabia quem eu era?

Argentum Luna - Wenclair (18+)Onde histórias criam vida. Descubra agora