Capítulo Um

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── O serviço de quarto chegou. ── Rafaela falou em tom de brincadeira, entrando em seguida.

A mulher colocou a pequena cesta com remédios que trazia consigo em cima da mesinha de centro e foi abrindo as cortinas das janelas em seguida para que a luz entrasse naquele ambiente escuro. Ao olhar para a cama notou a mesma situação da semana passada; Luca não estava nela.

Aquilo havia se tornado uma brincadeira sempre que a enfermeira avisava que iria repor os remédios dele. Ele, sendo o menino levado que sempre fora, fazia questão de se esconder na expectativa de que ao fazer aquilo não precisaria tomar a medicação.

── Você não me engana, Luca ── Rafaela colocou as mãos na cintura, batendo a ponta do salto plataforma no chão. ── Saia já desse banheiro, Luca Hernández. ── não havia autoridade em sua voz.

── E quem disse que eu estou no banheiro? ── o som da sua voz saiu abafado devido a acústica do ambiente. ── Você vai me fazer engolir mais daqueles remédios ruins.

Rafaela riu.

── Você tem certeza que vai ficar ai dentro? Justo hoje que eu trouxe um daqueles bolinhos de chocolate deliciosos que você adora.

O barulho da maçaneta girando foi instantaneo.

Luca colocou apenas a cabeça para o lado de fora, deixando o restante do corpo escondido.

── É sério? ── perguntou. ── Você trouxe mesmo? ── Rafaela confirmou com a cabeça, o que fez o menino sair e ir correndo com um sorriso de felicidade estampado de orelha a orelha no rosto até ela. ── Tia Rafaela, você é demais!

── Eu sei meu lindo ── Rafaela caminhou até a mesinha e pegou a cesta junto do bolinho que estava embalado em uma pequena caixa. ── Mas você sabe que precisa tomar seus remédios para ganhar ele, então tem que me prometer de dedinho.

── Ah não. ── sua expressão murchou. Ele subiu os degraus do banquinho e se sentou na cama, encarando os remédios. ── Até quando vou ter que continuar tomando eles?

── Não faça corpo mole, tagarela. Eles fazem parte da quimioterapia e vão te ajudar muito. ── Luca revirou os olhos, emburrando. ── Não faz essa carinha. É difícil demais contrabandear bolinhos para você, sabia? E não se esqueça que eu tenho meu truque infalível para tirar essa sua manha.

Rafaela decidiu jogar sujo e iniciou uma sessão de cócegas, a fim de tirar aquela face marrenta do menino. O que funcionou, pois logo ele estava rindo alto enquanto tentava afastar as mãos da mulher.

── Tudo bem, tudo bem. Eu faço esse sacrifício tia. ── ele se deu por vencido em meio aos risos.

── Bom menino. ── ela sorriu, parando para tomar fôlego. ── Depois da última choradeira que você deu na consulta com o Adriano ele decidiu diminuir a dosagem, e como você é o paciente mais responsável deste hospital eu decidi te dar um voto de confiança. ── ela mostrou a cesta para Luca. ── Eu deixei marcado em cada caixa o horário que você deve tomar eles. ── explicou, tendo a total atenção do menino. ── Como ele diminuiu as dosagens esses remédios são um pouquinho mais fortes que os anteriores, mas é pouca coisa, então é normal se você sentir certos desconfortos como enjôos ou falta de apetite. Estamos entendidos?

── Sim! ── exclamou, balançando a cabeça de um lado para o outro. ── Posso pedir algo tia?

── Eu sabia que você iria me pedir algo. ── ela olhou para cima, logo voltando a atenção para aquele anjo. ── O que é dessa vez?

10 Dias Com Você (Não São O Suficiente)Onde histórias criam vida. Descubra agora