Um dia que se vive duas vezes

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[Localização exata desconhecida, 6:56 p.m]

          Sammy sorriu quando eles chegaram na estação próxima da casa dele.

     — Aquele é seu médico novo? — perguntou Sammy ajeitando a mochila no ombro. — Ele é legal.

     — Ôh, se é. Fala sério, não aguentava mais o Dr. Victor me dizendo que eu só estou fazendo drama — confessou. Saiu do trem e viu as portas se fechando e o trem saindo atrás deles fazendo seus cabelos ventar — Ele era um pé no saco.

     — Aí, sobraram cinco pratas, quer comer alguma coisa?

     Renzo sorriu e apertou o passo para acompanhar Sammy.

     — Que tal cachorro quente no fim da rua? Se você compra dois cachorros-quentes e um copo de refri você ganha uma porção imensa de batatinha frita de graça.

     Os olhos castanhos de Renzo brilharam.

     — Nossa, eu tô morrendo de fome, aqueles sanduíches que você comprou na clínica não adiantaram de nada.

     Os dois saíram na rua subindo uma escada.
     Caminharam até o fim da rua, chegando em um food truck mal iluminado e com cheiro de bacon à distância. Sammy fez os pedidos no balcão e chegaram os pedidos dos após  alguns poucos minutos de espera.

     Sammy bufou e sujou o dedo de mostarda ao pegar seu cachorro-quente; Renzo riu e assim que mordeu seu lanche, seu amigo passou o dedo sujo de mostarda em seu rosto.

     — Há! Toma, isso é por rir de mim.

     Renzo fingiu estar ofendido.

     — Ah, é? — ele sujou seu dedo de ketchup e o esfregou na sobrancelha de Sammy. Estava com a boca cheia de comida mal mastigada— E isso é por me sujar!

     Os dois se entreolharam por alguns segundos e logo começaram a gargalhar. Renzo se engasgou, mas não foi suficiente para parar seu riso. Tomou um gole do refrigerante que compartilhavam e finalmente deixou de tossir.

     — Cara... por que a gente é assim?

     — Sei lá. Um brinde a nossa esquisitice? — começou Sammy.

     — Mas só tem um copo. — apontou para o único copo de papel na mesa.

     — ...que tal se cada um levanta o copo e depois dá um gole? Você é nosso convidado e pode ir primeiro.

     — Que cavalheiro é você — resmungou Renzo. Ele ergueu o copo acima de sua cabeça — Um brinde a nossa esquisitice.

     Ele entregou o copo para o amigo que fez a mesma coisa.

     Mas Renzo começou a sentir uma dor de cabeça estranha, e logo um enjôo de estômago.

     — Aí... aguenta um pouco? Acho que vou no banheiro. Os sanduíches que você comprou eram horríveis.

     — É. Cê ficou meio pálido do nada. Cuidado pra não sujar as calças!

     Renzo se levantou e foi até o apertado banheiro do estabelecimento.

     Fechou os olhos tentando conter o enjôo de estômago e o zumbido em seus ouvidos, coisa que sempre fazia quando isso acontecia; não era problema tentar parar isso agora. Renzo se sentiu fraco e sentiu seu coração disparar, então se apoiou na pia, agarrando-se nas bordas e encarou seu reflexo no espelho. Ainda tinha mostarda nas bochechas e no canto da boca.

     Renzo começou a se sentir mal, fechando os olhos por algum tempo. Ele teve a impressão de estar em um lugar super iluminado, mas quando abriu os olhos...

Cidade dos Anjos: Ossos Do OfícioOnde histórias criam vida. Descubra agora