Renzo-sem-amigos

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[Colégio Sunshine Hill, Alameda Bunking, número 135, segundo andar. Biblioteca infantil, 14:36]



- Trezentos e setenta mil dólares?! Você ficou maluco?! - questiona Renzo - De onde vamos tirar esse dinheiro? Nós nem sequer recebemos em dólar! Espera, do que eu tô falando?! Nenhum de nós trabalha!


- Vamos criar ilusões. Não precisamos pagar, é exatamente assim que vivemos.


Renzo relutantemente faz uma reserva no navio.


- E-Eu coloco no nome de quem? Você não tem sobrenome...


Lamiel fecha os olhos por um tempo. A única pessoa que passa em sua cabeça é...


- Gabriel Lawrence.


- Gabriel... é o nome do cavaleiro dourado? - pergunta Renzo, meio ressabiado.


Lamiel assente.


- Vai servir.


Renzo achata os olhos e o encara por muitos segundos que pareceram longos demais.


- Não vou colocar esse nome, eu não gosto dele! Aquele cara me dá arrepios!


Era um banho de água fria, porque Renzo acabou de ofender o humano favorito de Lamiel em todos os tempos; Gabriel sempre o fazia sentir-se bem mesmo com os bloqueios emocionais, sempre se sentiu confortável com ele e era como se eles se conhecessem há muitos anos. Era a primeira vez que alguém dizia que não gostava de Gabriel Lawrence.


- Tá... Que tal... - Ele se lembra de outra coisa. Dois nomes, formados a partir de Miguel Saladino - Lamar Soyercut.


- Esse é legal. - ele faz a reserva e finaliza o pedido - Não acredito que você quer que eu finja que seu amigo cabeludinho revoltado é meu pai - resmungou Renzo - Como ele vai reagir? Ele vai me matar! É sério... ei eu tenho medo dele.


- A ideia foi sua de não me deixar roubar meu escudo de volta. Mas... Acho que Nikiel vai ficar tão feliz quanto você em saber que vai ter que ser seu pai temporário... - ele lança um olhar distante para Nikiel. Ele lia um livro com capa em relevo de algo que Lamiel não conseguia identificar - Acho que ele vai explodir de novo... Ele tá um pouco maluco com o fato de que tem emoções fortes. Dá pra acreditar?


- ...bom, olha pelo lado bom. Vocês não vão me abandonar porque eu sou o disfarce de vocês.


- Você é bem... ardiloso.


- Eu prefiro que me chamem de "estrategista". Soa mais bonito.


Lamiel solta uma risadinha.


- É. Você é um bom estrategista, eu diria...


Renzo desliga o computador e se afasta da mesa; involuntariamente ele toma a mão de Lamiel como sempre fazia com Milano ou com Christine, quando estava animado ou com medo de algo; talvez estivesse feliz pela viagem que faria, talvez pela primeira vez que andaria em um cruzeiro. Ele ainda não sabia explicar. Já na outra direção desse gesto, Lamiel sentiu as bochechas ficando vermelhas de novo, porque nunca um humano tinha realmente mostrado afeto por ele. Ele pigarreou e espiou Renzo esconder-se atrás de suas costas.


- Vocês conseguiram alguma informação?


Renzo se escondeu atrás de Lamiel.


- O que você tá fazendo?


- Ele vai me bater quando descobrir...


Lamiel revira os olhos e suspira.


- O quê? Não. Ele não bate em criancinhas... mas admito, aqui não é um bom lugar pra discutir nossa... ideia.

Cidade dos Anjos: Ossos Do OfícioOnde histórias criam vida. Descubra agora