O castelo do Sol e da Lua

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[7:17 p.m, localização exata desconhecida. Por Miguel]

Félix deixa Renzo no portão de ferro daquela enorme mansão e decide que ficará com ele lá até que ele entre em casa, que era um lugar enorme, bonito e incrivelmente bem iluminado. O jardim estava impecavelmente iluminado com verde e azul claro.

— É sério que você... nossa, garoto, você caiu pra cima — comenta Félix — Essa casa é gigantesca. Eu conseguiria me perder aí dentro.

— Ah, eu fiz isso duas vezes — responde Renzo — Tive que chamar alguém pra me buscar porque me senti frustrado e quis chorar...

Giovanni piscou por alguns segundos, pensando para fazer uma pergunta importante.

— Aí... Qual é o nome dos seus pais? Tipo, pra ter uma casa tão grande assim eles devem ser conhecidos na cidade.

Renzo os encara em pânico durante um silêncio incrivelmente incômodo.

— É-É... E-Eles são... Larry e Nick — respondeu o mais rápido que pôde — É... Larry e Nick. Não sei o sobrenome deles porque eles me deixaram usar meu nome em homenagem ao meu pai.

Renzo abre a porta do carro correndo e desce antes que Félix proteste. Giovanni ri discretamente e olha o garotinho apertar compulsivamente o interfone preso em um dos pilares ao lado do portão. Quando o portão se abre, alguém passa Renzo para dentro; Félix nota que é um rapaz aparentemente baixinho, com cabelo loiro escuro que abre e recepciona o garotinho pondo uma mão em sua cabeça. Não é um abraço. Está tão longe que não dá para ver seu rosto. Mas assim que Renzo entra, é como se em um segundo Renzo e ele tivessem desaparecido. E as luzes da casa agora estão acesas.

— Minha nossa... ele... Você viu isso? Ele estava bem aqui agora e... sumiu. Isso é estranho.

— Nah, acho que eles dois só, sei lá, apostaram corrida. Relaxa. Ele não é um carinha perigoso, Félix — Giovanni ri da suposição — Qual é. Ele comeu um cupcake chorando e ficou tímido no dia do próprio aniversário. Ele é pequeno.

Félix suspira e se rende.

— É. Ele é só um... garotinho.

Félix agarra a parte inferior do banco do carona como se estivesse incomodado, como se algo estivesse mais errado do que deveria estar. Ele fecha os olhos por uns segundos e quando aperta ainda mais o banco...

O som é de algo se rasgando.

Assustado, ele recolhe a mão, mas a visão que tem o deixa um pouco mais incômodo que antes, porque uma fileira de escamas havia aparecido no dorso de sua mão esquerda e garras se formaram, também. Logo em seguida começa a dor de cabeça típica que o faz suspirar e gemer de incomodidade. O forro de tecido do banco do carro estava rasgado onde Félix havia posto as mãos e a espuma começava a vazar.

— Félix...? Você tá legal? Eu ouvi um barulho estranho.

Ele assente sem dizer muito. Mas não estava muito melhor, porque agora tinha algumas escamas brancas bem pequenas em seu rosto e pescoço, e as coisinhas irritantes começaram a coçar instantâneamente. Ele grunhe e bufa de um jeito esquisito, tanto que Giovanni tem que parar o carro e ligar o pisca-alerta.

— Cara... você tá realmente bem? Não me parece e...

Um rosnado grave sai da garganta de Félix.

— Tô... de boa — mentiu.

Só havia uma razão para que ele perca o controle de maneira tão rápida e inexplicável: que ele estivesse sendo convocado. E se estava sendo convocado era porque ele estava encrencado.

Cidade dos Anjos: Ossos Do OfícioOnde histórias criam vida. Descubra agora