A ausência de você em meus braços

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Atenção: esse conto contém vislumbres de solidão e saudade de um amor que costumava viver, além de assassinato. Não leia se isso for causar algum gatilho em você. Caso contrário, boa leitura!

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Hoje foi um dia bonito.
Daqueles que me fazem querer chegar em casa após o trabalho, tomar um longo banho quente e relaxante e ligar uma boa música enquanto danço pela casa. Você costumava me acompanhar nessa rotina.
Eu abria um vinho tinto suave, daquela marca que você gostava, para nós dois e lhe servia numa taça própria para a bebida. A taça com o líquido escuro ficava tão linda quando estava entre suas mãos, com seus longos dedos que a levavam até os seus lábios inebriantes. Seus beijos sempre me faziam delirar.
No entanto, às vezes me pergunto se você sabia disso.
Se você sabia que eu te admirava em segredo, que absolutamente tudo o que você fazia era motivo para eu sorrir. Eu seria capaz de usar toda a minha capacidade de memória para captar cada detalhe seu e jamais esquecer. Mas cá estou eu, sozinho, com uma taça de vinho na mão — ela não combina tanto comigo quanto combinava com você. Éramos lindos juntos.
Nesse momento, coloco uma música calma para tocar. Aquelas que você gostava de me puxar para dançar, lembra? Você se levantava da cadeira, vinha até mim com um sorriso de lado, pegava uma de minhas mãos delicadamente e me levava até o centro da sala com os braços na minha nuca enquanto eu enlaçava os meus na sua cintura, lhe trazendo para mais perto. Seu perfume era perfeitamente perceptível a essa distância e sempre me fazia querer lhe beijar o pescoço.
Agora eu me levanto, mas não há você para me carregar e me abraçar enquanto me guia no ritmo da música. Somos apenas eu, a música e o vinho. Antes costumava ter seus carinhos e seu corpo pressionado ao meu.
A primeira música acabou e agora começou a tocar aquela que você amava. Dessa vez, fiz como se você ainda estivesse aqui. Nos meus braços.
Me posicionei no centro da sala com um braço erguido ao meu lado, como se para pegar sua mão, e o outro imitando a curva que tinha sua cintura, como se de alguma forma eu pudesse lhe sentir aqui se tentasse reviver o momento.
Fechei os olhos e comecei a dançar. Dei dois passos para a esquerda e você me acompanhou na minha mente. Depois, dei dois para a direita. Girei e repeti os passos, relembrando cada detalhe da nossa coreografia íntima. A sala está iluminada apenas pela luz que entra das janelas e da cozinha, mas não ligo. Agora é como se você realmente estivesse aqui. Posso estar enlouquecendo, mas sinto seu cheiro, o quente do seu corpo colado ao meu. Há uma risada doce em meus ouvidos e acabo sorrindo por impulso. Eu pego mais forte em sua cintura e te inclino para trás enquanto você também fecha os olhos, rindo.
No entanto, quando me aproximo para beijar seu pescoço, eu cometo o erro de abrir os olhos e toda a minha loucura se esvai em questão de segundos. Então a solidão bate novamente.
Eu volto ao meu lugar à mesa com a taça na mão, vazia. Agora percebo que começou a chover lá fora.
Essa chuva me faz lembrar da noite em que você se foi. Quando você olhou para mim com os olhos cheios d'água e perguntou o porquê de eu estar fazendo o que fiz. Eu encarei minhas roupas que estavam molhadas e manchadas de vermelho, me perguntando a mesma coisa. E até hoje faço isso, quando penso sobre o real motivo de matar você. Acho que seus beijos nunca me deram tanto prazer quanto o que eu senti quando vi os cortes e o sangue escorrer por todo o seu corpo, manchando sua pele escura. E agora, imagino que, de certa forma, seja egoísmo meu sentir sua falta.
No entanto, não consigo evitar.

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