A escuridão é maior que a luz. E o vazio dela permeou metade da minha vida, como se sempre a pertencesse. Era eu e breu.
Dois é um número bom, três é muito, e um é patético. Éramos uma dupla, e aprendemos a conviver. Mas a chegada de mais alguém estremeceu a pacata vivência. Ele não tinha um nome, e não queríamos o definir, porque ele já estava de saída. Não o queríamos. Ele poderia retornar de onde tivesse saído.
Ele não retornou. Sequer tinha interesse em nós, andava com o seu ego. Eles formavam uma dupla também, e nós quatro aprendemos a dividir o lugar. Tal qual com as suas duplas, de volta para a vida pacata.
Quando você convive com o buraco oco que é o vazio, não vê o tempo passar, nem sequer se tem tempo. Tudo é monótono. Tudo é de um cinza infindável, e no fim, cinza se torna a sua cor preferida. Nada te machuca. Nada te faz sentir. E foi isso que ele me disse ao ir embora. Minha escuridão, minha dupla tinha ido embora. E agora, éramos eu, um desconhecido e o seu ego. Era uma dupla. E eu.

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Besta fera, mas minha
PoetryEssa obra carrega uma história de aceitação e repulsa, onde o caos é procurado para cessar o ébano do vazio. Os opostos são singulares no âmago, há algo que compartilham, há partes perdidas um no outro. Temos que nos perder, para nos encontrar. E é...