Antes de voltar para casa, fui ao banheiro mais uma vez. Tudo foi tranquilo desta vez, não notei ninguém me seguindo ou algo assim. Ao ir lavar as mãos, uma das faxineiras entrou no banheiro e fechou a porta. Ela me encarou por alguns poucos segundos até que me virei à porta. Ela se manteve então entre o caminho, bloqueando minha passagem. Assim que dei um passo em direção à porta, a faxineira bateu a porta com força e girou a chave do banheiro. Sem conseguir esconder o susto, dei um passo pra trás, mas ela sorriu pra mim, o que foi mais apavorante. Talvez eu precisasse fazer aquilo de novo, mas assim que levei minha mão até meu bolso, ela estendeu a mão em minha direção.
- Nem pense nisso! - falou para mim em um alto tom, me congelando de medo mais uma vez.
- O que você quer? - perguntei.
Ela deslizou os dedos de sua mão do topo da testa até o queixo, mudando completamente a feição de seu rosto e me trazendo uma lembrança vaga sobre meu passado.
- Você me conhece, apenas não lembra de mim.
- Sim... Mas quem é você?
- Jade, aquela faxineira que contava histórias.
Abri um sorriso de imediato e me aproximei dela rapidamente, saltando sobre seu corpo e a abraçando rapidamente. Assim que olhei pra ela, pude vê-la sorrindo mais uma vez.
- Então você se lembra de mim.
- Claro! Lembro bem de cada história que me contou, mas por que está aqui?
- É justamente sobre isso que quero falar com você.
Ela destrancou a porta do banheiro e me levou até o jardim da escola, mostrando-me um banco em meio as flores. Era um lugar lindo da escola que eu ainda não havia visitado. As roseiras cercam os bancos que ali estão de forma quase que proposital de tão perfeito que estava, parecendo que foram colocadas ali junto aos bancos e mesas.
Assim que sentamos, Jade colocou a ponta de seu dedo na mesa.
- Lápis aqui, agora.
Tirei o lápis de meu bolso e coloquei em cima da mesa. Jade então o puxou para si e começou a rabiscar o ar. Ela o manuseava de uma forma tão bela e perfeita que parecia ter experiência com certo tipo de objeto. Ela criava objetos no ar e os apagava logo em seguida, como se estivesse testando tal objeto.
- Impressionante... Não imaginei que um desses ainda existisse.
- Existem mais lápis como esse?
- Não mais, creio eu. A Mainyu te entregou o último.
- Conhece ela?! - perguntei espantado.
- Mas é claro, ela quem fez o parto da minha filha.
Fiquei encarando-a confuso e tentando assimilar todas as informações que me passou.
- Ela fez o parto da sua filha?
- Sim, ela ajudou a tirar minha filha de dentro de mim.
- Uau... Ela é incrível...
- Com toda certeza é, mas não o chamei aqui pra falar sobre isso. Eu devo um favor para a Mainyu e preciso cumprí-lo.
- Que tipo de favor?
Jade olhou para cima e parecia estar refletindo. ela me relembrou de todas as histórias e contara em um passado não tão distante da minha trajetória. Uma garota que nasceu de um amor entre irmãos e foi rejeitada por toda sua família. ela me contou vagarosamente o resto da história que nunca conseguiu me contar. A menina não pode ser criada por ela e então, um anjo comprometido demais com a bondade negou seu criador para que a criança tivesse uma chance de ser feliz.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Universo Colorido
AcakEsta história é uma continuação paralela do livro Incorretamente Vívido, já completo no Wattpad. Um garoto órfão de pais é encontrado por uma terapeuta que se diz ser um ser sobrenatural. A terapeuta, após algumas sessões, decide oferecer cuidados b...