Capítulo 2

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Saio do trabalho para o horário de almoço, compro uma esfirra na Casa de Salgados Ramalho e como de costume caminho até uma praça que fica a poucos quarteirões, gosto de comer aqui e observar as árvores, as pessoas e o parque de diversão que está um pouco corroído pelo tempo, mas que ainda diverte muitas crianças, gosto de observar as famílias juntas e felizes, os amigos reunidos, gargalhando com conversas triviais e piadas internas, e lembrar que eu era bobo assim, que eu conseguia ver graça e prazer nesse tipo de interação com nossos amigos, eventualmente me pego pensando se um dia, se minha esposa ainda estivesse viva, se teríamos uma família feliz, se iriamos a praça divertir nossos filhos, se eu aprenderia dar mais valor as relações do que ao trabalho, antes que fosse tarde para nós, antes que nossos filhos crescessem e já não se importassem tanto assim conosco e seguissem seu rumo.

Eu sei que pode parecer uma forma de me punir, mas eu também sei que fiz ela feliz, talvez tivesse feito mais se eu fosse mais presente, talvez hoje eu não estivesse banhado em culpa.

Notando tarde demais sinto meu rosto molhado por lagrimas ainda quentes que escaparam dos meus olhos, tento enxuga-las o mais rápido que posso, evitando que alguém me veja, mas acredito ter sido lento demais, um senhor em um banco não tão distante, me olha atentamente, nunca tinha notado sua presença aqui nas outras vezes que vim visitar o local.

Calmamente o velho levanta do seu banco e vem na minha direção, senta ao meu lado em uma distância confortável, permaneço encarando e após alguns segundos de silêncio ele diz algo:

- O que está havendo meu jovem? O que te faz sofrer?

- Algo me fez lembrar da morte da minha esposa

- Ah sim, o luto. Me diga rapaz a quanto tempo sua esposa não está mais entre nós?

- Ela morreu fazem 2 anos

- E você acha que vindo aqui todas as tardes vai traze-la de volta?

Olho seriamente para o velho, o que uma pessoa como ele poderia saber sobre a minha vida, decido então não responder.

- Ah Claro que não. Diz o velho.

-Sinto que esse luto não é apenas pela sua esposa, quando alguém que amamos morre, uma parte nossa morre também e olhando pra você, vejo que não é apenas uma pequena porção.

- Realmente, não é. Balbucio com os olhos vidrados no chão, pensativo.

- Você me parece muito jovem para se lamentar pelo resto da vida.

- O quer que eu faça? Que eu saia correndo, saltitando e dançando em dias chuvosos?

- Talvez, se isso for o suficiente para tirar dessa miséria o que sobrou de um homem, olhe para mim rapaz, quanto tempo acha que ainda tenho de vida? E se a sua terminasse hoje, teria realizado algum sonho antes de partir ou teria ao menos passado bons bocados de momentos jubilosos e sem grandes arrependimentos?

Me mantive calado pensando um pouco a respeito do que acabara de ouvir. Então o senhor levantou apoiando as mãos nos joelhos, olhando o farfalhar das folhas nas árvores.

- Me parece que vai chover, melhor eu me apresar, não tenho mais idade pra correr na chuva. Disse rindo, já se afastando e andando apressadamente.

De fato, o tempo parece ter mudado abruptamente e a praça está completamente vazia, acredito que a maioria das pessoas tenham percebido a mudança de tempo antes de nós. Olho o relógio e minha nossa, como fui me distrair tanto, me apresso tentando voltar ao trabalho o mais rápido possível.



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Oii querido leitor, desde já lamento pelos erros de escrita, se gostou da leitura, não esqueça de votar, fique a vontade para comentar.
Até o próximo capítulo!🐱

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