Capítulo 5 (Clare)

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Com as costas doendo de tanto ficar deitada nesse sofá seco, passei a tarde inteira assistindo um filme atrás do outro e amontoando louças na pia da cozinha. Percebi que sou mais organizada quando tenho o que fazer, mas acho que deveria ser ao contrário.

Tobias como um bom companheiro, passou um tempo deitado na minha barriga, mas agora em pé ao lado do seu potinho de ração, abana a cauda olhando para mim, como resistir a esses olhinhos pidonhos. Assim me obrigando a levantar para tratar do meu doce cãozinho caramelo.

Um som insistente, chato e rítmico vem da campainha, me faz suspeitar, mas o grito histérico de uma louca desvairada confirma, Mariana veio de novo em casa sem avisar, mas ela já está acostumada com a minha bagunça, então nem me importo e me apresso para pegar as chaves do portão.

- E aí amiga? saudadesss!! Grita enquanto me abraça.

-Também tô morrendo de saudades.

Entramos e logo nos apressamos em botar o papo em dia, enquanto Mari senta no sofá, aproveito para lavar a louça ao mesmo tempo em que conversamos, como de costume. Quando éramos mais novas, saíamos da escola direto para casa de Mari, a gente conversava enquanto ela ajeitava a cozinha, para que ela pudesse ir em casa e o mesmo acontecia quando chegávamos na minha e depois passávamos a tarde livre, até a hora da janta.

-Então miga... Quanto tempo faz que você tá afastada do seu trampo?

-Vão fazer três dias e eu já não estou aguentando mais ficar em casa.

-Mas você me falou esses dias, que não estava suportando o pessoal lá te olhando estranho, como se você não tivesse batendo bem da cabeça.

-É, mas mesmo assim... Preferia estar sendo útil.

- E a sua chefe, não disse que ela gostava de você? Isso que não entendi.

- É... ela ficou tão preocupada que disse que um tempinho de férias iria me cair bem, dá para acreditar? Eu fiquei louca da vida.

Parece que Mariana veio em casa, toda arrumada com um vestido florido, lilás e sua bolsinha favorita, planejando que eu iria aceitar dar uma volta ao shopping da cidade com ela, imagino que queria me fazer espairecer um pouco, depois da situação que venho passando.

Então faz a festa no meu quarto me ajudando escolher minhas roupas, sou obrigada a ir de vestido igual ela, porém o meu é rosado, meio salmão, de um tecido leve e bem fresquinho, para o dia quente.

Após estarmos prontas, me despeço de Tobias que arranha a porta rapidamente com suas patinhas assim que fecho a porta -perdão meu docinho a noite te levo passear-.

Descemos até o carro e quando entramos senti um cheiro estranho de comida, no banco de trás havia uma embalagem de lanche todo amassado, um copo descartável de refrigerante, vários lenços de papel e sachê de mostarda no chão, cheguei a ver até um par de meia no tapete.

-Passou um furacão por aqui?

-Aaah, cala boca. Disse Mari rindo

Deu partida no carro e dirigiu tão rápido que em um percurso que eu faria em vinte cinco minutos, Mari fez em quinze, sempre que andamos de carro juntas reclamo disso, mas ela acha graça e diz eu que dirijo como uma velha. Estacionou quase saindo do local demarcado na vaga do estacionamento.

Entramos no shopping e fomos em várias lojas juntas à procura de um body roxo, do tipo que deixa os ombros à mostra, bem específico, que ela disse ter visto esses dias e uma jardineira para Mari.

Depois de um tempo procurando só achamos a jardineira, nada do body, decidi comprar uma camiseta branca que achei linda, cheia de babados com botões e um casaco marrom. Em seguida fomos comprar um copo de açaí para cada, enquanto andávamos olhando as vitrines, Mari parou em frente de um local chamado Avante Turismo e um mural estampava diversos locais, Natal, Recife, alguns lugares da Itália e França.

-Você não gostaria de conhecer esses lugares Clare? É tão bonito, olha esse aqui. Apontou o dedo para uma paisagem da Itália, Veneza estava escrito embaixo, na imagem tinha várias construções bonitas em volta da água azul celeste e duas gôndolas no meio do canal.

-Claro que gostaria de conhecer, né Mari. Lembra quando a gente era mais nova e fazíamos aquelas listas de coisas pra fazer antes de morrer, coloquei que queria conhecer vários lugares do mundo, lembra?

-Eu me lembro que tinha algumas coisas tipo nadar com tubarões e... como era mesmo? Aprender a surfar. Mari disse gargalhando.

-Por acaso aprendeu a surfar Clare? Dos tubarões não vou nem perguntar. Prosseguiu

-Não aprendi, é uma pena, mas os tubarões acho que estavam na sua lista Mari. Disse rindo

-Humm... eu não sei não, mas Clare porque você não viaja, agora que está uns dias de férias. Mari fez sinal de aspas com os dedos.

-Aan... E pra onde eu iria?

-Ué Itália é uma boa, eu bem que gostaria, mas eu não estou de férias e nem tenho grana.

-Aah tá bom, eu me perco voltando pra casa, imagina sozinha na Itália.

Me virei para lata de lixo, para jogar o copo plástico de açaí, quando o vi de longe descendo a escada, meu corpo petrificado me deixou na mão, quando tudo que eu queria era fugir, minha respiração começou acelerar e um turbilhão de pensamentos me...

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Me virei para lata de lixo, para jogar o copo plástico de açaí, quando o vi de longe descendo a escada, meu corpo petrificado me deixou na mão, quando tudo que eu queria era fugir, minha respiração começou acelerar e um turbilhão de pensamentos me voltaram a memória, eu estava apavorada.

Mariana viu que algo estava errado comigo.

-Clare, que cara é essa?

Seguiu meu olhar em direção a escada e assim que vê Valter, ela agarra o meu braço e corre comigo para a saída e andamos de volta até o carro.

Quando fecho a porta do carro solto o ar que meus pulmões guardavam, como se estivesse com medo de que ao respirar, ele pudesse me ouvir, como num filme de terror.

Mari percebe minhas mãos ainda trêmulas, então segura minha mão e diz.

-Amiga eu estou aqui com você, nada de ruim vai te acontecer, eu prometo.

-Você acha que ele estava me seguindo? Digo e só de pensar sobe um calafrio pelas minhas costas.

- Não amiga, ele nem chegou a te ver, acho que estava só passeando também.

Enquanto voltamos para casa, relembro o quanto meu relacionamento com Valter me fez sofrer. No início quando nos conhecemos ele era tão bom e gentil comigo e após um ano de namoro, ele já havia se transformado tanto que eu não o reconhecia mais, ele passou a me colocar para baixo, me fazer se sentir mal comigo mesma, como se todas as brigas do nosso relacionamento fossem minha culpa. E uma vez quando tínhamos saído da casa de alguns amigos, ele havia bebido muito e estávamos brigando.

Naquela noite, ele acelerou muito o carro, enquanto gritávamos um com o outro, ele tentava me colocar medo e eu estava no meu limite, tão cansada de tudo, que não me fazia mais diferença se ele batesse com o carro em algum muro, com a gente dentro.

Me arrependi de ter desejado isso, logo após o impacto e o som de algo bater no capô, parecia que o mundo tinha ficado em silêncio e tocava mais alto do que tudo, as batidas do meu coração nos meus ouvidos. o liquido que escorria pelo vidro do carro, parecia preto, mas era vermelho, eu bem sabia que era sangue.

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Oii querido leitor, desde já lamento pelos erros de escrita, se gostou da leitura, não esqueça de votar, fique a vontade para comentar.
Até o próximo capítulo!🐱

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