Capítulo 04

1.1K 109 368
                                    

Olhando para o céu noturno, pensava que era uma noite propícia para o culto de Tsukuyomi, o deus da Lua, e sentiu na friagem do vento uma sensação de nostalgia e conforto enquanto acompanhava Tobirama até o salão.

Entre os três irmãos imortais, os deuses antigos, o senhor Tsukuyomi era o que menos recebia pedidos e seus cultos não costumavam ser tão populares quanto o dos irmãos Amaterasu e Susanoo. As pessoas o temiam mais do que o amavam por ser um deus não tão carismático quanto os outros e Izuna achava isso um tanto injusto. 

Mesmo que servisse aos três, Izuna possuía um vínculo mais forte com o Senhor Tsukuyomi porque a noite de lua cheia foi o seu berço de nascimento, uma como aquela, quente e sem nuvens nos céus. 

O parto fora cheio de complicações e sua mãe tinha medo de perder mais uma criança, então fez um juramento de que se o bebê nascesse com vida, seria entregue ao sacerdócio. Pensava que talvez por isso ele fosse o único entre os sacerdotes do templo Naka a receber visões — o senhor Tsukuyomi não costumava presentear os homens de forma indiscriminada. 

— Meu senhor, Abba disse que não vai para o salão hoje — um dos nortenhos disse. — Ela não está bem. 

Tobirama assentiu com a cabeça e aproximou o rosto do ouvido de Izuna, disse que ele deveria ir para o salão primeiro, iriam se encontrar logo em seguida. O nortenho que veio trazer a notícia o acompanhou até o jantar e seu esposo pegou outro caminho em direção à casa de Abba.

(...)

Podia sentir o olhar afiado dela seguindo-o até a cadeira do outro lado da cozinha. Tobirama não gostava que Abba morasse sozinha, não iria perder um braço se aceitasse o convite dele de ficar na sua casa; mas se antes já era difícil convencê-la, agora que Izuna estava lá reinando soberano sobre a bagunça, seria impossível.

— Você vai ficar com essa cara de merda a noite inteira? — ela perguntou, jogando um pedaço de osso no canto do prato.

Tobirama balançou a cabeça com um pouco de desinteresse. 

— É a única cara que eu tenho — respondeu.

Abba mordeu um pedaço da coxa pensando na situação, Tobirama não iria abrir o coração de boa vontade, mas isso não significa que não conseguia ver o que estava acontecendo. 

As marcas de velhice no rosto dela ficaram mais sombrias sob a luz pálida da vela quando ela voltou a falar como se pudesse ler as preocupações em sua mente.

— Seria uma questão de tempo até isso acontecer. Eles iriam enviar espiões cedo ou tarde, só precisavam descobrir onde você estava. 

Não tinha certeza ainda, mas provavelmente um deles voltou para o Norte enquanto ele esteve na corte de Konoha e entregou a rota aos outros. Izuna tinha suas razões em não gostar da ideia de mais homens virem do Norte e Tobirama entendia o sentimento porque também reconhecia o risco de perigo no horizonte, 

Quando fechava os olhos, conseguia enxergar no horizonte as velas pretas, vermelhas e azuis tremendo na ventania, barcos saindo da neblina como monstros surgindo do mar, templos incendiados, palácios saqueados e sacerdotes assassinados. É claro que poderia levar anos até uma possível nova invasão acontecer, mas ele não iria sentar e esperar o pior vir bater na sua porta.

Não se importava com o que acontecia aos sulistas; o que o preocupava era Izuna e o quanto ele poderia suportar. Não seria idiota ao ponto de esperar que ele abandonasse seu reino e o rei Tajima, mas também não conseguia aceitar que o calor humano que via nos olhos dele fosse frágil e tão fácil de se apagar.

Uma hora Izuna iria partir, isso era um fato que não podia se dar ao luxo de ignorar; ter vindo para o assentamento e permanecido de espontânea vontade já havia sido mais do que poderia ter imaginado, deveria estar satisfeito, mas tudo isso só o tornou mais ganancioso. 

Barbarian (TobiIzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora