Capítulo 01

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Quem cantará para mim
Quando eu partir para o profundo repouso?
Quando eu andar no Caminho para Hel
Através de uma trilha em que o piso
É frio, tão frio?

(Wardruna - Helvegen)

Izuna franziu a testa com desgosto, olhando seu marido prostrado na cama de casal ainda desacordado. O ferimento havia sido profundo e o veneno utilizado na lâmina espalhou-se muito rápido no sangue, Tobirama não correspondia ao chamado há algum tempo, parecia que seu espírito havia finalmente deixado o corpo para se juntar aos seus ancestrais.

Ele alternou entre momentos de lucidez e delírio a manhã inteira, murmurou o nome de Izuna poucas vezes e também sussurrou algumas palavras em sua língua materna antes de entrar em coma. Nesse tempo todo, Izuna não deixou o lado de sua cama, repetia todas as orações e encantamentos que conhecia aos deuses antigos, trocando as ervas e testando tônicos, desejando uma melhora mesmo que pequena, mas nada era o bastante, o quadro não se alterava.

Os curandeiros disseram que Tobirama ainda estar respirando era um verdadeiro milagre, mas não tinha certeza se poderia chamar aquilo de vivo. Era mais como se já tivesse passado dessa vida.

Sentado na cama ao lado dele, metade do corpo de Izuna era ressentimento e a outra raiva. Odiava a sensação de estar em dívidas com o Bárbaro, se ele sobrevivesse, iria encontrar uma forma de compensá-lo pelo que havia feito, mas se morresse, o que iria fazer?

Izuna já havia tentado toda a sorte de tônicos e ervas que conhecia para cura, passou a madrugada e a manhã inteira fazendo orações aos seus deuses antigos, mas Amaterasu, Susanoo e Tsukuyomi não atenderam, por que fariam qualquer coisa por um homem que não os adorava? Os deuses antigos não tinham nada a ver com Tobirama. Ele adorava outro deus do Norte chamado Hjalkar Kjartan, o deus da morte.

Talvez aquela corte de asnos o desse em casamento para outro imbecil, e quem poderia garantir que o próximo imbecil não seria pior do que este? Pelo menos Tobirama foi bom durante os meses em que estiveram casados, do seu jeito, ele honrou Izuna até o segundo final de sua vida. Será que por isso era tão difícil soltar a mão dele agora? O que precisava fazer para que o deus da morte dos Senju não o levasse?

Izuna pegou o pano e molhou, espremeu e o colocou sobre a testa dele outra vez, perdido em pensamentos. Eles estavam juntos no mercado da feira no momento em que o mercenário se aproximou, disfarçado entre os outros aldeões. Tobirama estava murmurando com aquele sotaque pesado e arrastado, dizendo que iria deixá-lo trancado no estábulo a madrugada inteira quando agiu sem que Izuna tivesse sequer percebido que havia uma pessoa armada atrás deles com intenções ruins.

Não queria se sentir culpado ou responsável por nada, Tobirama era seu marido, em tese, ele não estava fazendo mais do que defender seus próprios interesses quando se colocou na frente do mercenário para protegê-lo. É bem provável que só tivesse agido por impulso, no calor do momento, porque Izuna estava na frente e seria o primeiro a ser alvejado. Se aquele golpe o tivesse acertado, teria morrido, disso tinha certeza. Tobirama também não foi muito esperto, ele poderia ter bloqueado a lâmina ou contra-atacado, mas, não, ele teve que fazer algo desnecessário como se jogar na frente e ser atingido em seu lugar.

Só de lembrar da cena, sentia as pernas fracas e um tremor estranho no corpo, como se ainda estivesse no mercado, vendo Tobirama ser esfaqueado.

— Por que você fez isso? — Izuna murmurou, soltando um longo suspiro. — Se tivesse me deixado morrer, estaria livre agora. Nós dois estaríamos.

É claro que não houve resposta. Mas tinha certeza de que se ele estivesse acordado, iria encontrar uma forma de ofendê-lo. No fundo, estava até começando a sentir falta daquele humor grosseiro e do temperamento frio, das suas ofensas. Eles tiveram bons momentos brigando, aprendendo a ter que conviver com as diferenças um do outro.

Barbarian (TobiIzu)Onde histórias criam vida. Descubra agora