Manhã chegou. Com orvalho e com molhado.
Vei, deusa, alumiava a terra com seus fracos de sol. Da casa grande saia um pequeno europeu. Não era Porto.
- Fales com ele. Não vês que lhe pesa arrependimento? Podes ser assim, tão inflexível?!
Algarvio tentava a sorte com mesmo ipê.
- Se puderes me ouvir... se puderes perdoa-lo.
Já desistia do caso. Não havia esperança para seu patrão.
Quando lhe falou o aipê:
- E achas que ele merece o perdão?
Aipê já não era árvore. Era gente.
Era homem de pele canela; cachos negros no vento. Pés descalços e peito desnudo. Nos pulsos e pescoço, muitas jarinas e miçangas de sementes amarelas.
Era homem aruá. Arisco, mas gentil.
Era homem de olhos dourados; teçá yubá, como as flores do ipê.
- Sim, senhor Ipê. Perdoar.-Seu Algarve; este não é assunto teu.
- É sim! Há anos vejo vocês em pé de briga. E me cansei!
- E eu me cansei há muito mais tempo.
- Alguma vez o amou de volta?
- Ás vezes... – Lhe respondeu o aipê.
- Mas Porto não ama. Ele possui. Não é o mesmo. É egoísta e mesquinho. É Arrogante.
- Pondere. Ele passou por muito.
- E quanto ao que ele me fez passar?
- Ainda assim, vocês podem chegar a um acordo.
- Não há mais acordo, seu Algarve. Para mim é o fim.
- Adeus.
- Espere...
Em um instante; não havia mais homem. Não havia mais dourado.
Havia no lugar um punhado de pétalas de algodão yubá.
E a ipê ibirá.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Perdões de Um Ipê
Ficción históricaUma história de amor conturbada. Um marinheiro desesperado, com seus dias de glória no passado; e uma árvore amarela cansada e sufocada; nunca entendida e nunca respeitada. O inicio do fim de uma longa relação de flores e espinhos.