O Fim do Amor

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"Doeu?"

"..."


3

Eu já perdi a conta de quantas vezes foram. Enfim, posso me sentir melhor, mas minhas vontades só crescem. Eu nunca tive a menor dúvida de minha bondade perante aos ensinamentos do senhor, e nem sei por que deveria estar pensando nisso, aquela aberração nem é humana. Mas algo em tudo isso dói para mim, acho que tem a ver com aquele rostinho nojento dela. É sempre a mesma cara, nunca reagindo, sempre me julgando. Senhor, isso é um teste? Por que eu me sinto igual a minha mãe, senhor? Se pequei, perdoe-me, pois sou humano. Todo humano tem direito de errar e, a propósito, tudo que estou fazendo não é um mal necessário? Tão necessário quanto comer carne, eu diria. Enfim, me sinto tão sozinho, não consigo parar de pensar na pequena e adorável Lucy. Minha euforia perante a realização da razão de Mika existir como meu porto seguro está sumindo, ela não tem a mesma pureza de Lucyyyy. Perdoe-me se eu pecar novamente, Deus, o perdão é a dádiva os cristãos. "Arrependei-vos, porque chegado é o reino dos céus", não é verdade? Não temo que um único e ocasional pecado iria condenar-me ao fogo do inferno.

"Querida, por que não toca na sua comida?"

Maria Alicia, mãe de Lucy, estava muito preocupada com o estranho comportamento de sua filha. Ela não sorria mais como antes e estava sempre nervosa; como se guardasse um segredo, especialmente na companhia do tio Poni. Ele, Milena, a própria Maria, e a jovem Lucy jantavam juntos naquela noite estranha.

Maria foi largada pelo marido ainda grávida, o que a tornou um mártir na família, a filha que suja o sobrenome. Poni também sentiu certo remorso em relação a irmã, mas era ainda mais frustrado com as atitudes do marido ausente. "Um homem nunca deve deixar sua mulher sozinha, é tão irresponsável quanto deixar um recém-nascido para os lobos. Mulheres não foram feitas para esse tipo de vida" foi o que disse para a irmã quando descobriu o que aconteceu. A irmã concordava, e era eternamente grata pelo suporte do irmão, não só por esse gesto, mas por uma série de colaborações durante a infância de ambos.

"Mamãe, eu quero ir pra casa," a filha sussurrou baixinha para sua mãe.

Poni sorria para as duas.

Maria ria desconfortável.

"Aconteceu alguma coisa?", proferiu Milena.

"Não é nada demais, é que... deve ser a falta de ar de Lucy atacando. Já voltamos."


[...]


"Isso é impossível."

"Mas é verdade, mamãe! Ele me disse pra não contar tudo pra senhora, mas a senhora me ensinou que eu devo sempre confiar na senhora, não é, mamãe?"

"Pode ter sido um pesadelo... Sim, foi um pesadelo."

"Não mamãe, foi de dia!"

"Filha, seu tio é a melhor pessoa que já conheci. Ele que nos defendeu da malvada da sua vovó e do malvado do seu pai. Ele nunca faria algo assim, agora quero que o trate com mais respeito e pare com essas bobagens!"

"Mas mamãe..."

"Agora!"

Lucy começa a chorar, até levar um tapa agressivo de Maria. A marca vermelha era visível no rosto. A garotinha forçou que as lágrimas cessassem como tática de sobrevivência.

"Escute aqui, mocinha! Nós somos mulheres, já somos fracas demais do jeito que somos, não preciso de uma filhinha mimada e catarrenta pra fazer eu me sentir pior! Se eu te ver chorando de novo, vai ser pior, está me entendendo?"

A Tragédia de Mika Sem Sobrenome e a Maldição dos PequenosOnde histórias criam vida. Descubra agora