Frustração, Sonhos e Árvores Mecânicas

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Sonhei de novo com aquela menina quieta e ela me ensinava a voar. Nós quebrávamos as plantações F e fugíamos da polícia. Ela acabou matando um policial, eu me senti horrível e disse para ela nunca mais fazer isso. Não lembro direito o que ela respondeu e... Os detalhes não são muito precisos, acho que depois enfrentamos uma minhoca gigante de uma tonalidade escura absoluta. Eu tinha visão de calor, e o calor a fazia encolher. Guardamos a minhoca numa caixinha e eu ficava apavorada só de pensar no que aconteceria se aquele monstro horrível sairia da caixa.

Eu quero muito ver essa menina, sonho demais com ela, não pode ser uma coincidência, assim como as plantações F não são. Um dia eu vou encontra-la e ela vai ressuscitar a vovó Dina, assim como foi naquele sonho

- Diário dos sonhos de Miranda Linz.


Lilly Marie beijava Mika debaixo de uma ponte e de um cobertor rasgado. Um mendigo olhava mal-encarado antes de se virar e tentar dormir. Era noite, as duas estavam horríveis, com roupas desgastadas; Lilly usando uma regata branca e um short jeans rasgado, com seus longos cabelos ruivos desgastados; Mika usava as roupas de sempre, sujas, mas agora tinha uma linda presilha roubada, dada de presente por Lilly, que organizava seu cabelo até certo ponto. Mika beijava com os olhos abertos e com a mesma expressão vazia de sempre. O beijo acaba, a ruiva dá um sorriso constrangido, como já o fizera tantas vezes, pronta para começar outro monólogo.

"Sua doida, quantas vezes eu tenho que dizer pra fechar os olhos? Isso é estranho pra cacete."

"..."

"Eu roubei mais alguns remédios e comida, tá legal?"

"..."

Lilly voltava a beijá-la, praticamente a arrastava para debaixo do cobertor. Barulhos mais estranhos aconteciam entre as duas; Mika não reagia; Marie se empolgava, ou ao menos fingia empolgação. Tudo parou quando uma passeata passou pela ponte.

"Devolvam nossas árvores! Devolvam nossas árvores!", gritava uma multidão.

"Não queremos mais viver respirando esse oxigênio sujo!", disse um homem à frente do grupo, recebido com gritos de aprovação.

"Bando de desocupado, tem mais é que ser preso mesmo," disse Lilly.

A polícia de fato chegou naquele momento, o grupo se desmanchou e todos fugiram. No meio da multidão estava uma garota de pele parda e longos cabelos ondulados negros cheios de luzes verdes, que vestia um suéter azul de manga longa, calças compridas, botas e um terço no pescoço. Ela olhou rapidamente e viu uma garota loira. Seus olhos se arregalaram, mas não parou de fugir.

"Mika, seus remédios," Lilly disse e imediatamente enfiou uma mão cheia de remédios, que variavam de antidepressivos a tratamentos para neurodivergentes, à força na boca de Mika.

"E vê se mastiga dessa vez, ô demente. Não quero te ver se entalando de novo."


[...]


Miranda foi à farmácia comprar uma porção de remédios por segurança, pois vira no noticiário que o tempo seria frio na cidade de Pan, queria se prevenir de possíveis resfriados. Apresentou também sua receita para seus remédios controlados de seu transtorno de ansiedade. O atendente era um homem de vinte e cinco ou trinta anos com pouco cabelo, uma barba e um anel de noivado no dedo. Linz só via o anel.

"...você é meio novinha pra tomar isso, não?"

Ela apresentou sua identidade.

"...uau."

A Tragédia de Mika Sem Sobrenome e a Maldição dos PequenosOnde histórias criam vida. Descubra agora