Com o passar do tempo já não sentia falta da minha antiga vida. As aventuras diárias que eu vivia ocupavam minha mente em todo momento.
Na colônia eu aprendi a caçar, cozinhar, lavar minhas roupas, fazer fogueiras entre outras coisas. Estudei sobre os acontecimentos e sobre alguns valores que o Matthew insistia que eu soubesse, Então em uma das viagens, estávamos nós, migrando para outro local com nossa caravana em uma rota escura, então observei uma carroça que carregava livros, não me contive e perguntei:- Mat, por que não deixamos toda essa tralha pra trás? - Perguntei a Matthew olhando para aquela carroça feita a mão.
- Esse é o bem mais valioso que temos... - Respondeu Matthew com um tom de voz sereno sem nem olhar pra mim.
Então o questionei:
- Uma pilha de livros empoeirados? poderíamos usar o cavalo para transportar mais mantimentos.
Então Matthew olha para mim e responde:- Você ainda vai entender o motivo desses livros serem tão importantes. Principalmente quando não tiverem mais nada para nos tomar. - Responde Matthew pacientemente.
Enfim chegamos em uma cidadezinha no interior que havia sido devastada. Todas estruturas foram destruídas, haviam marcas de queimado nos prédios e casas e todo o vilarejo havia sido tomado pela mata que começou a crescer nas ruas.
Talvez por não haver mais nenhum habitante, aquela vila não era infestada de câmeras ou soldados, estava completamente vazia, porém não podíamos baixar nossa guarda.
Matthew sobe num escombro e entoa para a multidão de refugiados:- Atenção pessoal! chegamos no que parece ser um lugar seguro. Nossa previsão é de passar o fim do inverno aqui. Vou separar vocês em equipes com líderes, e cada líder irá designar missões a vocês. Por favor, obedeçam as orientações dos instrutores e evitem chamar atenção com barulhos ou movimentações em áreas desprotegidas - Após aquele discurso, Matthew desceu do seu "palanque" e veio em minha direção, ele colocou a mão em meu ombro e disse:
- Vou contar com você pra isso. Você está responsável pela equipe B - a equipe B tinha cerca de 20 pessoas, algumas crianças de colo e jovens adultos. Eu sabia lidar com esse tipo de gente, mas não sabia que o Mat me via como alguém apto a tomar conta daquelas pessoas.
Sem pestanejar aceitei a missão, mas pensei comigo: "Preciso cuidar dessas pessoas como se fossem minha família. Estou responsável pelas vidas delas." - Após algum tempo, nós da equipe B nos alojamos na carcaça de um antigo prédio que não estava com sua estrutura tão abalada assim. Então orientei as pessoas onde elas podiam guardar suas coisas e descansar da viagem.
Quando o Sol se pôs, estava quase na hora da reunião noturna com a colônia, eu cheguei antes como eu, Matthew e outras pessoas que lideravam o movimento costumavam fazer. Porém notei que Mat não estava lá, então fui para seu alojamento próximo dali para ver se ele estava dormindo.- Com licença, a senhora viu o Matthew? - Perguntei para uma moça que estava sentada no chão amamentando seu bebê dentro do que costumava ser uma casa.
Ela negou com a cabeça e fez um gesto apontando para algum lugar. Provavelmente ela não queria despertar seu bebê, então só saí de lá devagar indo para onde a moça apontou.
Chegando lá, me deparei com uma igreja, mas sua fachada estava destruída e a cruz que enfeitava a entrada estava pichada com símbolos da regência e palavras ofensivas. Entrando no lugar vejo Mat sentado olhando pro nada, então eu questiono:- O que estava fazendo aqui? o que é este lugar? - Mat se levantou devagar e veio até mim.
- Isso é uma igreja. Uma das poucas que não foram totalmente demolidas... é um templo sagrado onde costumávamos cultuar a Deus.
- Eu lembro da minha mãe ter me dito algo sobre isso. - Respondi Mat, que logo em seguida disse:
- Isso era muito comum antigamente. Todos os domingos pela manhã saíamos de casa afim de agradecer pelas bençãos, pedir por misericórdia ou algo assim... eu ia com os meus pais... era tão habitual que eu nem sabia direito o que eu estava fazendo -
Aquilo tudo era confuso pra mim, mas eu resolvi entender, então perguntei.- Mas o que exatamente é Deus? - Então com uma feição triste Matthew me respondeu:
- Eu... não sei... não sei explicar- Mat começou a andar para fora do templo com seu braço apoiado entre meus ombros - Para alguns é só mais um deus... e para outros é amor... para alguns outros ele nem existe.
- Pra você... o que ele é?
- ...Perdão... - Mattew responde depois de um curto silêncio.
- Onde você aprendeu sobre tudo isso? Quer dizer, não deve ter sido algo que as pessoas simplesmente imaginaram. - Indago Matthew, ainda curioso, e ele me responde me dando um livro velho.
- Tudo que precisa saber está aí... - Eu aceitei o livro mas guardei sem dar muita importância, pois eu queria uma resposta mais direta. Então seguimos andando para nos reunir com o povo.
Algumas horas depois eu já estava com minha equipe no lugar onde decidimos ficar, dando uma pincelada naquele livro antigo que Mat havia me dado. Suas páginas estavam cheias de mofo e algumas nem estavam completas.
Já era tarde, mas eu não tinha conseguido dormir... estava tudo quieto e só era possível ouvir as cigarras e as rãs, quando de repente ouço sons de passos rápidos e algumas vozes.
Então vou me esgueirando até uma janela próxima para ver do que se tratava, mas sou surpreendido pelo Mattew que me puxa pelo ombro e me arremessa no chão- Pra baixo! - diz Matthew sussurrando
- Mat, o que houve? são soldados?
- Parece que sim... tome isso! - Ainda em cima de mim Mat me deu uma pistola - vamos precisar nos defender. fique alerta e proteja a colônia. - Logo depois disso, Matthew saiu de lá, e momentos depois um grande tiroteio se inicia, acordando todos da colônia. Tentei tranquilizar a todos da melhor forma possível, mas foi muito difícil controlar a inquietação daquelas pessoas.
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REGÊNCIA
ActionNuma ditadura religiosa global, onde apenas uma crença é a correta. Thomas e seu grupo de sobreviventes rebeldes tentam resistir à opressão da REGÊNCIA, e não permitir que lhes tomem seu bem mais valioso: a esperança. Em uma de suas jornadas, Thomas...