Capítulo 6 - Lar

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Três dias após o ocorrido, estava eu em meu posto de vigilância.
O Matthew me colocou lá, tudo que eu tinha que fazer era olhar para a floresta e me certificar de que ninguém invadisse nosso acampamento, mas no fundo eu sabia que ele só estava me castigando por ter trazido a Ruby para nossa colônia.
Depois que meu expediente acabou, sigo para uma instalação onde muitos homens estavam conversando e rindo alto, mas a conversa e a gargalhada se encerra subitamente quando eu me aproximo.

- Tom - Fala Matthew também se aproximando.

- Eaí... tudo tranquilo lá fora...

- Isso é bom. Como você está?

- Bem.

- ... Hum..... e ... a garota?

- Já se recuperou do ferimento. Sabe Mat, eu tava pensando em... cê sabe... integrar ela na nossa sociedade.

- Tom, por favor

- O que foi? Eu tenho conversado com ela todos esses dias... ela me contou a história dela, ela entrou no exército para sobreviver!

- O que estamos fazendo aqui, Thomas? Não vê que todos nós estamos sobrevivendo? Ou pelo menos tentando?

- Você não conhece as condições dela, Mat. Se soubesse entenderia.

- Amanhã... pela manhã. Eu quero ela fora daqui.

- Porra Matthew, você disse que íamos cuidar dela!

- E cuidamos! Gastamos com uma Regente alimentação e suprimento que deveria ser designado para uma família inocente. Ou talvez para uma mãe que não tem mais a sua filha!

- Fala tanto sobre perdão Matthew... se cultua o deus do perdão por que não está disposto a praticá-lo? - Mattew suspira e vira as costas. Decidi não continuar o assunto e esfriar a cabeça em casa.
No amanhecer, saí com a Ruby para comer, e de repente muitos habitantes notando a presença dela se aproximaram. Muitos olhavam torto, e outros até a xingavam.

- Tom - Mat se aproxima com uma postura ereta, mau encarado e com um cano de metal nas mãos.

- Pois não, Mat - Respondo já me dando conta da multidão que nos cercava enquanto Matthew se aproximava.

- Não há espaço para regentes em nosso acampamento. Nosso prazo se encerra hoje.

- Qual o seu problema?!

- Não há problema em mim, Thomas. Você já fez sua parte de poupar a vida do inimigo que quer te destruir. Agora deixe-a ir, ou teremos que tomar nossas próprias decisões.

- Ela não é nosso inimigo! Matthew!! Vocês nem deram chance de conhecê-la!

- Basta Thomas....

- Vai embora! - Um habitante aleatório grita, então todos ao redor começam a fazer o mesmo enquanto arremeçam coisas contra nós. Depois daquilo, olho ao redor, e vejo que a comunidade amável e acolhedora que um dia conheci, estava se mostrando contrária a acolher uma pessoa abandonada pela Regência.

- Humpf... certo ela vai...- Matthew afirma com a cabeça satisfeito e Ruby parece assustada.

- Mas eu vou junto.

- O quê?

- O quê? - Ruby externaliza.

- Filho, vai abrir mão da colônia por causa de uma garota da Regência que acabou de conhecer?

- Vocês estão agindo como eles! Matthew! Você me acolheu numa situação tão complicada quanto a dela, e agora se recusa a cuidar de uma única pessoa por conta de seu passado. Você é um hipócrita! - Todos se chocam. Eu provavelmente fui o primeiro a ofender o Mat em sua frente em anos.

- Você não vai sobreviver sem nós.

- Me esqueça... a única pessoa que eu realmente precisava para sobreviver se sacrificou por mim. Não vou deixar passar a oportunidade de ser essa pessoa para alguém. - Após isso, todos abrem espaço enquanto passamos.
Nós recolhemos nossas coisas que não eram muitas, e fomos em direção à saída do acampamento.
Enquanto caminhamos Ruby me fala:

- Thomas... eu.. não acho isso certo. Por quê está deixando seu lar por mim? Você deveria ficar, você mal me conhece - Paro por um momento com os punhos cerrados.

- É verdade. Talvez eu devesse ficar nesse lugar... mas do que adiantaria viver rodeado de pessoas falsas e saber que deixei alguém bom para trás? Aqui não é pra mim... eu não dependo de nada disso.

- O que... te garante que sou uma boa pessoa?

- Nada... eu só... sinto em você. Fora que essa situação me ajudou a entender onde eu realmente estava inserido - Somos interrompidos por sons de cavalgadas, então olhamos para a direção do som e podemos ver Matthew em cima de um cavalo que carregava mochilas.
Matthew desce lentamente do cavalo e se aproxima me dando aquela mesma pistola.

- Vou respeitar sua decisão... por mais que precipitada. Mas por favor, aceite o cavalo e os mantimentos. - Me aproximo dele e faço carinho na cabeça do cavalo.

- Você não precisava

- Senti a necessidade de cuidar de você uma última vez.

- E agradeço...não só por isso, mas por tudo ... pelo carinho, acolhimento e tudo que me ensinou. Mas agora é minha vez de ajudar alguém - Olho para ele com um olhar confiante porém ainda frustrado e nos despedimos após recolher as coisas.
Viajamos por alguns dias, nos acampamos em lugares inóspitos mas nenhum parecia bom para passar mais de uma noite, mas não tínhamos escolha, de vez em quando devíamos parar para o cavalo descansar, entre outras necessidades.

- Espera, estou ouvindo algo... - Diz Ruby

- O que foi?

- Não sei, parecem passos - Segundos depois somos surpreendidos por três homens mascarados.

- PARADO!!! - Um dos homens anuncia o assalto com uma pistola na mão. Eu saco minha pistola que estava em minha cintura e disparo um tiro de sorte no peito do bandido, ele faz o mesmo, mas o projétil atinge meu rosto de raspão.

- Merda! - Um dos bandidos que parecia jovem demais se espanta com o ocorrido. Em seguida desço do cavalo com minha pistola apontada para eles, que estavam desarmados.

- Sumam! não querem perder mais um homem!

- Desculpa, cara! Nós não queríamos fazer isso, eu juro! - O garoto levanta as duas mãos tremendo.
O outro rapaz que parecia mais velho tira sua máscara e continua fazendo seu gesto de paz.

- Poupe nossas vidas, estamos precisando de recursos... não íamos matar vocês!

- De onde vocês são? - Pergunto para o rapaz que tirou a máscara, e ele responde:

- De um acampamento escondido na floresta aqui perto. Nós daremos qualquer coisa! Por favor não nos mate! - Apesar de desesperado, o rapaz que já era mais velho, com olhos castanhos e dreads irados na cabeça parecia falar a verdade.
Então resolvi ver até onde isso ia.

- Certo, nos leve até seu acampamento... precisamos de um lugar pra ficar... nos receba em seu acampamento e pouparei suas vidas - Blefe total, eu não seria capaz de atirar neles a sangue frio.

- O quê? - O outro bandido tira a máscara após ver que seu comparsa havia aceitado o acordo. Ele era realmente muito jovem, tinha traços asiáticos e era bem magro.

- Calado moleque... certo...por aqui!

- Certo, vem Ruby - Olho para Ruby que estava em cima do cavalo e a mesma me segue rumo ao suposto acampamento que os bandidos falaram.

- Se tentarem qualquer gracinha, não vou hesitar em atirar!

- Relaxa aí mano! - O jovem que estava andando fala enquanto caminha.

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