Capítulo 26

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     Eles retornam para casa, novamente em silêncio já que não há mais palavras a serem ditas um para o outro, Zhan mantém sua mão sobre a dele em uma tentativa manter sua consciência sã e não perder a razão, algumas vezes ele pode sentir aquela raiva espalhando-se através dos poros de sua pele enquanto seus olhos estão perdidos sobre a vista fora da janela, aquilo era um hábito comum do outro, apreciar tudo ao seu redor por segundos intermináveis como se fosse necessário guardar cada detalhe em sua cabeça e assim não se esquecer pelo o que exatamente ainda busca manter sua razão, exatamente com alguém quem encara sua imagem em frente ao espelho durante as madrugadas que segue acordada procurando um sentido para a vida medíocre que leva, tentando reconhecer quem um dia foi encontrado apenas um reflexo de alguém que não é mais. Yibo já tinha o visto algumas vezes acordado altas horas da noite parado em meio ao escuro olhando incansavelmente para o nada, como se seus pesadelos o mantivesse acordado esperando pela primeira luz sol da manhã para deixá-lo em paz, apesar de nunca tê-lo dito diretamente, também havia notado as cicatrizes que cobrem parte de seu peito e suas costas, marcas intensas de vários tamanhos e que não parecem terem se fechado completamente, cada uma delas era como uma marca de um passado distante mas que não foi inteiramente esquecido por sua mente cansada e autodestrutiva, aquele homem, o homem que deveria ser seu pai tinha feito um excelente trabalho o deixando fora de si mesmo depois de deixar aquela casa e todas as torturas para trás, talvez a sombra que costumava dançar sobre suas íris fosse apenas ele, o lembrando de tudo até que o dia de sua morte chegasse ou alguém viesse matá-lo.

Ainda existia aquela enorme questão, o verdadeiro intuito por trás da ideia de fazê-lo ser um monstro não muito diferente de si próprio, não fazia sentido alguma, tudo que Zhan tinha foi tirado de si cedo demais, seus pais verdadeiros, seus amigos e sua mãe adotiva, tudo que aquele homem deveria fazer depois de tê-lo tirado tudo, era acolhê-lo carinhosamente em seus braços mas nem isso ele foi capaz de fazer, preferiu condená-lo a uma existência miserável rodeado por corpos, sangue, pesadelos mesmo com os olhos abertos e um desejo mortal por vingança; vingança essa que viria somente quando a falta de controle cobrir inteiramente as íris castanhas como alguma vez já havia acontecido. Yibo sabia que assim como ele, que se lembrava de cada pessoa que matou a medida que sua sanidade voltava, Zhan também se lembrava das coisas que fez e quase até mesmo podia ouvi-los quando todas as luzes se apagavam, chamando por si, atrás da cortina de sangue que seu pai o fez deixar e que agora Haoxuan tentava expandir com toda sua maldita obsessão e ignorância, acreditando fielmente que sua doença era a chave para todas as resposta, algo semelhante há uma salvação, tolo, tão tolo quanto seu pai.

No momento, tudo que precisava fazer era manter Zhan consciente de si mesmo.

— Hoje à noite iremos ao Zhuocheng — apertou suavemente a mão de Zhan — Arrume-se de maneira adequada, ficaremos um pouco lá, você precisa se distrair. Não quero que continue pensando no que Haoxuan fez.

— Eu estou bem, Yibo — seus olhos caem sobre si — Apenas um pouco aéreo, não precisa se forçar a nada por mim. Sei que estamos indo até lá somente para saber sobre Inkigayo, eu realmente ficarei bem.

— A uma ala na parte de cima, um lugar mais calmo que no salão embaixo, podemos ficar lá por um parte da noite e depois irmos embora — sorri — Não me importo muito, te manterei ao meu lado a todo momento.

— Certo, eu quero dormir um pouco quando chegarmos em casa — solta o cinto para aproximar-se de Yibo — Me sinto cansado de repente — encosta sua cabeça sobre o ombro do outro, fechando seus olhos — Não quero pensar nisso, não quero pensar nele.

A voz de Zhan desaparece sutilmente no ar, sumindo devagar até que reste apenas sua respiração suave. Yibo olha para Ji Yang através do retrovisor, o olhar do outro permanece sobre Zhan antes de esbarrar com o seu, um sorriso cínico cobrindo os lábios finos de maneira leve, mesmo que não possa ver corretamente sua face apenas seus olhos, consegue imaginar a expressão que cobre seu rosto naquele momento.

— Haoxuan está fazendo um ótimo trabalho, daqui a pouco voltaremos a aqueles tempos em que as pessoas murmuravam por aí sobre ele — diz — O garoto que aproxima-se devagar pelas sombras, deixando sangue e corpos para trás.

— Isso não vai acontecer, eu o manterei dentro de sua consciência, nem que eu tenha que me ferir para isso — suspira — Não importa que eu tenha que matar ou tirar do caminho dele, eu apenas farei isso sem hesitar. Só preciso mantê-lo sobre a superfície até que isso acabe.

— Mesmo que se afogue no processo? — não há uma resposta vindo, mas Ji Yang já tem sua própria resposta — O amor deixa as pessoas loucas, espero que eu enlouqueça também.

Yibo carrega Zhan para dentro assim que estão em seu apartamento, ele não se incomoda em acordá-lo, o deixando dormir pelo restante da tarde enquanto permanece silenciosamente acomodada no sofá da sala, esperando que a noite chegue e assim eles possam sair, seus pensamentos inquietos fixos na imagem doce do garotinho que conheceu nos jardins daquela mansão. Quando a lua cobre suavemente o céu acompanha pela cortina escura recheada de estrelas, ele se veste elegantemente esperando que Zhan deixe seu quarto, nem sequer incomodou-se em acordá-lo pois pode ouvir seus passos lá dentro, não demora para que o outro esteja diante de seus olhos usando um camisa preta de gola alta e um smoke escuro por cima da mesma, um calça preta e sapatos sociais, ele parece tentadoramente belo naquelas roupas, quase desiste da ideia de sair desejando apenas manter-se dentro daquele apartamento explorando cada sentimento do corpo esguio com seus lábios, era verdadeiramente uma pena terem que ir até Zhuocheng.

— Preto lhe cai muito bem, estou impressionado — seus olhos brilham à medida que o observa — Sou realmente um homem de sorte por tê-lo aqui, ao meu lado.

— Você também está bonito, as pessoas olharão para você a noite inteira — segura a mão que é estendida para si, sentindo seu coração bater confuso quando os lábios quentes tocaram as costas de sua mão.

— Certamente não será em mim que prestarão atenção, tenho certeza disso — o puxa para perto — Não poderei tirar meus olhos de você, seria perigoso que alguém arrancasse você de minhas mãos. Em um passado não muito distante, alguns homens matariam para terem uma joia preciosa como você.

— É estranho, você continua agindo como...como alguém que...se jogaria aos meus pés facilmente — encara os olhos escuros — Continua me adorando, com os deuses antigos eram adorados.

— Zhan, você não ainda não tem noção do que pode fazer comigo — sorri, afastando-se para poder guiá-lo em direção a porta — Mas se eu fosse homem santo, e você fosse o maior pecado para todos aqueles que vivem na fé, eu me renderia você sem nem mesmo hesitar, um inferno ao qual eu iria de boa vontade.

Os olhos castanhos se acendem por breves segundos, um desejo minimo que vagarosamente emergiram para fora seguido por suas palavras, mas tão rápido quanto vieram eles se foram, deixando somente ali aquela plena vontade inconsciente dentro de sua pele. A imagem de Zhan tocando-se desesperadamente enquanto murmurava seu nome entre seus gemidos e arfares cobre seus pensamentos como uma névoa, enquanto o guia pelo corredor o segurando próximo ao seu corpo, jura a si mesmo matar aquela sua vontade pecaminosa, tocá-lo e dá-lo prazer até que esteja queimando entre seus braços incapaz de afastar-se implorando por mais e mais de tudo que pode oferecê-lo, parando somente quando ambos corpos estivessem saciados e suados pelas horas incontaveis que permaneceram perdidos um no outro debaixo dos lençóis de sua cama.

— Um homem que iria até o inferno por mim — Zhan diz, assim que as portas pesadas de metal do elevador se fecham — Ou um homem que me levaria até o inferno?

— Eu diria ambos, eu estive no inferno por voce — suas palavras saem arrastada, em um tom baixo como se estivesse a fazer-lhe uma confissão — Mas também o levaria ao inferno para salva-lo, mesmo que voce não seja um maldito pecador como eu, Zhan.

Aquelas palavras não tinham um significado profundo, talvez para alguns tivessem, mas por um lado simples, Yibo apenas disse a Zhan que por ele deixaria de ser um homem bom, para ser o homem que se tornaria mal para mantê-lo seguro. Aquele que esteve no inferno e aquele que o levou para o inferno.

White Crow - YiZhan - 1 Temporada.Onde histórias criam vida. Descubra agora