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-" Bryana já vai dar 19 horas, quero vocês aqui antes disso!"

Minha chefe grita do telefone.

- Tudo bem, não iremos demorar prometo...

- Acho bom, os clientes vão chegar daqui a pouco, cheguem atrasadas e receberão metade do que recebem... Eu tou avisando...

Leonor chega, entra no quarto e vem a passos largos:

- Cheguei então dá-licença!- Esbraveja Leona tomando o telefone da minha mão e desligando a ligação na cara dela.

- Ainda bem que chegou, ela tava querendo me esfolar pelo celular.

- Affz velha asquerosa...

- Anda, escolhe o melhor vestido.- Fala abrindo o guarda roupa.

- Falou quem já tá arrumada...

Ela levanta os braços em rendição.

- Pelo amor né Bry...

Leona é uma morena, de cabelo curto, com cara de poucos amigos, que ama um jeans rasgado, ama falar o que pensa e despensa perder tempo. Se ela tiver algo a dizer, vai dizer na lata, curta e grossa. Mais como amiga, se doa como ninguém, a tenho como uma irmã. Um pouco mais nova que eu, com apenas 26 anos.

Estou vestida de meia calça arrastão, make quase pronta e espartilho jogo meu minivestido vermelho. Leona fica nua em segundos, coloca sua meia calça branca até o joelho, calça um salto plataforma e um minivestido que vai até metade da coxa, seus peitos ficam a mostra. Nos encaramos e começamos a rir uma da outra.

Caramba, vamos chegar atrasadas de novo.

- Toda vez é isso Robson, você acredita?!?- Vocifero com ar zombeteiro.

Ele ri dirigindo o carro e nos levando pro hotel cinco estrelas, onde apenas senhoras trabalham garantindo seu pão de cada dia com tricô e venda de salgados. Tudo conceitual e tradicional.

- Olha quem fala, Robson ela é a atração da casa, ela que deveria estar vestida, só me esperando na sala...- Rosna olhando seu reflexo no espelho e dando uns retoques de baton rosa nos lábios.

Dou um tapa em sua coxa. Ela ri.

- Tudo o que eu sei meninas é que vocês não devem contrariar Lucy, lembrem ela é a dona do hotel.- Murmura pacientemente Robson, desviando de um ônibus em nossa frente.

Leona solta um riso e dispara:

- Hotel Robson? Você quer dizer cabaré.

Olho pra ela, nos encaramos e começamos a rir.

- Sim, senhorita Leona um cabaré, mais até os cabarés precisam de obrigações e respeito.

Me aproximo e bato de leve em seu ombro concordando com ele.

- Verdade Robson, tiro meu chapéu pra você, no cabaré precisa-se de respeito, peito, peito!

Robson me olha do retrovisor e começamos a rir os três.

Robson é um homem bom, um senhor de 50 anos, que uma vez ou outra tem tosses catarrentas e sofre de bipolaridade, nos conhecemos em um hospital, num dia em que seu transtorno estava mais visível. Eu passava mal achando estar grávida e ele tratava todo mundo mal enquanto tomava soro. Começamos a conversar e hoje sabemos tudo um do outro. O trato como um avô e ele me respeita e cuida como a uma neta. Sua família? Os únicos que ficaram com ele foram seu cachorro e seu gato, os quais ele cuida com todo amor do mundo, filhos e mulher o abandonaram, mais ele não desistiu dele mesmo, nunca, agora ele vive bem, um pouco próximo do cabaréque trabalhamos, em uma casa alugada, porém bem confortável, já fui lá visitá-lo no Natal com Aslan. E hoje Robson se tornou nosso uber.

- Chegamos!- Ele fala, parando em frente a um posto de gasolina, a alguns passos está nosso destino.

Saio do carro e pago Robson, antes de sair ele beija minha testa.

- Robson, te trata como uma neta né não?!?- Sussurra Leona.

- Sim, sim...

Seguro as lágrimas, como é possível que alguém que nem sequer me viu nascer me trata melhor que aqueles que se denominam meus pais.

Fotos:👆
Do lado esquerdo: Leona.
Do lado direito: Sol.

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