Capítulo - 23

617 55 0
                                    

Emmett Cullen

Aquela risada alta e escandalosa me fazia trincar os dentes com um rosnado baixo, Camilly Vents era uma vampira com mais de cem anos de idade e era muito linda, morena e de cabelos lisos. Quando a conheci, foi há trinta anos atrás em uma viagem pela Suécia, numa caçada e desde aquela época tínhamos ficado bem próximo, próximo ao ponto de namoramos. De início, tudo era uma beleza, uma maravilha, ela era perfeita, ela não tinha defeito...

Tudo o que um homem, ainda vampiro, podia querer. Só que com o tempo as coisas passaram a mudar, ela tinha mudado. Mudado em todos os sentidos,

Ela não era mais a mulher que eu tinha se apaixonado.

Suas atitudes não eram mais as mesmas.

Acho que todo aquele amor cego foi se perdendo, sumindo e que hoje eu vejo e dou graças a Deus.

Mas o término definitivo veio quando ela tentou me obrigar a beber sangue humano.

- Ela tentou o quê ? - Edward rosnou ao meu lado. Suas mãos prendiam os meus braços e tentavam me impedir de arrancar a cabeça da vadia. - Como? - Voltou a pergunta, confuso e não o culpo. Ninguém sabia disso. - Por que?

Bufei e realmente, a pergunta era tão óbvia que me dava dor de cabeça, isso se vampiros tivessem dor de cabeça.

- Não venha com ironia Emmett!

- Então não venha lendo a minha mente, Ed! - Rosnei ao me soltar dele. Lembrar daquele dia foi ruim. - Vocês adoravam ela, o que eu podia fazer?

Ele rosnou e eu revirei os olhos.

- Podia ter nos contado...

- Ah claro, o que iria mudar? - Rebati e comecei a andar de um lado ao outro. Estávamos no quintal da casa, praticamente no jardim. Tenho que me lembrar de não destruir, Esme me mataria. - Em quem vocês iriam acreditar? Jasper não estava na época e ela tinha vocês enrolado na ponta do dedo os fazendo de trouxa.

Parei e olhei para ele, expressão de culpa por que? Se julga tão inteligente mas caiu perfeitamente no papel de boazinha dessa vadia.

- Você não estava em uma boa fase e parecia estar te fazendo bem.

- Oh, obrigado por me lembrar. - Debochei com rosnado e virei o olhar para a floresta. - Quase fui fraco na época e mesmo estando muito ruim, os ensinamentos de nosso pai sempre esteve presente. - Murmurei baixo. Éramos vampiros e Ed podia ouvir muito bem, apesar da idade avançada. - Eu não podia e....

...

" Meus olhos estavam escuro devido a sede, de longe a cor dourada não era tão presente quanto antes. Havia mais de meses que não se alimentava e não sentia "fome", tudo era um vazio qualquer. No meu reflexo, tudo o que enxergava era um fantasma, uma sombra de quem antigamente eu era. É muito difícil definir um sentimento, ou vários sendo vampiros.

Uma "depressão vampírica" dizia Carlisle.

E eu diria que foi um luto que demorei a entender e a processar. Uma filha, uma esposa.

Duas pessoas que mais havia amado durante o seu tempo como humano e que havia permanecido depois da sua transformação, estavam mortas.

Mortos por alguém da mesma raça. Mortos pela mesma coisa que eu estava se tornando e não pude fazer nada para as proteger. Chegar em casa e ver aquela cena delas mortas, com perfurações em seus pescoços e sem sangue algum nos seus corpos me destruiu de dentro para fora.

Minha filha tinha 12 anos.

12 anos! Era tão nova para morrer daquela forma.

A culpa me corroía, tirava e matava pouco a pouco aquele quem eu era. Me culpava por não conseguir as proteger, uma culpa tão grande por não ir atrás do assassino delas, me culpei por simplesmente ter "travado". Eu era forte, um vampiro, eu podia ter ido atrás, ter feito algo mas...

A dor tão gritante me resumia a um nada, a um fraco, a uma simples casca vazia. Quem eu era tinha se perdido em algum lugar da minha mente.

Foram meses dentro de um quarto, sem falar com alguém ou fazer qualquer coisa. Foram meses olhando para um pote com as cinzas da minha garotinha e da minha esposa. Meg e Kate McCarthy.

"Faça uma viagem para distrair a mente" Sugeriu Esme e foi o que fiz, viajei para Suécia porque era um sonho da minha filha ir para lá e era naquele lugar que eu queria jogar as suas cinzas. E foi lá que conheci o pior arrependimento da minha vida.

Ter me relacionado com Camilly.

Fui cego, burro e na época parecia o certo me relacionar com ela, ela me fazia feliz, ela preenchia o vazio que estava em meu peito, ela era o brilho que iluminava a minha escuridão.

E ela acabou virando uma simples miragem de quem não era. As lentes de contato, o cheiro de sangue humano que sempre estavam presentes a sua volta. "Gosto de ficar mudando as cores dos meus olhos" disse Camilly, uma desculpa que ela deu quando a questionei e que antes não enxergava. "Tenho amigos que se alimentam de humanos" outra mentira para quem jorrava ao quatro ventos que repudia esses tipos de vampiros.

Eu estava apaixonado, cego em um escuro e não conseguia ver o que estava bem na minha frente, os sentimentos que tive por ela me impedia de enxergar a verdade.

Foram quase dois anos, dois anos de uma mentira inteira. Morávamos ainda na Suécia, porque ela queria continuar lá, continuar morando no lugar que odiava, algo que não entendia na época ou me fazia desentendido. Por que eu ainda estava de luto, naquela escuridão e Camilly era tudo que me afastava do abismo.

E desde que havia chegado na Suécia não tinha visitado nem um dos pontos turísticos e evitava ir nesses lugares que me lembrava a elas. Me lembrava de estar sentado junto delas em uma sala, no chão cheio de panfletos turísticos. Me lembrava da risada infantil de Mag, era tão alegre e animada quando me mostrava as imagens nos lugares que queria visitar.

"Aqui papai, não seja cego. " Disse alta nas minhas lembranças. Era o lugar que ela queria ir, Djurgården. " Quero ir lá." Mostrou com o dedo a ilha que ficava na capital, havia um grande parque de diversas atrações. "Não é perfeito, papa? Só um cego não veria a verdadeira perfeição"

Lembro de ter sorrido, eu a considerava tão inteligente para pouca idade, achava que ela podia enxergar mais que aparentava e de fato podia.

"Perfeição?" Tinha perguntado, o cheiro característico de Mag ainda era forte na mente, o cheiro de filhote. Mesmo sendo um vampiro, transformado depois de seu nascimento , nunca vi nada além de minha filha, uma filha que tanto amava. Meu "monstro interior" ficava calmo, dormente quando ficava na sua presença, eu era só Emmett e não o vampiro, não o humano, só era o pai de uma menina que na qual se orgulhava tanto. "E só um parque, princesa."

"Mente fechada não enxerga o além, papa" Ali estava a sua inteligência afiada, sorri em meio as lembranças, era incrível ver ela falar com tanta sabedoria para alguém que não viveu nem o começo da vida " A gente enxerga só o que queremos enxergar" Disse rindo quando Kate a pegou no colo e rodou com ela pela sala. "Agora tô vendo a mamãe como um carrossel de cavalinho"

Aquele dia, era o que está mais fresco na memória até porque foi o último dia que as vi em vida.

Visitar a ilha de Djurgården foi uma decisão difícil, estava sozinho no hotel que Camilly e eu estávamos hospedados, ela tinha saído para fazer sei lá o que - nunca tinha perguntado o que fazia nesse tempo de relacionamento - era de noite, o quarto estava escuro e era nessas horas que a dor retornava com as lembranças vividas na minha mente. Não aceitava que elas tinham morrido, sua namorada por mais que "amasse" nunca substituiria o amor que nutria por elas é até por isso que era difícil aceitar ou até mesmo, superar o que aconteceu.

Vivia no automático, sorria, brincava, tentava voltar a ser o antigo eu do passado mesmo com Camilly não gostando da ideia - ela não aprovava a outra versão - era como um robô que só observava de dentro mas que nunca se manifestava. Nada era verdadeiro.

Ligação de Sangue - Livro 01 Onde histórias criam vida. Descubra agora