Capítulo 2 - Sakura

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Neste momento eu tenho um ano de idade e já estou engatinhando, o que me causa imenso alívio por não ser carregada como uma boneca de pano.


Eles não sabem que consigo falar frases completas e insistem em me fazer pelo menos balbuciar. Outras crianças já falavam mamãe e papai mas o fato de eu nem mesmo fazer sons pequenos os deixam muito preocupados.

Estou no chão da sala agora com um coelho de pelúcia me dado para brincar. Talvez se eu o olhasse com desinteresse o suficiente essa coisa sumiria da face da terra e nunca mais aparecesse na minha vista.

Mebuki está fazendo almoço, e o Kisashi trabalhando, acho que é comerciante, talvez ele venda tecidos.

Eu não vou fingir que não tem um enorme problema nesta sala comigo agora.

Um fodido problema que eu não consigo ignorar tão fácil.

Eu estou na merda de um país ninja, com ninjas, com shurikens, kunais e a merda de super poderes. Como eu descobri isso ? Nossa vizinha, uma senhora que tem a falta de alguns dentes e já em uma idade avançada entrou aqui em casa a convite da Mebuki ... pela janela, pela porra da janela !

Mebuki, deve ter notado eu encarando demais ou algo assim e me jogou um:

- Você parece interessada, sabe apesar da idade ela já foi uma ninja muito habilidosa - A mulher sorriu contente e foi cumprimentar a vizinha.

Eu me recusei a aceitar esta realidade por alguns bons mêses, e eu tentei...eu ignorei os ninjas pisando no telhado a cada quarenta minutos, eu fingi que não vi um garoto de dez anos atirar uma bola de fogo pela boca e até mesmo me fiz de sonsa quando um ninja vestido de preto, portando uma fucking katana pulou de um telhado no meio da rua atrás de um ladrão.

Mas a vida não é um morango, então engoli a descrença, o medo e a falta de vontade de descobrir o que é tudo isso e fui me virar.

Quando eles dormiam eu pulava o berço e pegava os livros mais baixos da estante. Eu lia o que conseguia e podia até saber o básico e o que eu queria ou não saber, por exemplo o que é a energia que vem de dentro, que os permite fazer os "jutsus".

Foi um ano com muitas novidades.. eu quero sair daqui, mas tem os novos problemas que eu não considerei.

Como eu não tenho dinheiro.

Não consigo andar.

Não sei como este país ou essa vila funcionam e mesmo que eu saia daqui eu não acho que possa lutar com um ninja e viver para contar história. Eu li que as mulheres kunoichi que são capturadas podem sofrer bem mais que os homens, estupradas, vendidas, mortas ou usadas.

Eu não quero acabar desta maneira, eu sei me defender de muitas coisas, mas não tenho idéia de como fugir de ninjas com habilidades sobre-humanas.

Eu poderia fazer missões pequenas por enquanto. Se eu crescer um pouco mais consigo trabalhar como caçadora de recompensas.

Enquanto penso tento me equilibrar para ficar de pé sem que Mebuki percebia e acabo caindo nos primeiros quatro passos

- Um passo de cada vez - Sussurro para mim mesma com paciência e repetindo o processo, andando um pouco mais agora.

Parando para pensar, eu preciso me defender.

Eu quero viver em paz, mas não tenho um plano.

Foi ai que me veio a mente enquanto estou sentada depois de cair novamente.

Sempre ouvi que seria tudo mais fácil se eu fosse homem.

Eu enfrentei muitos imbecis que achavam que uma parte íntima masculina os fazia superiores e quer saber ?

Foda-se eles !

Fui a melhor e sempre serei a melhor, mas ... talvez isso seja uma boa maneira de me defender.

Eu não teria que passar por certos tipos de situações. Como ter um merda qualquer batendo na minha bunda quando eu andasse na rua - isso já me aconteceu.

Um lampejo de reconhecimento passou pela minha cabeça enquanto eu focava meus olhos na janela.

Observei os rostos de pedra esculpidos de alguns antigos líderes e minha face se transformou pela primeira vez em um pequeno sorriso.

É isso, este é meu plano.

- Ai meu deus ! Você sorriu ! Eu vou pegar a câmera - A mulher exclamou enquanto seus olhos se arregalaram, falei que ela poderia ser meio histérica.

Bem ela conseguiu a foto...

Deixe para lá, não me importo.

- Eu sabia que você é normal. Quase não consigo esperar para mostrar foto ao seu pai, seu primeiro sorriso.

Seus olhos pareciam querer soltar lágrimas de orgulho que não entendi muito bem enquanto ela me segurava no colo.

Eu vou me disfarçar como um homem de dia e de noite posso retirar o disfarce para fazer trabalhos sem levantar muitas suspeitas. Meu sorriso se alargou mais expondo os pequenos brotinhos perolados de dentes frágeis que minha boca abrigava.

Se eu matar alguém irão procurar um homem sem saberem que na realidade deveriam procurar uma mulher.

É decente por enquanto.

E se alguém entrar no meu caminho...

Paro de sorrir voltando a minha face de desinteresse com lábios retos e olhos afiados comos os de um lince.

Eu vou eliminar qualquer um que tente me impedir.

-Ah, parou de sorrir.

- Faz de novo, vamos !  Olha o aviãozinho.

Seu olhar brilhou com tristeza enquanto sua mão cutucou minhas bochechas persistentemente.

Mandar ela se fuder seriam boas primeiras palavras porém não quero conversar com ninguém, então vamos por hora calar a boca.

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