Capítulo III - Noite De Jogos

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Komi

O tempo passou e praticamente não fiz nada. Quando sai da reunião com os devotos e Chapeleiro, fui até meu quarto e passei lá a manhã descansando para ter energias para o jogo que iria participar daqui a poucas horas. Poderia ser qualquer naipe e qualquer nível de dificuldade. Tinha que estar preparada.

Já é tarde, está escurecendo e decidi ir até o terraço para estar sozinha, longe do barulho e da multidão de gente. Estava vendo as pessoas caminhando de um lado para o outro e dançando.

Por mais que parecesse um sítio utópico, odiava estar aqui.

Mas para o meu bem, teria que cooperar e fazer a minha parte.

As horas passavam lentamente, até parecia proposital nos dias em que teria que jogar. Não conhecia ninguém naquele sítio, tirando o Niragi, e isso fazia com que tudo fosse mais doloroso. Se eu conhecesse alguém, poderia conversar e afastar os pensamentos ruins da minha cabeça.

Mas não.
Não tinha ninguém.

O clima estava fresco e fazia o meu corpo arrepiar. O vento fazia os meus cabelos voarem e eu adorava essa sensação. Sempre gostei do clima mais frio, era bem mais legal. Adorava estudar ao som da chuva e do vento e gostava de ver filmes de terror ao som de trovoada. Tudo isso acabou quando entrei neste mundo. Estudar, ver filmes, ver séries...

Fui tirada de meus pensamentos quando ouvi passos vindo da porta que dava acesso ao terraço. Olhei para essa direção e percebi a presença de um garoto platinado, baixo e que vestia um casaco branco, sem nada por baixo e uma bermuda cinza-escuro. Ele estava me encarando com uma expressão que não conseguia perceber qual era.

Ele pareceria misterioso e quando percebeu que eu estava olhando para ele, foi se aproximando lentamente com as mãos no bolso do casaco. 

Parecia ser uma pessoa interessante. Ou apenas para mim, já que gostava de pessoas misteriosas e ele parecia ser.

O garoto se encostou no muro do meu lado e ficou encarando o chão até o seu olhar vir até mim. Eu não sabia o que fazer. Não sabia fazer amizades e nunca fui boa em ser a primeira pessoa a falar algo para quebrar o silêncio.

— Você é nova aqui na praia? — o garoto perguntou e agradeci a Deus por não precisar de ser eu a falar alguma coisa primeiro.

— Sim, cheguei ontem — respondi e o garoto sorriu.

— Me chamo Chishiya — virou o seu corpo ficando de frente para mim.

— Komi, o meu nome é Komi — fiquei também de frente para ele, mas encostei o meu braço no muro. — você está aqui faz muito tempo?

— Algum... — Chishiya fica encarando diretamente nos meus olhos e isso me deixava um pouco desconfortável. Parecia estar entrando na minha alma e vendo todos os meus pecados. Desvivei o olhar e o direcionei para as pessoas lá embaixo e ele fez o mesmo — você não parece gostar muito de estar aqui — ele falou e voltei a encarar o platinado que estava com um leve sorriso no seu rosto.

— Você gosta? — tentei observar as suas expressões faciais para tentar perceber se a resposta era um "sim" ou um "não" — parece que assim como eu, você também não gosta...

— Acho que é melhor a gente ir, está todo mundo entrando para ouvir o discurso do Chapeleiro — ele falou olhando para as pessoas que estavam entrando e então descemos as escadas indo até o saguão.

Descemos as escadas juntos, não muito rápido. Nós os dois estávamos em perfeito silêncio ao contrário das outras pessoas que iam apressadas até o saguão gritando. Me separei de Chishiya assim que chegámos lá.

Ele foi até uma garota e eu fiquei no fundo, longe da multidão que gritava enquanto esperavam por Chapeleiro.

No andar de cima estavam alguns membros da milícia e os devotos.
Não demorou muito até Chapeleiro chegar e as pessoas que estavam gritando ainda gritaram mais com a sua presença. Olhei para cima para onde o homem estava e quando olhei para a sua esquerda, vi Niragi me olhando. Chapeleiro começou a fazer o seu discurso e muito sinceramente, não prestei atenção em quase nada que ele falou.

Me sentia observada e tentava procurar pela pessoa. Por mais que Niragi estivesse olhando em minha direção, sabia que não era por ele que eu estava tendo essa sensação, havia mais alguém.

Olhei durante longos segundos por todos os cantos até ver Chishiya e perceber que era ele. Ele desviou o olhar assim que percebeu o meu, mas antes um sorriso se fez presente em seu rosto me deixando confusa. Porque ele estava olhando para mim?

Eu finalmente prestei atenção no que Chapeleiro falava, mas não conseguia evitar olhar para Niragi que parecia estar me julgando por algum motivo. Não entendi bem, mas ele sempre foi muito aleatório, então apenas ignorei.

O chapeleiro terminou o seu discurso e todos gritaram e saíram do saguão indo em direção aos carros do respetivo número que tinham. Eu tinha o número 3 então tinha que procurar pelo carro desse número.

Fui até o lado de fora e todo mundo estava lá, o que era normal. Com o mar de pessoas no estacionamento, era difícil perceber qual o carro que teria que ir, e isso, por si só, já estava me deixando muito estressada.

À medida que as pessoas iam entrando nos carros, ficava mais fácil de visualizar o local e após poucos segundos, consegui encontrar o carro para onde tinha que ir.

Quando entrei vi que tinha mais três pessoas lá. Os dois lugares da frente estavam ocupados por dois garotos que pareciam ambos da milícia e do meu lado direito, Chishiya.

— Você aqui? — ele perguntou me encarando e dando um sorriso de lado.

— É... parece que sim... — sorri e virei o rosto para ver a paisagem.

Não demorou muito para todos os carros saírem da Praia e irem em direção aos respetivos jogos.

Estava ainda mais escuro do que quando estava no terraço, a cidade estava sem luz e isso dificultava a visibilidade da paisagem. Estava nervosa e precisava de esquecer um pouco os pensamentos antes do jogo para que tudo desse certo. Por mais que eu tenha concluído tantos jogos, eu sempre ficava com medo de não regressar. Não queria de jeito nenhum morrer, mesmo a minha mente me instruindo a desistir. Não ia desistir facilmente.

Não ia!

Chegamos no local e percebi ser um edifício com apenas um andar. Saí do carro e Chishiya foi em minha direção, ficando do meu lado e encostando no carro, assim como eu, observando aquele sítio.

— Você está preparada? — ele perguntou sem me encarar e continuava com os seus olhos fixos no edifício iluminado.

— Nunca estarei preparada para isto...

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