Capítulo VI - Briga

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Komi

O clima entre Niragi e Chishiya estava estranho. Niragi por algum motivo estava com raiva e eu não conseguia perceber o porquê.

Será que ele não gostava de Chishiya? E se eles não se gostam, qual será motivo?

Dúvidas rodeavam a minha cabeça e depois de muito tempo encarando Chishiya, Niragi passou a me encarar mudando o seu olhar para um que eu não conseguia decifrar. Ele me puxou pelo braço e eu arregalei os olhos olhando para ele não entendendo o que estava acontecendo.

— Espera! — exclamei, fazendo Niragi me encarar — O que está rolando? — olhei para Niragi e depois para Chishiya que continuava com o mesmo olhar de sempre, um olhar de indiferença e com as suas mãos nos bolsos do casaco branco. Niragi não falou nada, apenas me encarou e aquilo de certa forma me dava raiva. Eu queria perceber o que estava acontecendo, mas por algum motivo não queriam me contar. — Você não vai falar? — tentei perguntar mais uma vez, recebendo o mesmo olhar dos dois.

— Eu quero você longe dela — aponta para Chishiya e um sorriso cínico se forma em seu rosto.

— E se eu não ficar? O que você vai fazer? — olhei para Niragi que ficou com mais raiva do que antes e se afastou de mim indo em direção a Chishiya e apontando a sua arma para ele.

Fui até os dois e tentei afastar Niragi e fazê-lo parar, mas foi em vão já que ele me soltou e voltou a sua atenção para Chishiya.

— Não me provoque — disse entredentes. — Ou eu mato você!

Confesso que me assustei. Era a primeira vez que via Niragi assim. Eu sabia que ele era um pouco impulsivo, mas não tanto ao ponto de ter tanta raiva e querer matar alguém. Este mundo o mudou ainda mais, e isso era notável.

Niragi voltou a sua atenção para mim e me puxou para longe de Chishiya me levando até uma sala que estava vazia.

— Eu vou falar, mas não na frente dele — fecha a porta à chave e a guarda no bolso. Ele me encarou, ainda com um pouco de raiva e foi se aproximando de mim. — Chishiya não é uma pessoa de confiança, acredite em mim. Não quero você perto dele.

— Já percebi que vocês têm uma briga rolando, mas eu não tenho nada a ver com isso — falei e percebi o seu olhar mudar e os seus olhos agora pareciam chamas por conta da raiva que era nítida. Viro as costas para Niragi e vou em direção à porta, parando e lembrando que o garoto tinha trancado e que a chave estava com ele. — mas não se preocupa, eu vou ter cuidado — voltei a encará-lo e dei um leve sorriso. — pode abrir a porta? Ou vamos ficar aqui até o laser cair na cabeça porque não fomos jogar? — o encaro com uma expressão cínica em meu rosto, que muito provavelmente ele tinha notado, já que também retribuiu com um sorriso.

Ele foi se aproximando e ficou bem perto do meu rosto. Ele beijou o canto do meu lábio e confesso que até gostei da sua atitude, já que não era a primeira vez que fazia isso.

— Às suas ordens, minha princesa — passou por mim indo em direção à porta, a destrancando e abrindo logo em seguida, dando espaço para que saísse na frente dele.

Olhei para trás brevemente, piscando o meu olho direito e recebendo um sorriso do garoto.

Como estava com fome por não comer nada desde antes do jogo, fui até o refeitório para comer algo. Não parava de pensar no que Niragi me tinha dito e não sabia se me afastava ou não de Chishiya. Uma parte de mim queria se afastar, mas a outra parte queria que eu me aproximasse e conhecesse melhor o garoto. Ele era misterioso e queria saber mais sobre ele.

Chegando lá haviam várias pessoas em grupinhos comendo e conversando. O som da música alta que vinha do lado de fora era mais forte naquela zona por ser perto da área da piscina onde as pessoas passavam o tempo se divertindo.

De longe vi Chishiya. Ele estava em uma mesa mais afastada do mar de pessoas que estavam presentes no local e estava acompanhado da mesma garota que vi ontem, antes do jogo.

Eu queria ir até lá, mas não queria interromper o que quer que eles estejam falando e também porque eu ainda não conhecia a garota. Será que era a namorada dele? Não sei, mas não queria me intrometer e acabar me ferrando caso fosse.

Apenas peguei em um pacote de bolacha e um sumo, sentando em uma mesa que estava livre e um pouco próxima de onde Chishiya estava, já que naquela zona, não estava tanta gente.

Ouvi alguém me chamando e logo presumi ser Chishiya já que ele era a única pessoa que me conhecia para além de Niragi e dos devotos que falaram comigo quando cheguei.

Me virei em sua direção, vi os dois olhando para mim e a garota fez um sinal para ir até eles. Assim fiz e fiquei em pé esperando eles dizerem algo.

— Você pode sentar se quiser — a garota falou e sorriu amigavelmente para mim.

— Ah, claro — me sentei ficando de frente para os dois que me encaravam. Confesso que estava um pouco desconfortável perante aquela situação, mas tentei disfarçar para que não percebessem.

— Meu nome é Kuina, e o seu? — quebrou o silêncio constrangedor que permaneceu alguns segundos naquela mesa.

— Komi...

— Gostei do nome. Gostava de ser sua amiga... — ela esticou a mão e eu a apertei gentilmente. Ela me encarava e eu a encarava. Parecia que por segundos, o tempo tinha travado e só nós duas estávamos ali.

Não dei conta que paralisei enquanto analisava a beleza da garota. Pele macia, olhos pequenos e bonitos, sua boca macia e também pequena. Tudo nela era bonito.

— Você está bem? — Kuina pergunta enquanto me observava com um sorriso em seu rosto. Chishiya intercalava o seu olhar entre mim e Kuina, mas com o mesmo olhar de sempre. Indiferença.

— Você paralisou — riu — no que você estava pensando?

— Em Niragi? — Chishiya que até agora estava calado, se pronunciou e me encarou com um sorriso no rosto.

— Não — o olhei — estava pensando... hmm... nos visas — sorri de modo a tentar parecer convincente.

Seria ridículo eu falar: paralisei porque estava observando a beleza de Kuina. 

Seria muito ridículo.

— Mas já que fala em Niragi, o que esta acontecendo entre vocês dois? — passei a observar Chishiya com um olhar sério e ele continuou comendo me observando também. Os nossos olhares estavam penetrados um no outro, quase como se quem piscasse, perdesse.

— Se Niragi não te falou nada, não vou ser eu que vou falar — disse ríspido ainda com o seu olhar cravado no meu — a única coisa que posso dizer é que ele, de certa forma, é muito parecido comigo — se levantou com o pacote de bolacha em suas mãos. — e eu não gosto nem um pouco disso — foi a última coisa que disse antes de ir embora e me deixar sozinha.

Kuina, antes de sair atrás de Chishiya, me olhou e deu um leve sorriso, não sendo retribuído por estar em choque com o que ele acabara de dizer.

Como assim parecidos?

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