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CAMILA

SE TIVESSE QUE ESCOLHER ENTRE a morte e o mercado Zippy Mart de Buford, Cami ficaria indecisa. Na Terra dos Mortos ela esperava que a comida fosse mais fresca.

- Ainda não entendi - resmungou o treinador Hedge, andando pelo corredor principal do mercado. - Eles batizaram uma cidade inteira com o nome da mesa do Leo?

- Acho que a cidade veio primeiro, treinador - opinou Nico.

- Ah. - O treinador pegou da prateleira uma caixa de donuts se desfazendo em farelos. - Deve ser. Estes donuts parecem ter uns cem anos, no mínimo. Que saudade daquelas tais farturas de Portugal.

Cami conteve a careta, ela definitivamente não sentia falta dos lobos.

Eles compraram um kit de primeiros socorros, um bloco de papel (para o treinador Hedge escrever mais mensagens em aviõezinhos de papel para a esposa), alguns biscoitos industrializados e refrigerante (já que a mesa da tenda mágica de Reyna só fornecia alimentos saudáveis e água fresca), sementes frescas (já que as de Cami tinham acabado) e alguns itens de camping para o treinador Hedge montar aquelas suas armadilhas inúteis, mas incrivelmente complicadas. Nico estava na esperança de encontrar roupas novas para comprar.

Haviam deixado San Juan dois dias antes, e ele estava cansado de andar por aí com a camisa florida da ISLA DEL ENCANTORICO, ainda mais com o treinador Hedge vestindo uma igual, Cami achava que eles estavam uma graça combinando, enquanto ela usava uma camiseta branca lisa com shorts jeans azuis e um kimono florido por cima.

Os três voltaram para o acampamento por uma estrada de pista dupla sob o sola brasador. Aquela parte da Carolina do Sul parecia formada principalmente por campos cobertos de mato pontuados por postes e árvores cobertas de trepadeiras kudzu. O centro da cidade era uma coleção de barracões de metal portáteis (seis ou sete, provavelmente o mesmo número de habitantes de Buford inteira). Cami, Nico e Hedge não tiveram dificuldades em encontrar o caminho de volta para o acampamento: a Atena Partenos era o ponto de referência mais alto em um raio de quilômetros. Sob sua nova rede de camuflagem, a estátua reluzia com um brilho prateado, como um fantasma de doze metros exageradamente ofuscante. Pelo visto a Atena Partenos queria que eles visitassem um lugar com caráter educativo, pois tinha aterrissado bem ao lado de um marco histórico em que se lia MASSACRE DE BUFORD, em um acostamento de cascalho no cruzamento do Nada como Lugar Nenhum.
A barraca de Reyna estava armada em um bosque a cerca de trinta metros da estrada. Havia um monumento retangular formado por centenas de pedras empilhadas na forma de um túmulo enorme. A lápide era um obelisco gigante, e espalhado em volta havia coroas esmaecidas e buquês de flores de plástico pisoteadas, o que tornava o lugar ainda mais triste. Aurum e Argentum estavam na mata brincando de correr atrás de uma das bolas de borracha do treinador. Desde que tinham sido consertados pelas amazonas, os dois viviam alegres e cheios de energia - ao contrário de sua dona. Reyna estava sentada de pernas cruzadas na entrada da barraca, olhando fixamente para o obelisco funerário. Mal tinha aberto a boca desde a fuga de San Juan, dois dias antes. Nesses dois dias, eles não tinham encontrado monstros, o que preocupava Cami. Eles não sabiam o que havia acontecido com Hylla nem com Thalia, nem com o gigante Órion. Toda vez que tentavam perguntar a Reyna sobre o incidente na rua San José -sobre os fantasmas na sacada, todos olhando para ela, sussurrando acusações -, Reyna se fechava e os afastava.

Reyna ergueu os olhos quando os três se aproximaram.

- Eu descobri.

- Que lugar histórico é este? - perguntou Hedge. - Que bom, porque eu já estava ficando maluco.

- A Batalha de Waxhaws - disse ela.

- Ah, sim... - O treinador assentiu com um ar grave. - Foi um massacre extremamente cruel.

AFTERGLOW pt. 2 [Percy Jackson]Onde histórias criam vida. Descubra agora