02. sempre estou preocupada

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O cochilo dura apenas trinta minutos.

Jennie levanta num pulo, em alerta, mas não encontra nada de diferente, ela continuava na mesma cadeira de hospital. Porém, tudo estava um pouco mais calmo do que usual e havia menos pessoas transitando. Isso não a conforta, só a apavora mais. 

E se ela perdeu alguma coisa? E se o médico procurou por algum parente de Jisoo? E se algo tivesse acontecido? Jennie nunca se perdoaria por deixar Jisoo pegar aquele skate, justo aquele maldito skate.

A única normalidade era a menina sentada numa mesa de centro reservada para as crianças pintando com giz de cera. 

Jennie levanta, estalando as juntas castigadas pelo assento e vai até ela. "Ei, garota. Viu se alguém veio até aqui?"

Ela balança a cabeça negativamente sem encarar Jennie, murmurando o lalala apenas para si.

Como essa menina consegue ser tão tranquila num ambiente tão mórbido?

As poucas crianças com quem Jennie teve contato geralmente eram elétricas e insuportáveis. Essa não, ela era apenas calma e feliz com sua folha de papel e giz de cera. 

Jennie sente inveja.

"Olha, o que fiz." o serzinho ergue a folha e mostra sua criação.

A fachada do Taco Bells.

Ela.

Um frio familiar a compenetra, como se ela estivesse caindo de um penhasco e antes de atingir o chão fosse abraçada uma última vez pela brisa.

Jennie chacoalha a cabeça. Era uma localidade conhecida e a vida sempre foi uma piada de mau gosto mesmo. "V-Você que fez?"

"Sim." a menina sorri, seu nariz esparrama de um jeito fofo. "Gostou?"

Jennie arrasta uma das cadeiras pequenas e senta, suas pernas ficam para fora. "Ficou feio."

Ela não se desculpa. Se aquela garota queria sobreviver precisava aprender a lidar com críticas porque o mundo podia ser cruel, Jennie sabia disso mais do que ninguém.

"Eu sei! Minhas mãos estão um pouco fracas hoje." a menina comenta, abrindo e fechando os dedos como se tentassem recuperar a vitalidade dos músculos.

"Gosta de desenhar?" Jennie tenta mudar de assunto para disfarçar sua falta de jeito com as pessoas e a criança assente, toda felizinha. "Gosto muito. E também gosto de pulseiras como a sua. Onde conseguiu ela?"

Os dedos finos apontam para o acessório com sete conchinhas do mar, a pulseira que Jennie nunca tirava do braço. Cada uma representava uma memória preciosa a qual ela se agarrava com todas as forças. A única coisa que sobrou dela.

"Foi a minha... A..." Jennie tenta encontrar uma resposta perfeita. Não existia uma. "Uma garota especial fez para mim" nega com a cabeça "Longa história."

"Oba!" A menina bate palma. "Me conta? Eu amo histórias." ela une as mãozinhas e pisca os olhos grandes, jogando todo seu charme infantil. "Por favor. Assim o tempo passa mais rápido."

Jennie rabisca um canto qualquer do papel, seu coração pulava e quebrava num loop infinito.

Ela queria contar.

Ela não queria contar.

"Por favorzinho." aqueles olhos acobreados a fitando cheio de curiosidade e inocência a jogam de volta no tempo, rebobinando suas memórias em retrospectiva.

Jennie suspira. "Certo."

"Yay" ela cruza as pernas em posição de índio e apoia o queixo nas mãos, pronta para escutar.

Alguém como ela merece ser reconhecida.

Jennie pega o desenho e o admira, sendo levada de volta para o dia em questão. "Eu já estive aqui antes, três anos atrás, por causa de uma garota. A minha garota..."

jennie, chaeyoung e a eternidade.Onde histórias criam vida. Descubra agora