Capítulo V: Trabalho Braçal.

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Estou enrolada em cobertas que não acabam mais. Sinto meu corpo ser chacoalhado, o calor gostoso daquele corpo grande que me abraçava se foi, estou estirada em um lugar espaçoso demais para somente uma pessoa.

Um bocejo escapa por meus lábios enquanto me encolho, gemendo de maneira preguiçosa. Sou chacoalhada outra vez, mas agora sinto a cama afundar em minha frente, um latido irritante chama minha atenção de algum lugar distante.

Franzo minhas sobrancelhas ao ouvir alguns resmungos e gritos estridentes, lentamente a consciência retorna ao meu cérebro e reconheço aquela risada baixa e os arrulhos insistentes.

Nem preciso descortinar minhas pálpebras para que meu peito esquente, mal ouço aqueles barulhinhos fofos e um sorriso me aparece.

Abro meus olhos devagar, piscando algumas vezes para que minhas pupilas se acostumem ao brilho que irradia da lâmpada acima da cama. Recosto a cabeça contra o travesseiro afofado, e me demoro alguns segundos para processar toda a composição da imagem que me dá "Bom Dia".

König ajoelhado sobre o colchão, ainda sem camisa, um véu negro quase igual ao de ontem cobrindo seu rosto, um cintilar sorridente em suas íris, enquanto ele se apoia sobre as mãos espalmadas no lençol para encarar Märkyg.

Meu bebê está deitado de bruços a alguns centímetros de meu rosto, e tenta a todo custo se apoiar sobres os próprios braços, manter a cabeça com cabelos pretos e ondulados levantada. A cada vez que seu rostinho cai contra o lençol, ouço um bufo molhado e o assisto encantada içar a cabeça, me encarando com um biquinho.

Sorrio, enquanto me pergunto como König conseguiu deixar o cabelo da criança em um estado tão bagunçado, como se um tornado houvesse lhe coroado.

Por falar em König, meus olhos caem sobre ele com mais atenção, e a cada milímetro de pele que meus olhos inspecionam, mais prendo minha respiração, minhas sobrancelhas quase ultrapassando minha testa.

Parece que alguém jogou um gato raivoso de garras afiadas em seu peito, e depois jogou água gelada no bicho; as finas marcas vermelhas são salientes e competem com suas cicatrizes para ver quem aparece mais.

Cometo o erro de olhar minhas unhas, meu coração erra uma batida quando vejo que há sangue e fragmentos de pele sob elas. Quem diria que unhas tão pequenas, fariam tanto estrago.

Encaro Kön, um sorriso pequeno tentando aparecer; até que seu peitoral fica mais bonito desse jeito.

Falho em ignorar a pontada de possessividade que aparece de repente, causada pelo conceito de tê-lo "marcado".

— Bom dia, Yve. — Diz, mas olha para o pulso – que não tem nenhum relógio – e faz um "tisc". — Quer dizer, boa madrugada.

Eu bocejo outra vez, tapando minha boca com minha palma, e sorrio preguiçosamente para ele, enquanto deixo Märk agarrar um de meus dedos.

— Boa madrugada, Kön.

Minhas pupilas permanecem cravados às suas numa conversa silenciosa, que não sei o que significa, mas mantenho por achar muito bom o encarar logo cedo. Até que num estalo, ele parece entender algo, mas não me conta o que é, somente se debruça ainda mais.

Um dos braços serve como sua sustentação, enquanto uma das mãos agarra a ponta curva do véu, que König levanta ao passo que se aproxima.

Num ato que me surpreende, Kön me dá um selinho terno, e posso ver de relance o sorriso que curva seus lábios macios e machucados, enquanto ele se afasta.

— Agora, sim. — Ele senta com as pernas cruzadas, pegando o pequeno que está com o rosto colado no lençol, deitado sobre minha mão aberta, e o trazendo para ficar aprisionado em meio ao seu colo. — Boa madrugada, Yve.

𝟺𝟾 𝙷𝙾𝚁𝙰𝚂 𝙴𝙽𝚃𝚁𝙴 𝙰𝚂 𝙰𝚁𝙴𝙸𝙰𝚂 𝙳𝙴 𝚃𝙰𝚁𝙰𝚀.Onde histórias criam vida. Descubra agora