Capítulo IV: Risadinha Sem Contexto.

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Meus passos são lentos enquanto entro, tudo está tão silencioso que me assusto quando a porta se fecha e a chave é virada, nos deixando trancados na sala. Olho ao redor, o lugar é desprovido de qualquer decoração, há apenas uma mesa com dois lugares e um sofá perto da porta, além de um pequeno armário coberto pela farda, capacete e braçadeiras de König.

König puxa uma cadeira para mim, seu peito roça em minhas costas quando o faz, um passo para trás e estaríamos colados; Kön espera eu me sentar para fazer o mesmo logo depois, me encarando de braços cruzados.

O lugar é arejado apesar de não ter janelas, um pequeno frasco branco de difusor está plugado na tomada na parede e esparge a substância amarronzada que deixa o ar cheirando a cravo e a canela.

O aroma é doce e ardente ao contato de minhas narinas, porém não o bastante para que meus olhos lacrimejem.

Minha respiração está pesada, não consigo sustentar seu olhar por mais do que alguns segundos, meu corpo se arrepia toda a vez que meus dedos dos pés roçam os seus sob a mesa.

Não faço ideia do que dizer, ainda que tenha pensado em algo enquanto vinha, então continuo brincando com meus dedos, os batucando no tampo da mesa.

Fala logo, isso nem é grande coisa. O que você tem a perder pra estar desse jeito?

Engulo em seco, meu coração bate mais rápido, umedeço meus lábios, e então o encaro, meus lábios entreabertos. O cômodo parece esquentar terrivelmente mais quando seus olhos quase cerrados enfrentam os meus.

Seu peito largo coberto com cicatrizes variadas, desde as finas até algumas que me fazem pensar que sua reputação faz jus a ele, sobre e desce devagar, os músculos retesados sob a pele branca bronzeada de uma maneira hipnotizante.

Respiro fundo e depois de algumas tentativas, minha voz enfim sai.

— Obrigada... por me ajudar hoje. Por tudo. — Digo, me achando tola por enrolar para falar algo tão simples quanto aquilo.

— Não precisa me agradecer. — Suas íris cintilam no que parece um sorriso. — Porque ficou estranha depois de saber que eu sou um Operador?

Precisava ser tão direto, porra!?

Eu me encolho, deixando que minha testa caia na madeira, um gemido envergonhado me escapando. Sinto algo macio roçar a sola de meu pé, piso devagar, sentindo o material fofo, parecido com uma almofada pequena.

— É que sou meio que uma fã de vocês, dos Operadores — Eu suspiro, e escolho as palavras que não vão me deixar parecer ainda mais estranha. —, do trabalho de vocês, e fiquei um pouco fora da casinha quando percebi a pisada de bola que dei hoje.

König ri baixinho, me encolho ainda mais.

— Que pisada de bola você deu, Yve?

Aponto um dedo para ele, levantando meu rosto para encarar o motivo de meu pequeno surto.

— Você, ué.

— Eu? — Parece realmente surpreso, espalma uma mão sobre o próprio peito.

— Sim, deixei você me ver naquela situação deplorável hoje mais cedo, depois te levei pra minha casa... eu te usei como cadeira, homem!

A gargalhada que escapa de König é um som realmente bonito, ele ri balançando um pouco os ombros, jogando a cabeça para trás, e o som me lembra um "trovão" não tão ameaçador, suave, quase fofo e que me dá vontade de sorrir, para ser mais exata.

— Você não me usou como cadeira! — Ele me encara, de repente parece que o riso se foi de seus olhos. — Mas se...

Ouço quando começa a falar algo, mas não termina, e balança a cabeça algumas vezes como se quisesse expulsar aquilo. Seus olhos esverdeados escurecem e seus músculos parecem retesar.

𝟺𝟾 𝙷𝙾𝚁𝙰𝚂 𝙴𝙽𝚃𝚁𝙴 𝙰𝚂 𝙰𝚁𝙴𝙸𝙰𝚂 𝙳𝙴 𝚃𝙰𝚁𝙰𝚀.Onde histórias criam vida. Descubra agora